segunda-feira, 26 de novembro de 2001

CRÍTICA: DR T E AS MULHERES / O Richard é um Dr. T; a Helen, uma mala

Em ordem alfabética: caçadas, ginecologista, golfe, Helen Hunt e Texas – realmente não há nada de muito atraente em "Dr. T e as Mulheres". Certo, o Richard Gere tá lá e ele é um doutor tesão. Mesmo com todos aqueles pés de galinha, ele ainda dá um bom caldo. O problema é que o filme é bonitinho mas ordinário e não diz a que veio. Não é comédia, não é drama, e, desculpe decepcioná-la(o): apesar do título, não é pornô.
Resumirei a estória. Dr. T é um médico cercado por mulheres. Sua esposa enlouqueceu; sua filha vai casar mas tem uma queda por uma amiga; seu badalado consultório vive recheado de peruas; e ele se apaixona pela instrutora de golfe, interpretada por quem? Ganha um doce quem descobrir. Tan tan tan tan: a Helen, nossa velha conhecida. Estou implicando com a Helen porque depois d’ela bolinar o Tom (Hanks, não o Cruise, graças a Deus), o Mel e o Kevin (Spacey, não o Costner, se bem que ela não tinha uma ponta em "O Mensageiro"?), ela agora seduz o Richard. Por que ela não vai assediar o Sean Connery e deixa o pessoal mais jovem pra mim? Em represália, decidi contar toda a verdade sobre a Helen. Sério. Ela ganhou o Oscar por "Melhor é Impossível", onde arrasou. Só que sabe quem foi a primeira escolha para o papel? A Holly Hunter (de "Nos Bastidores da Notícia" e "O Piano"), que também estaria perfeita. A Holly recusou o filme porque não quis receber um terço do cachê do Jack Nicholson. A Helen aceitou, virou estrela, e hoje está aí, atacando os melhores pedaços de Hollywood.
É pura inveja minha, claro, pois a Helen nem chega a atrapalhar "Dr. T". O que não falta no filme é loira. Dá a impressão que o mundo oxigenou. Nunca vi tanto cabelo claro por metro quadrado. A rigor, a única personagem não-loira é uma lésbica. A mulherada toda usa casaco de peles, jóias e silicone. Tem bastante gente famosa, mas eu ficava confundindo as atrizes porque elas pareciam saídas do mesmo molde. Aí, lá pelas tantas, o Richard diz que não existem duas mulheres iguais. Ué? Até entendo que ele consiga identificar a Helen, né, pelo nariz, mas as outras são idênticas. Ajudaria se elas usassem crachá.
Ou talvez eu não tenha empatizado com o filme por causa da profissão do Richard. Ele é ginecologista, e eu não gosto muito de mulher, sabe como é. Se ele fosse veterinário, aí sim. E a gente ainda daria um jeito de encaixar a Helen.
Agora, prepare-se para a verdade sobre o diretor de "Dr. T". Não existe verdade absoluta, então é mais uma opinião: o Robert Altman é superestimado. O cara foi mezzo importante, fez coisas boas como "Cerimônia de Casamento" e "Short Cuts", e desastres como "Prêt-à-Porter". Tem crítico que baba por "Mash" e "Nashville", mas esta que vos fala não é uma dessas. Portanto, é só fazer um balanço geral pra descobrir que Altman não é o rei da cocada preta. Mas existe um monte de astro que trabalha de graça pra ele. Em "Dr. T", ele reuniu a Farrah Fawcett, Liv Tyler, Laura Dern, Kate Hudson, e o arroz de festa Helen. Ainda que algumas não façam parte do primeiro time, não é um elenco nada desprezível.
Aí, no final das filmagens, o Altman deve ter pensado: é, o resultado tá legalzinho, mas banal. O que posso fazer para fingir que sou avant-garde e diferenciar esta produção das demais? Deu um estalo na cabeça dele e ele incluiu uma cena extremamente gráfica de um parto. Parto, ginecologista, não vejo apelação, dirá você. Tudo bem, mas se eu quisesse ver um parto, eu pegaria o vídeo caseiro do meu vizinho, que insiste que eu assista à hora e meia do nascimento de sua filha. Eu sempre respondo, educadamente, que prefiro uma lobotomia. Acho que ele não sabe o que é, pois ele entende a palavra como uma deixa para começar a falar de cães. E eu me safo.
Ah, no fim de "Dr. T" tem também um furacão perdido no filme. Imagino tratar-se de uma homenagem à Helen, cujo primeiro grande papel no cinema foi em "Twister". Se dependesse de mim, eu homenagearia o Richard com cenas picantes de "Gigolô Americano"...

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