segunda-feira, 28 de abril de 2008

SOMOS NACOS DE CARNE NUM AÇOUGUE

Pra ser sincera, pouca gente fala comigo sobre eu ser gorda. Ok, teve o vendedor sem simancol de Herbalife, teve dois rapazinhos num shopping, que passaram por mim e sussurraram “Gorda”, quase inaudivelmente, pra eu não poder ter certeza e revidar; tem a minha família, que pra não falar de gordura fala de saúde, tem todas as mulheres do mundo que parecem que só falam em dieta, mas nesse caso não é pessoal, e tem quem já perguntou se eu tava grávida. Conheço mulheres mais gordas que eu que sofrem mais abuso e que não podem nem comer em público sem que uma multidão aponte pra elas e acuse: “Tá vendo porque ela é gorda? Ela come!”. A Renata e outras moças já relataram coisas parecidas por serem muito magras. O fato é que, se isso acontece com homens gordos ou muito magros, é em escala infinitamente menor. E por uma razão simples: porque homens não são avaliados unicamente por sua aparência. E porque a sociedade sente-se um tiquinho constrangida em chegar prum cara e, do nada, discorrer sobre sua forma física. Mas com as mulheres isso é corriqueiro. Somos nacos de carne pendurados num açougue, prontos pra escutar passivamente inúmeras críticas a nosso respeito. Qualquer estranho pode passar e opinar. Qualquer operário de obra pode assobiar sua aprovação. Qualquer grupinho de rapazes pode discutir, na nossa frente, “Você pegaria essa?”. Estamos às ordens. Pelo jeito, Deus nos criou da costela de um ser superior feito a sua imagem e semelhança pra isso mesmo. Mas não devemos nos sentir mal. Jesus nos ama.

Não, o que eu ouço bastante é sobre as minhas olheiras. Que eu saiba, posso ter sido a única criança no universo com olheiras. Sempre as tive, e nunca dei muita bola, embora elas estejam associadas a doenças, ressaca e a dormir mal. E eu sou saudável, não bebo nem nunca bebi, e durmo minhas sete horinhas por noite. Quando me olho no espelho mal noto esses círculos escuros embaixo dos olhos. Mas as pessoas fazem questão de me lembrar. Uma vez foi até bonito: um amigo escritor referiu-se a elas como “olheiras de Capitu”. Quase encarei como um elogio. Noutra ocasião uma menininha quis saber, genuinamente curiosa, o que eram essas manchas. Até aí, normal. Mas quando se junta um comitê pra analisar minhas olheiras, eu não acho legal. Ou quando um carinha na pós interrompe minha conversa com uma professora, na escada, pra perguntar: “Puxa, isso é real ou é maquiagem?!”. Aí eu fico meio revoltada, sabe?

Moi, precisando urgentemente pintar os cabelos, com olheiras, sem maquiagem ou fotoshop, que nem sei como funcionam essas coisas.


É estranho, porque se um comitê de avaliação se reúne pra decidir se meus olhos são azuis ou verdes (obviamente são verdes; nunca vi meus olhos azuis na vida), eu não me estresso. Mesmo se o comitê insiste que sou daltônica e não reconheço a cor dos meus próprios olhos. Mas, claro, olhos claros são valorizados numa cultura em que moças de cabelos crespos são condicionadas a só gostar de cabelo liso. E olheiras não são valorizadas, a menos que eu tivesse nascido panda ou guaxinim.

Mas por que eu não uso maquiagem pra esconder minhas olheiras? Ou, melhor, por que não uso maquiagem, ponto? Porque nunca gostei. Porque me incomoda profundamente, como feminista, ter que gastar tempo e dinheiro fazendo uma coisa que os homens não têm que fazer. Pensa só: o único instante em que é socialmente aceitável prum homem se maquiar é se ele é ator ou modelo, profissões em que a aparência conta. Mas mulheres estão sempre no palco, na passarela – ou no açougue. Lembra do que nos ensinam as revistas femininas, né? A gente deve se arrumar até pra ir à padaria. Como aparência conta sempre pra mulher, talvez seja aceitável pruma profissional não se maquiar se ela usar um escafandro e tiver que ficar embaixo d'água 16 horas por dia. Talvez.

