quinta-feira, 30 de novembro de 2006

CRÍTICA: PEQUENA MISS SUNSHINE / Pequeno grande filme

Finalmente vi “Pequena Miss Sunshine”, só que teve que ser num DVD pirata que alguém me mandou, já que o filme não vai chegar aqui mesmo. E adorei. Eu ri, eu chorei. Ri muito mais do que chorei, pra falar a verdade. Deve ser a melhor comédia do ano passado, e claramente um dos melhores filmes, junto com “Volver” e “Filhos da Esperança” (e também gostei muito de “Os Infiltrados” e “O Grande Truque”; tô esquecendo algum?). Merece todas as quatro indicações ao Oscar. Antes de vê-lo, duvidava que “Sunshine” pudesse repetir o feito de “Crash” e levar a estatueta de melhor filme. Mas agora... É um pequeno grande filme, o único “feel good movie” entre os cinco, desses que elevam nosso espírito e fazem bem à alma. É praticamente impossível não se deixar cativar. Sabe o clássico dos anos 70, “Ensina-me a Viver”? Acho tão bom quanto.

Um resumo pra quem ainda não teve a chance de se engraçar com “Sunshine”. Uma família viaja vários quilômetros numa van quebrada pra levar a filha caçula para participar de um concurso de miss mirim. Dentro vão o pai, Greg Kinnear (de “Melhor é Impossível”), um desses americanos pra quem o pior insulto na vida é “perdedor”; a mãe, Toni Collette (mãe também em “O Sexto Sentido” e “Um Grande Garoto”), que mantém a família unida; o avô, Alan Arkin (o embaixador americano de “O Que é Isso, Companheiro?”), viciado em heroína e revistas pornôs; o tio, Steve Carell (de “O Virgem de 40 Anos”, que eu não gostei muito mas ri um pouquinho, e aquele um que rouba a cena do Jim Carrey em “Todo Poderoso” como âncora), um acadêmico que acabou de tentar suicídio; e os dois filhos do casal, um adolescente, Paul Dano (nenhuma referência me diz nada), que fez voto de silêncio e afirma odiar todo mundo, e uma menininha de sete anos, Abigail Breslin (acredite se quiser, a filha do Mel Gibson em “Sinais”, aqui num papel mais interessante do que ser comida de alienígenas fascinados pelo milharal do Mel). O elenco todo tá tão bem que faz a gente querer que o Oscar invente uma nova categoria, a de uma estatueta pra melhor elenco, sem destacar um ator em particular. Talvez quem eu tenha gostado mais tenha sido o Steve Carell, divertidíssimo e até sexy atrás da barba e dos olhos que julgam tudo, mas é difícil dizer. Todos estão fantásticos. Inclusive a garotinha fazendo o perigoso papel de ser criança num filme americano, onde todas as crianças são gênios e gracinhas. Ela é uma gracinha mesmo, muito espontânea, e deve ser a segunda favorita na competição pro Oscar de atriz coadjuvante. O Alan Arkin concorre também, e deve ganhar se o Eddie Murphy não levar. Aposto como o Alan foi indicado pela bela cena em que ele ensina a netinha a rosnar.

Mas ser ótimo ator não vale muito se o roteiro não ajuda (vide “A Grande Família”, só pra ficar num exemplo recente). E no caso de “Sunshine”, cogito uma revolta sangrenta durante a cerimônia se a comédia não ganhar o Oscar de melhor roteiro original (já que “Volver” sequer foi indicado). O incrível é que este é o primeiro roteiro do Michael Arndt, assim como a primeira investida na direção do casal Jonathan Dayton e Valerie Faris, que até então só dirigia clips musicais. Os três conseguiram construir figuras adoráveis, embora repletas de problemas. Desde o começo eu me apaixonei por todos os personagens, até o do Greg, que é insuportável. Gosto desses filmes praticamente sem vilões, em que ninguém é só bonzinho ou só malvado. Bom, talvez haja duas mulheres que ficam com uma pecha mais de vilãs e poderiam ser suavizadas um tiquinho: a do hospital e uma das organizadoras do concurso.

E, claro, desnecessário dizer que “Sunshine” joga no lixo esses concursos de beleza e toda a obsessão competitiva dos americanos. Quiçá o tema seja mesmo aquele levantado pelo adolescente, de que a vida inteira é um concurso de beleza, um após o outro (adoro a cena em que ele escreve no seu caderninho “Abrace a mamãe”). Mas até o concurso é tratado com certa delicadeza. Tudo bem, é um freak show cheio de mães desesperadas, pedófilos disfarçados, e meninas que vão crescer pra se tornar a Reese Witherspoon do ótimo “Eleição”. Mas a gente adora a Abigail, e não a condena por querer participar. E todos na família se esforçam pra que ela chegue lá. O que ela faz no seu show de talento me fez rir em voz alta e acordar o maridão, que dormia ruidosamente ao meu lado (ele não conseguiu nem ver os créditos iniciais, então acho que a culpa não é do filme).

Enfim, ainda não decidi se vou apostar em “Sunshine” no meu tradicional bolão do Oscar (faça o favor de participar), mas certamente já tenho pra quem torcer.

3 comentários:

Bárbara Reis disse...

Eu estou tentando ver esse filme.

Eu o tenho em casa, já tentei ver umas 4 vezes, e simplesmente não consigo.

A última tentativa foi sábado depois de trabalhar 10hrs seguidas...cheguei em casa 00h, tentei ver o filme, e adivinha? Capotei no sofá abraçada com o Nando [o gato]. HAHAHA...

Eu tava decidida a desistir, mas li sua critica... e vou tentar pela ultima vez. HAHAHA

:***

Patrick disse...

Eu gostei muito de Pequena Miss Sunshine :)

pilgerowski disse...

Tem uma coisa que me incomoda violentamente em Pequena Miss Sunshine e que praticamente não vejo comentado: que diabos de dança é aquela que o avô ensinou para a neta? E aquelas roupas? Ok, para a menina em sua inocência está tudo ok mas e os pais que olham aquilo e nem param para pensar se o velhinho não poderia de alguma forma ter abusado da neta?