segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

DURMA-SE COM UM PRIVILÉGIO DESSES

Privilégio é algo complicado. Nós aqui, por sermos classe média, por estarmos na frente de um computador neste exato momento, somos privilegiados. Mas não gostamos de nos sentir assim. Negamos o nosso privilégio. Reclamamos dos altos impostos que pagamos, dos nossos empregos estafantes, e de termos que pagar plano de saúde e escola. Mas a própria idéia de pagar uma escola ou um plano de saúde já indica um privilégio. Porque, pra maior parte das pessoas, isso não é uma opção. Ignoramos que somos uma minoria no mundo e que, pra maior parte da população mundial, seria um sonho ter uma vida exatamente como a nossa.
Existem muitos privilégios. Quanto mais próximo do padrão dominante (homem, branco, hétero) você estiver, mais privilegiado você será. O que não quer dizer que sua vida será um mar de rosas. Você também terá dificuldades. Mas muito provavelmente terá menos obstáculos que as pessoas fora do padrão dominante. Se você é branco, você não será parado pela polícia a todo momento apenas porque a sua cor é suspeita. Se você é hétero, você não será rejeitado pela sua família por causa de sua orientação sexual.
Sobre privilégio branco, este post (em inglês) oferece uma ótima comparação: poucos podem negar que, por exemplo, poder ver tem inúmeras vantagens sobre ser cego. A vida certamente é mais fácil pra quem pode ver, inclusive porque toda a estrutura do mundo foi construída pra gente que pode ver, não pros cegos. Isso não significa que pessoas cegas sejam incapazes ou inferiores, apenas que a vida é mais difícil pra elas. O que também não significa que elas não possam superar obstáculos e ter uma vida boa. Mas significa que, pra elas, coisas que pessoas que podem ver fazem normalmente, sem pensar no assunto, pra elas exige mais esforço. E um cego rico precisa superar montes de obstáculos, assim como um cego pobre. Tá, entendeu a analogia? É simples: se você é branco, será chamado a mais entrevistas de emprego, será mais contratado, conseguirá posições de comando com muito mais facilidade, não será estereotipado, será mais bem tratado por professores na escola, será mais bem tratado por médicos nos hospitais, não terá que provar algo o tempo todo... (aqui esse autor explica privilégio branco no contexto das eleições presidenciais americanas. Eu achei ótimo).
Este outro blog, em inglês, fala de privilégio masculino, e dá um bom exemplo do que é um privilégio de maneira geral: é andar por uma estrada sem grandes buracos, sem lama, bem transitável - e nem sequer reparar nas boas condições da estrada. Mas não leve pelo lado pessoal. Os privilégios são de um grupo, não necessariamente individuais. O primeiro passo pra não ser preconceituoso é aceitar o seu privilégio.
Eu vou falar de privilégio masculino, mas lembre-se que ser homem também traz algumas desvantagens, como ter que lutar em guerras, quase sempre se envolver em violência física, e ter que seguir um padrão de masculinidade que não permite sensibilidade. Homens têm que deixar de fazer uma série de coisas que são consideradas pouco másculas. É como se tivessem que pagar pelo privilégio masculino cooperando com uma versão idealizada da masculinidade. É por isso que o feminismo pode ser positivo para homens e mulheres, já que se propõe a romper algumas barreiras de gênero. Não seríamos todos mais completos, homens e mulheres, se homens pudessem se comportar com características tidas como femininas, e se mulheres pudessem se comportar com características tidas como masculinas?
Estas foram algumas coisas que me vieram à mente ao pensar no privilégio que é ser homem:
É não ser considerado “disponível” apenas por estar sozinho.
É ser escutado porque pode ter algo interessante a dizer, não por ser atraente.
É não te disserem o tempo todo que, pra você ser um homem completo, você precisa ter filhos.
É não ter que passar a vida fazendo dieta e se privando de comida gostosa, porque vai poder provar seu valor através de outros modos, e não só pelo formato do seu corpo.
É não ter que fazer essa técnica de tortura medieval comumente chamada de depilação.
É ter modelos que te inspirem, modelos celebrados pela mídia por outros talentos, fora a beleza física.
É poder sair à noite e se preocupar apenas em ser assaltado.
É não ter que ter medo e ser paranóico o tempo todo.
É não ser agarrado na rua, como se o seu corpo fosse público.
É poder cometer muito mais acidentes no trânsito e ainda assim ser visto como um bom motorista, porque mulher é que é barbeira.
É não ouvir baixarias toda vez que sair de casa, sentindo que seu
corpo está constantemente sendo avaliado.
É não ter seus sentimentos dispensados porque, afinal, pra estar tão sensível, você só pode estar com TPM.
É não ter que pegar uma vassoura pra dar um jeito na casa. E, se algum dia fizer tamanho esforço, poder fazer bem meia boca.
É exigir ser elogiado por algo que uma mulher faz frequentemente, sem recompensas.
É poder ter uma vida sexual ativa, com várias parceiras, e ser festejado por isso, chamado de garanhão, playboy. Enquanto que se uma mulher fizer exatamente a mesma coisa, será uma vadia.
É achar que todas as mulheres gostam de ouvir grosserias na rua. E não ver que dizer uma estupidez dessas causa tanto repúdio como cantar uma mulher na rua.
É ninguém achar que seu corpo está à venda.
É não apanhar em casa, porque lá não vai haver alguém mais forte que você que se ache no direito de te bater porque a camisa não está bem passada.
É ser ensinado que ser ouvido é mais importante que ser visto.
É não ser decorativo.
É acreditar que outros homens possam ser seus amigos fiéis (porque as mulheres são criadas pra ver todas as mulheres, inclusive as amigas, como adversárias desleais).
É poder beber até cair sem ser estuprado.
É ter alguém que vai encontrar as suas meias. Ou pelo menos que se possa culpar por ter perdido as meias.
É, no trabalho, alguém não pedir pra você fazer ou trazer café.
É poder ver anúncios grotescamente misóginos e só notar a beleza das modelos.
É ganhar um salário maior simplesmente por ser homem.
É poder ter muito mais liberdade, quando você é menino, que a sua irmã.
É poder deixar de ser virgem o mais cedo possível. E, no futuro, nunca lembrar a idade que você tinha, porque faz tanto tempo, e nem foi importante.
É não ter que se sacrificar pra estar belo.
É não ter que usar salto alto, um tipo de sapato que desequilibra, dói, e pode deformar seus pés.
É não ter que trocar de sobrenome ao casar.
É não ser tratado como idiota, ou como alguém que não vai entender o que está sendo dito.
É não ter que ouvir piadas sobre coisas que fazem parte da sua realidade e te atormentam (estupro, por exemplo).
É não ter que gastar tanto do que ganha em cremes de beleza inúteis.
É poder envelhecer e ter o seu cabelo grisalho associado a poder e charme; suas rugas serem associadas à experiência, vivência, uma história de vida.
É poder ser sexualmente desejável, apesar da idade.
É ter toda uma ciência feita por homens para legitimar o seu comportamento e o seu domínio como “natural” e “instintivo”.
É ter todo um sistema de discriminação que trabalha a seu favor não ser contestado, porque é uma tradição.
É, na sua religião, ser tratado como o poderoso, e sua mulher, como apêndice.
É achar que você tem direito a todos esses privilégios porque Deus - que é Pai - quis assim. Ou porque está na bíblia. Ou simplesmente porque sempre foi assim.