Eu me recordo bem de uma vez em que era adolescente e fui fazer um mini-curso de Ciência Política em Washington. Dividi o quarto com uma americana, que acordava duas horas antes do necessário pra se arrumar e maquiar. Pô, ela tinha 19 anos! E era havaiana, vinha de uma cultura com mais sol, mais praia, o que combina menos ainda com maquiagem. Nunca entendi o que o seu rosto tinha de tão terrível que precisasse ser escondido. Por que isso é tão comum entre nós, mulheres ocidentais, mas achamos opressor que muçulmanas tenham que cobrir seus rostos com véus? Por que ficamos horrorizadas com as histórias de africanas que têm seu clitoris extirpado para não permitir prazer, mas compramos revistas femininas que ensinam como devemos nos posicionar durante o ato sexual pra disfarçar gordurinhas e seios flácidos? Difícil ter prazer sem clitoris, assim como é difícil ter prazer quando a gente se detesta full time.

Mas que bom que Jesus nos ama. Porque, tirando ele, não sobra muita gente.

26 comentários:

Anônimo disse...

Perfeito, mesmo, adorei esse post. Eu até escrevi um post um dia desses, pq eu tb não tenho hábito de salão, essas coisas, gosto do meu tempo gasto em outras coisas, mas dia desses fui, ai veio um monte de gente dizer que eu fiquei mais feminina. Nossa, mas eu acho isso uma definição tão pobre de feminilidade, um esmalte vermelho e uma escova no cabelo me tornam mais feminina? Quer dizer, mais palatável como peça de carne no açougue, né? Abraços.Vou linkar esse post.

Renata disse...

Poxa Lola, adoro seus posts! Especialmente esses reflexivos.
Não sei por que é tão difícil pra algumas pessoas verem que as mulheres ainda sofrem muito com esse tipo de opressão. Eu já ouvi muitos comentários como os da nalu, quando eu vou a uma festa e me arrumo um pouco mais ortodoxamente as pessoas me acham mais feminina. Ironicamente, eu tinha um problema com isso antes de me assumir, detestava usar vestidos e coisas do tipo, mas depois que eu me aceitei, também fiquei à vontade com a MINHA feminilidade. E pra falar a vontade, hoje em dia me considero bem feminina, o que os outros acham a respeito disso não me interessa nem um pouco porque minha condição de me sentir mulher está super bem resolvida.

Eu também acho absurdo acordar mais cedo pra se arrumar... c'mon, você poderia estar dormindo!

Um abraço!

lola aronovich disse...

Obrigada, Nalu. É, eu também acho uma definição muito pobre da nossa feminilidade, mas todas as nossas definições se baseiam em coisas muito pobres. Inclusive as definições pra "o que é ser homem" também são horríveis. O melhor seria deixar de lado as definições, mas como?
Ah, tá rolando mais comentário interessante no post sobre "Divagações, Cabelo, Racismo".

lola aronovich disse...

Oi, Rê, respondi pra Nalu e aí apareceu o seu comentário. Obrigada vc também. Bom, pelo pouco que conheço, sei que se assumir como homossexual não é nada fácil. Ainda há uma barreira social imensa aí, e muitas pessoas passam a vida toda no armário. Mas, talvez, uma vez que vc se assume, deve dar uma liberdade bem grande, né? Porque vc se livra de pelo menos uma definição imposta. Daí pra ser livrar de outras deve ficar mais fácil. Não tô dizendo pra todas as mulheres virarem lésbicas nem nada, até porque, se pras lésbicas a orientação sexual é algo inevitável, da sua natureza, parece que nasce assim, pras mulheres heteros também é. Mas suponho que lésbicas lidem melhor com os mitos da beleza, com a opressão feminina, com as questões da feminilidade, por já terem se livrado de algumas imposições. Assim como pros homens gays a questão da masculinidade talvez não esteja tão ligada à violência, por exemplo.
Sei lá, eu nunca tive dúvidas sobre a minha feminilidade. Nunca me vi masculinizada. E olha que não uso maquiagem, jóias, salto alto, e sou a única mulher que conheço que não tem orelha furada e nunca pintou as unhas na vida. Ah, e adorava jogar futebol na juventude. Nesse ponto sou muito bem resolvida, e tenho orgulho disso. Já na parte da aceitação do corpo...

