terça-feira, 29 de novembro de 2005

CRÍTICA: WOLF CREEK / Matador de esperança

Eu queria ver “Brokeback Mountain”, eu queria ver “Capote”, mas como já é tradição indicado ao Oscar passar longe de Joinville, lá fui eu aturar “Wolf Creek – Viagem ao Inferno”. Agora, espero não ser apedrejada por isso, mas gostei desse filme australiano de baixíssimo orçamento. Acho que o público em geral não seguirá minha opinião, e ficará tão revoltado com “WC” quanto ficou com “Mar Aberto”. É compreensível. Mas esse programa de cinema já vale o ingresso só pra estudar o que o esmagamento da esperança faz com uma platéia.

Nem sei o que falar sobre “WC” e não entregar a trama. Recomendo que você vá vê-lo sem saber nadinha. Mas é o seguinte: duas moças inglesas e um australiano andam de carro pela deserto da Austrália até chegar ao Parque Nacional de Wolf Creek, onde há uma enorme cratera criada por meteorito. Apesar do meu entusiasmo por aventuras, se me contassem que pra chegar lá teria que dirigir uma pá de dias e andar montes de horas, eu diria, “Não tem uma National Geographic com as fotos?”. Mas o trio é jovem. Nos primeiros quarenta minutos só isso acontece, ou seja, quase nada. Daí o carro deles enguiça, eles aceitam ajuda de um homem que lembra o Crocodilo Dundee, vão dormir e quando acordam “WC” já é um filme radicalmente diferente. Por mim, eu dava a esse terror que não é terror o Prêmio de Pior Incentivo ao Turismo Australiano Já Visto no Cinema. Dizem que foi baseado em fatos reais, numa onda de assassinatos de mochileiros por serial killer(s) na década de 80 e 90. Mas isso é estranho, porque quem sobrevive não vê grande coisa.

Enfim, a gente tá acostumada demais com filme americano, onde os mocinhos sofrem mas vencem, e os vilões aprontam mas perdem, e no final são sadicamente recompensados com a pena de morte. Quando isso não ocorre é frustrante. A gente se esquece que o cinema de outros países não tem o pudor de Hollywood. Sempre me lembro de um filminho australiano que passava na TV em que um bando de assassinos invadia uma escola. Crianças eram trucidadas no caminho e, no fim, a meiga professorinha e seus pupilos trucidavam seus algozes. Pois é, “WC” tampouco é material de cinemão. Quem vai querendo se assustar vai se decepcionar legal. Aqui não tem música de prender respiração, ou cortes abruptos do horror panelaço. Uma moça até vai ao banheiro e se olha no espelho sem que um cadáver apareça no cantinho. Ainda assim, chegou uma hora em que eu tava dialogando com o filme, gritando pra tela, meio histérica, “Não! Não! Não vai aí! Cuidado!”. rica, ssim, chegou uma hora em que eu tava dialogando com o filme, gritando pra tela, meio histlgozes.

Prum filme causar essa reação numa veterana do terror (não gostei das implicações da palavra veterana), é porque ele funciona. Pertence ao gênero “o que você faria numa situação difícil dessas?” Eu certamente não jogaria caminhão de penhasco nem ficaria analisando câmeras de filmar. Mas o trio não é bobinho. Tudo em, parte do público caiu de dar risada quando nossas expectativas são contrariadas, uma por uma. De minha parte só posso dizer que fazia tempo que não torcia tanto pela sobrevivência da espécie. E que o assassino me apavorou mais que o Hannibal Canibal. “WC” é a estréia de um tal de Greg McLean, assim como o ótimo “A Morte Pede Carona” era a estréia de um diretor que já foi talentoso, o Robert Harmon. Se você quer minha aposta, tamos aí: “WC” vai virar cult. É o tipo de história que penetra nos nossos pesadelos. Olha, conheço várias pessoas que amam “Jogos Mortais” (eu até apreciei o primeiro). Mas lá temos diversos personagens descartáveis e um cara muito sádico. Em “WC” só temos o sádico. Que mata qualquer esperança.

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