80 comentários:

Serge Renine disse...

Essa foi boa Aronovich!

Acho que você tem razão em tudo.

Anônimo disse...

ótimo post, Lola. Não tenho nada a acrescentar...

(só não gostei de um dos artigos que vc linkou. Acho que usar só a sarah palin como exemplo pra tudo foi uma politização desnecessária. Chegou até a ser meio irritante, afinal há várias outras pessoas públicas que serviriam de exemplo para os argumentos. Parece que o maior objetivo do texto era atacar a Sarh Palin,em vez de explicar o privilégio. Acho que é bem melhor para explicar o conceito de privilégio de forma mais geral, como o outro link - o verdinho, agora fechei a página -- fez).

Anônimo disse...

NOTA MIIIIIIIIIL, Garotaaaaaaaa!
Bj da Fatima.

Andrea disse...

Uala!!! Que listão!!! Essa é pra mostrar a todos os homens que conhecemos! Será que eles conseguem refletir ao menos um pouco a respeito disto?

Nalu A*) disse...

Lola, muito bom. Vc devia pensar em fazer um livro a partir dos seus posts, heim? Sério mesmo, seu jeio de escrever é muito bom. E os seus argumentos são nota dez mesmo. Beijos

Anônimo disse...

Lola só faria uma ressalva. Não no seu texto que está excelente.
Discordo apenas da ilustração onde Jesus entra. A bíblia sim faz a apologia do macho porém Jesus foi um cara atemporal, absolutamente sábio, não deu pitacos na bíblia, e mandou que os babacas que não tivessem pecado atirassem a primeira pedra.E há quem diga que ele casou com a Maria de Magdala ...Veja que ele era amigo das mulheres, visitava Marta e sua irmã. Esse cara eu defendo, ainda que ele tenha sido inventado! E se Jesus foi inventado, aí está a prova da maravilha que é o cérebro humano. E só a idéia de Jesus, já alimenta minha alma porque o sujeito era D + !!! Ele foi O CARA!
Aliás Jesus fará aniversario neste mes! Discordo com o ar de deboche
que a ilustração dele, ganha, no contexto textual deste post, porem não chego a ficar irritada porque reconheço que a presença dele no post, é polêmica, e vc Lolinha, é uma jornalista de mancheia, sabe provocar!. Bj da Fatima

Anônimo disse...