Anônimo disse...

Tentarei adaptar a Lolinha aos padrões estereotipados de beleza e depois mando hahahahaha vamos ao photosho agora, tentarei me conter em não transforma-la em um monstro devido as ofensas...

O maridão volta a ser o idolo e a Lola por consequencia EHUEAhuEA altera-se o mundo...


flw

lola aronovich disse...

O Pedrinho mode-on fez as pazes e voltou a falar comigo?! Yupppppppi! E sobre o Photoshop no meu rosto, fala a verdade: eu sou linda, nao tem o que consertar...

Nita disse...

Acordar duas horas antes para fazer maquiagem?
Olha, eu tenho meus momentos, nossa, quero me arrumar, mas acordar todos os dias duas horas mais cedo para se maquiar já é demais para a minha cabeça. Confesso que para ir trabalhar todos os dias eu prendo o cabelo para não ter que pentear ele.
Eu sou vaidosa, mas quando eu quero, nõa para ir trabalhar, ou para a escola. Meu Deus.
E adoro esses seus posts.

Paula disse...

Grande de post Lola. No segundo grau estudei em um colégio em que as garotas eram muito bonitas, mistura de genética européia e dinheiro. Sempre fui meio alheia a essas histórias todas de make up e afins e achava o fim da picada aquelas garotas todas alisadas, maquiadas e 24h gostosas as 7 da manhã (ou da noite). Tenha dó. Será que alguém as reconheceria na segunda de manhã? Como as gurias, tb sempre ouvi os comentários do tipo "milagre, tu passou rímel, até parece uma garota". No fim, praticava uma desarrumação de guerrilha. Dai, como a gte cresce e crescer é muito bacana, entrei na faculdade onde as gurias usavam 44/42 e era normal, não o suprasumo da gordura e desencanei de vez. Se arrumar ou não deveria ser uma questã de opção, não prerrogativa pra ser aceita como mulher.

Lolla disse...

eu nunca tive saco pra maquiagem, para horror das minhas amiguinhas. mas também, eu tinha 18 anos e era gatchinha, haha. hoje em dia adoro, mas que compro principalmente porque acho as embalagens, os cheiros e as cores lindas. acabam saindo do prazo de validade com muito pouco uso. já perfumes eu AMO, minha memória é bem mais olfativa do que visual.

eu sempre tive olheiras também, e nunca gostei delas. me deixavam com cara de doente nas fotos e cansei de explicar às pessoas que SIM, EU DORMI MUITO BEM, OBRIGADA! hoje, quando tenho tempo e saco, uso corretivo. não sou muito "militante" nesse aspecto. sei perfeitamente que se trata de uma armadilha e me permito cair nela. você disse bem: alcatras no açougue, sim. mulheres sendo avaliadas pela cintura de pilão e pelos cabelos esvoaçantes; homens pelo modelo do carro e o número de vírgulas no saldo bancário. ê, mundo...

e eu NÃO ACREDITO que você não tenha percebido que seus olhos são azuis. :D

lola aronovich disse...

Obrigada, Nita. Imagina, se gastar um tempão no carro ou ônibus ou metrô ou andando já parece uma perda de tempo, o que dizer de gastar duas horas diárias se arrumando? É um tempo que não volta mais. Dá pra ser gasto em coisas mais úteis.
Concordo contigo, Paula. E tenho certeza que isso do pessoal elogiar mulheres que não costumam se arrumar acontece o tempo todo, com todo mundo. Comigo também. No fundo o pessoal tá dizendo: "Vc deveria se arrumar assim o tempo todo, como uma mulher deve se comportar". Não gosto que me dêem ordens, não. E isso que vc diz de "prerrogativa de mulher" me lembra as amigas que dizem que normalmente não se arrumam, mas PRECISAM se arrumar pra entrevista de emprego. Acho que essa exigência do mercado tá mais ligada à prerrogativa da mulher que a nossa aparência mesmo.

lola aronovich disse...

