segunda-feira, 28 de novembro de 2005

CRÍTICA: O EXORCISMO DE EMILY ROSE e E SE FOSSE VERDADE / O exorcismo de Reese Colher

Certo, você pode achar que tô escrevendo sobre dois filmes num mesmo texto porque não conseguiria dedicar uma crítica inteira a cada um. Engano seu. Minha prolixidade não tem limites. É que “O Exorcismo de Emily Rose” e “E Se Fosse Verdade” são irmãos gêmeos, mórbida semelhança. Tá, o primeiro é mezzo terror, mezzo filme de tribunal (falha nos dois quesitos), e o segundo é uma comédia romântica. Mas o fio condutor é parecido: ambos lidam com o sobrenatural, mostram que a religião dá de dez na ciência, e são meio fraquinhos das idéias. Por exemplo, você já reparou que o demônio só habita o corpo de quem é extremamente religioso? Falei pro maridão que nessas horas fico muito feliz em não ser religiosa, porque assim não corro o mínimo risco de ser possuída. Aí complementei com olhar lascivo, “Quero dizer, só por você, amor. E no Natal”. É chato confessar essas coisas em público. Da última vez que revelei minha falta de religiosidade passei a receber emails piores do que aqueles com palavrões dos fãs de “Senhor dos Anéis”. Até hoje chegam mensagens com pensamentos do dia de algum santo aí, ou de pessoas pedindo pra eu ficar calma, porque estão orando pela minha alma.

“Exorcismo” trata de uma moça que morre durante um exorcismo frustrado, e do padre responsável que vai a julgamento. O padre é um santo homem, a possuída é uma santa mulher em seus raros momentos de não-possessão, e só os advogados são, bem, advogados. Logo logo a Laura Linney (de “Truman Show”), que defende o padre, enfrentará ocorrências terríveis, como acordar todo dia às três da madruga. Meus gatos me acordam lá pelas cinco e nem por isso desconfio que o demo tá por trás dessa maldade. Se bem que tem uma cena ridícula em “Xô Satanás”, quando os gatos da família atacam o padre. Fiquei pensando nos meus felinos. Imagina só, tem alguma histérica gritando e levitando, um monte de gente meio que batendo na histérica, e os gatinhos vão ficar lá perto? Jamais! Os meus já teriam se mudado de casa desde que a primeira cruz na parede vira de cabeça pra baixo. E mal posso esperar a advertência num remédio pra epilepsia: “Contra-indicado em casos de possessão demoníaca”. Pelo jeito só as mulheres sofrem disso, porque parece que Satã é muito macho. O demo é macho, os exorcistas são machos, as vítimas possuídas são sempre mulheres. Ahn, soa típico pra você também?

Possessão é fichinha perto da ameaça de “E Se Fosse Verdade”: topar com o fantasma da Reese Witherspoon (“Legalmente Loira”) no seu apartamento. A Reese, cujo sobrenome significa algo como Secar Colher numa tradução livre, até agora só fez um filme decente, “Eleição”. Com sua cara de virgem aos trinta anos, ela forma o par ideal com o Mark Ruffalo e sua cara de meia dupla sertaneja. O filme não é tão lamentável como estou deixando transparecer. É até bonitinho, e quem adora “Ghost” vai gostar. Mas torço pra que uma comédia dessas não faça sucesso, porque as doações de órgãos cairiam pela metade. Se a moda pega, vão seqüestrar mulheres em coma com propósitos necrófilos (coisa que o Taranta já fantasiou em “Kill Bill”). Aliás, ainda bem que “E Se Fosse” foi feito depois que o marido conseguiu ganhar na justiça o direito de desligar os aparelhos da esposa que tava em coma há décadas. Senão, lá viria a direita cristã afirmar: “Tão vendo? A Terry Schiavo pode estar imóvel sorrindo naquela cama, mas o espírito dela continua vivíssimo”.

Há uma cena ótima na comédia, quando Mark e Reese vão a um restaurante onde tem um homem morrendo. A Reese passa pro Mark as instruções de como salvar a vida do cara. Ele tem que furá-lo. Não sei o que me assustou mais nessa cena, se foi o Mark com uma faca ou a Reese atuando como médica. Mas o que gosto mesmo é como um paisagista desempregado consegue montar um jardim do Éden super caro em dez minutos. Em seu favor, o filme não condena uma gostosona que quer transar com o herói. Já é menos moralista que a maioria, né? Se fosse outra produção, a moça sofreria uma morte horrível por tentar uma pobre alma, ou no mínimo teria que ser exorcizada.

Chega uma hora em “Exorcismo” que o padre transmite um recado pra mim: diabos existem, quer a gente acredite neles ou não. Bom, diabos são um pouco como a Reese Colher. Pode ser que existam, mas eles não chegam muito perto pra incomodar uma incrédula como eu. Graças a Deus.

2 comentários:

Marivone disse...

Em minha cabeça, resumi o problema da Emily no seguinte: ela não conseguiu lidar com o ateísmo na universidade e seu próprio cérebro transtornado causou aquilo tudo. Simples assim. Alguém já usou 100% do cérebro? Não. Então, vai ver que Emily teve um transtorno louco e acabou vendo coisas demais...Alguém analisou o corpo dela direitinho após a morte? Não, né? O diabo pra mim só existe dentro das próprias pessoas e naquilo que elas querem externar. Batata.

O falatório em latim é comum nessas comunidades americanas religiosas super afastadas, em caso de você ou alguém comentar.

Por fim, cresci e nem Neil Gaiman, que amo de paixão, me convence de que deuses existem! ;)

Ah, sabia que a Reese largou medicina para ser atriz? Pois é... hauhauhau

;)

Vaneza S. disse...

Por que a "meia cara de dupla sertaneja"? Explica a piada para mim, Lola!