Lolla, eu até queria te perguntar: quantos anos vc tem? É que depois de ler seus posts antigos parece que vc já passou por tanta coisa... Fiquei curiosa. Ai, corretivo me dá um nervoso, sabe? Não gosto de colocar nada perto dos olhos, porque eu fico lembrando e coçando. Umas amiguinhas tentaram passar rímel nos meus cílios quando eu era adolescente, e eu lembro desse episódio como se fosse o da lavagem cerebral em Laranja Mecânica. De jeito nenhum alguém vai colocar coisas furantes tão perto dos meus olhos! Nunca! Aliás, deveria dizer "dos meus olhos VERDES", só pra reiterar. Entendo que eles até podem ter um leve tom azulado na foto. Deve ser a iluminação. Eles são verdes.

lola aronovich disse...

Aliás, Ju, vc taí? Obrigada pelo photoshop que fez da minha foto. Não há dúvida que ficou muuuuuuito melhor. Eu devia colocar no blog pra todo mundo ver o "before" and "after". Não dava pra tirar umas fofurinhas da minha cara também? E alisar o meu pescoço? E o cabelo ficou ótimo! Não seria fantástico se na vida real desse pra fazer um photoshop digital permanente? (tipo a Regina Duarte nas novelas).

Lolla disse...

haha, eu tava brincando - claro que os seus lindos olhos são verdes. tenho uma prima com o mesmo "problema"; de acordo com a luz e o ângulo de quem olha, os olhos mudam um pouco de cor. mas ela sabe que os dela são azuis, e ninguém melhor do que ela para tanto. :)

sobre o lance de se arrumar pra entrevista de emprego, eu lembro de ter ido a uma e ser humilhada pela mujer que me entrevistou. questionou minhas roupas (eu estava super bem vestidinha) e até meu penteado; eu estava de rabo de cavalo (janeiro, CALOR, né minha gente?) e ela perguntou se eu mantinha o cabelo preso porque ele era "rebelde". quase mostrei um ato de rebeldia pra ela. por fim, nem fui chamada pra entrevista final. e a amiga que me indicou disse que a vaca até reclamou com ela. segundo a tal, eu não tinha "perfil" de recepcionista bilingue (ou seja, não era loira).

hahaha, eu tô na faixa 25-30 mas foram anos bem recheados de acontecimentos (alguns fabulosos, outros traumáticos, mas todos memoráveis). e eu adoro rímel, só não gosto daquela coisinha pra alongá-los, que parece instrumento de tortura medieval.

lola aronovich disse...

Oi, Lolla, tô acostumada com a discussão sobre a cor dos meus olhos. Tem vezes que armam-se dois grupos e começam a debater seriamente! Eu geralmente interrompo dizendo: "Vcs não tem algo de mais importante pra discutir?". Mas eles me esquecem e continuam debatendo. É ridículo. E eu não consigo entender, porque nunca na vida vi meus olhos minimamente azuis. Anyway...
Pois é, isso de se arrumar pra entrevista de emprego é o fim. Lembro de um outro post seu em que vc foi a uma vaga perto da sua casa, em que pediam "moça de boa aparência", que é um código super racista. Não entra na minha cabecinha por que uma loira seria considerada mais "aceitável" ou mais bonita que uma negra. Porque tem tantos tipos diferentes de beleza... (ou melhor, deveria ter).
Me explica uma coisa. Tô perguntando de coração, por que essa experiência de blog é nova pra mim. Vc põe fotos suas, mas usa um pseudônimo como nome e não revela a idade. Vc tem medo de ser stalkeada? Como é que funciona essa proteção de privacidade, mesmo colocando foto? Ahn, vc acha que eu particularmente deveria me expor menos?

Lolla disse...

Lola, o seu caso é diferente, você já escreveu pra jornal e etc. Eu ainda tento manter um pouco do meu anonimato. De início fiz isso por não saber ainda "qual era a dessa coisa de internet". Depois porque já tive blogs muito visitados, onde emitia opiniões meio polêmicas, e existe doido pra tudo - até pra bater numa blogueira na rua. Eu já tive problemas sérios com stalkers, e nessa época dei GRAÇAS A DEUS por não usar nome real na net (o estrago poderia ter sido bem pior). Os arquivos dessa época eu não tenho mais, porque o tal blog pop foi hackeado e deletado.

Agora, morando nos cafundós do fim do mundo, eu tenho menos medo, haha. E depois eu estou bem mais calminha e menos polêmica, prefiro postar fotos de flores e discorrer sobre amenidades. ;)

lola aronovich disse...

É, Lolla, vi pelos seus posts antigos que vc se preocupa com stalkers. Mas é bom saber, viu? Eu tava pensando em mudar a minha senha, porque ela é bem simplezinha. Imagina um hacker vir aqui e deletar o meu blog inteiro? 700 posts?! O trabalhão que deu pra transferir umas 500 críticas de cinema do Lost Art pra cá (tudo manualmente tb, no copy and paste)?!
Ah, eu ainda escrevo pro jornal. Vc colocou minha vaguinha no passado! Mas já tive problemas sérios com gente que detestou o que escrevi. Já fui ameaçada de expulsão da faculdade. Colegas fizeram cartas e abaixo-assinado contra mim, um bafão. Nessas horas QUASE desejei ter pseudônimo, mas acho que tenho direito à liberdade de expressão. E também, do jeito que eu sou pessoal, meu pseudônimo não enganaria muita gente. Mas vc não acha que vc ter stalkers vem muito de vc ser jovem e linda? Não estou "blaming the victim", nada disso. Quero que os seus stalkers apodreçam no inferno. Mas sinto que o meu perfil (velhinha, casada) atraíria menos rapazinhos adolescentes sem nada pra fazer.
Bom saber que vc já teve blogs ainda mais visitados onde emitia opiniões ainda mais polêmicas! Ah, queria muito ler isso... Abração!

Lolla disse...

Mudar senha sempre é válido, já que sim, dá trabalho escrever nossas coisas ainda que ninguém nos pague por isso, e existe espírito de porco capaz de detonar um site just because he/she can.

Caramba. Expulsão da faculdade é sacanagem! O que diabos você escreveu pra motivar isso?? Haha. E olha, o meu stalker nada tinha a ver com a minha idade ou aparência, e sim com a inveja que a pessoa sentia de uma suposta popularidade de internet. E não era nenhum rapazinho, a arquiteta original era uma menina da minha idade. Tive problemas com rapazes floodando meus comments e me mandando vírus (tive que gastar o dinheiro suado que guardei pro show do roger waters pra consertar o PC...), mas não chegaram a esse ponto. :)

lola aronovich disse...

Ah é, eu é que não conheço as inúmeras maneiras que existem pra estragar o blog alheio. Imagino que floodar os comentários possa causar um belo estrago...
Ah, eu quase ter sido expulsa da faculdade merece um post. É que na época, uns 6 anos atrás, além das minhas crônicas de cinema, eu também publicava crônicas sobre meu cotidiano no jornal. Uma delas chamava-se "Estágio Sabor Abacaxi", e o pessoal não gostou nem um pouco. É uma longa história. Escreverei um post contando, porque é até engraçado.

Ale Picoli disse...

Não se sinta abandonada por não falar sobre ser gorda. Eu falo :)
Sou gorda também e costumo usar o termo "panda face" para os dias de exuberantes olheiras. É duro não poder simplesmente "ser" e ter que ficar explicando tudo: sou gorda porque... minhas olheiras são porque... ter que justificar tudo pra dizer que sim, sou saudável, SIM, sou feliz, SIM, tenho quem me ame. A maior parte das vezes eu gosto de explicar. É um jeito de marcar minha posição e talvez colocar uma sementinha de dúvida ou mudança na cabeça das outras pessoas. Mas tem dia que NÃO DÁ. É foda.

Julia disse...

Gostei do teu ponto de vista sobre tudo isso. Apesar de eu gostar de maquiagem e de pintar o cabelo (embora - surpresa! - eu seja loira e pinte de vermelho. Claro que sempre tem 100 retardados pra perguntar "por que que eu faço isso". Hã. Eu pinto o cabelo de vermelho porque gosto do cabelo vermelho e porque o cabelo originalmente loiro nasce na minha cabeça e eu, moça feita e inteligente, decido o que fazer com o que nasce na minha cabeça) sei bem o que tu quis dizer com isso. É realmente uma merda que a gente não "possa" se olhar no espelho e pensar: 1) gosto disso e 2) e daí? Devia haver um espelho que mostrasse o que tem na nossa cabeça, só que por dentro, aí sim eu entenderia essa loucura toda com o que se vê no reflexo. Eu sei que posso ficar muito contente com meu IMC 26, minha bunda grande e ser meio gordinha (porque sou muito baixa), mas é absurdamente difícil. O esforço que tenho que fazer pra não surtar porque comi mais de 150kcal (é, cento e cinqüenta, não escrevi errado, não) num dia é foda.

A propósito: belos olhos notoriamente verdes.

Ju Dacoregio disse...

Estou simplesmente amando seu blog. Pode não parecer, mas concordo com quase tudo que você diz e mesmo o que eu não faria, como deixar de me maquiar, me faz pensar.

Loy disse...

"Como aparência conta sempre pra mulher, talvez seja aceitável pruma profissional não se maquiar se ela usar um escafandro e tiver que ficar embaixo d'água 16 horas por dia. Talvez. "


Si, talvez. Você já reparou em reportagens falando sobre mulheres trabalhando em profissões "consideradas" """masculinas"""? Sempre termina em "ah, mas eu não descuido da maquiagem, do esmalte, da vaidade"...

A mulher sai do ringue de luta e perguntam para ela não a importância de se testar os proprios limites... Perguntam se ela usa esmalte embaixo da luva.

A mulher desce da retro escavadeira, acabou de derrubar vários metros de concreto... e querem ver se ela ainda gosta de batom.

A mulher acabou de fazer um treinamento de tiro e de resistencia física para ser policial... e perguntam se a tintura do cabelo é importante.

eu sempre quero dar socos, derrubar muros e dar uns pipocos pro alto quando vejo essas reportagens misóginas.

alias, por falar em misoginia disfarçada... já viu uma propaganda de escova de dente da Colgate? Que ela é uma escova super desenvolvida que vai viver uma aventura? Aparece uma escova mequetrefe com voz de mulherzinha, super impressionada com o desempenho da escova macho.

grrrrrr

Loy disse...

vc deve ouvir isso sempre, mas estou adorando seus textos. Sim, adorando, no gerúndio, porque vc é bem malvada e fica abrindo portas para outros textos inteligentes no meio de um texto já interessantissimo por si só.

estou perdida dentre abras e janelas abertas, todas ainda por ler.

Anônimo disse...

posso fazer um print dessa sua foto close-up e botar num porta retrato?

Fany Joker disse...

Primeiramente, fico feliz que eu não seja a única pessoa que acha que usar maquigem é fazer uma imagem surreal de si mesmo. No entanto, acredito no direito social de homens e mulheres usarem maquiagem sem o direito do homem ser tachado de homossexual. Acredito que para ambos os sexos deve haver uma certa revisão e equilíbrio de quanto modificar seu próprio corpo, seja temporariamente, como no caso da maquiagem, como permanentemente, como no caso das cirurgias.
Em contra-partida ao que disse, cada vez mais eu vejo mulheres desapegadas a alguns pontos da moda. Observo, no entanto, que essa observações sejam um ponto isolado.

Joice disse...

O melhor artigo da Lola!!!