Poxa, eu vou ser a voz dissonante aqui. Acho que vc esta certa, mas exagera.
A vida da mulher eh mais dificil, mas nao eh TAO mais dificil quanto vc quer fazer crer. Na minha opiniao.
Homem que nao pega todo mundo eh chamado de viadinho, tem sua masculinidade questionada. Homem que "nega fogo" entao, nem se fala. Eles tem comer "qualquer coisa" (ou seja, qualquer mulher que se ofereca). Sem direito a dizer nao.
O homem que quiser esperar para perder a virgindade com alguem que gosta as vezes eh criticado.
Se nos, mulheres, ganhamos um salario baixo, temos um carro velhinho ou andamos de onibus, significa que "estamos trabalhando no que gostamos," ou "correndo atras dos nosso sonhos". Um homem na mesma condicao eh um incompetente.
A gente pode passar a vida inteira ganhando menos que o marido, que paga o grosso das contas da casa, e tudo bem. Va fazer o contrario para ver o que acontece.
Enfim, o que eu quero dizer eh que eu nao gostaria de ter nascido homem. Estou bem feliz como estou.
Sim, eu sou branca e de classe alta pros padroes brasileiros.
Mas agora eu moro na Inglaterra e aqui sou uma imigrante com sotaque. E faco parte da classe media media numa cidade onde muita gente eh rica.
Temos alguns privilegios aqui, perdemos outros ali.
Nao gosto de criar essa polarizacao entre homens e mulheres, muito menos acusa-los de "privilegiados."
O que temos que fazer (na minha opiniao), eh lugar contra os comportamentos que criam essa situacao de privilegio.
Fez sentido? Nao sei se esse comentario ficou meio sem pe nem cabeca, mas eu tentei discordar sendo respeitosa. (consegui?)

Serge Renine disse...

Bárbara:

Hoje estou "maria vai com as outras" concordo com tudo que você disse também.

Anônimo disse...

Eu penso Lola, que muita gente por fazer parte dos "privilegiados" não vão entender exatamente o que você quiz dizer!
Muito bom seu texto, muito bom mesmo.
Abraços Helena

Marcia disse...

Lola, nunca postei aqui. Mas quero dizer que doro o que escreve e que é imposível não lhe admirar por isso.
Beijos

Anônimo disse...

Lola, post excelente.

MASSSS, concordo com alguém que disse que a vida das mulheres também não está tão difícil, assim.
Sem contar que existe uma super pressão nos meninos, para serem Homens (com H maiúsculo), vide a declaração da cantora Claudia Leitte dizendo que, adora os gays, mas prefere que seu filho venha macho.. olha só que pérola.

Acho que também não está tão fácil para eles como você coloca.

Beijos

Tina Lopes disse...

Barbara, "sem direito a dizer não"? Discordo totalmente. O homem sempre tem direito a dizer não. A pressão pelo clichê de macho existe, óbvio, mas pode ser muito bem contornada, e é, por quem quer e tem convicção. Os homens, maridos e amigos das pessoas que frequentam esse blog são as provas.

lola aronovich disse...

Serge, obrigado, seu “João vai com os outros”! (estranho que só exista Maria-vai-com-as-outras, né?). Quer dizer, pra mim, linguagem usada apenas pra denegrir - olha essa palavra, que denigre os negros, mas praticamente não tem outra! - as mulheres não tem nada de estranho...


Marj, agora faz um tempinho que não leio esse artigo (o anotei, junto com várias anotações, faz um mês e meio, mas só no final da semana passada consegui escrever o post), mas gostei muito dele. É verdade que o autor insiste muito em menosprezar a Palin, mas não é só ela. Adoro como ele explica que TRÊS políticos brancos (referindo-se a Palin, Bush e McCain) foram maus alunos na universidade, e só conseguiram estudurar em universidades consagradas por causa da influência dos pais (no caso de Bush e McCain), mas tudo bem, porque eles são brancos, enquanto o Obama foi um dos melhores da turma dele em Harvard, e, só por ele ser negro, todo mundo o chama de “esnobe” e insinua que ele só conseguiu estudar lá por causa de “ações afirmativas” (cotas etc). É um padrão duplo total!

lola aronovich disse...

Obrigada, Fá!


Andrea, é uma lista grande, mas não está de jeito nenhum acabada. Gostaria de contribuições de vcs pras milhares de coisas que eu esqueci.

lola aronovich disse...

Nalu, bom, eu gostaria muito de publicar um livro, mas alguma editora tem que se interessar, né? Vamos ver se um dia, mais pra frente... Obrigada pela força!


Fá, eu entendo. Eu pus essa ilustração mais pra polemizar mesmo. ACHO, nem tenho certeza, que ela é de um filme que odeio, Dogma, do Kevin Smith. Mas na realidade eu não estou falando de Jesus, e sim do uso que se faz dele. Isso de associar Deus com um sábio velho de barba branca (símbolo patriarcal total), sempre com um homem branco. E ele não tem filha, só filho. Homem e branco. Esse falocentrismo das religiões não eleva exatamente a nossa auto-estima como mulheres, certo? (nem a dos negros, imagino).

lola aronovich disse...

Barbara, querida, pode dissonar à vontade! Vc é muito bem-vinda pra discordar. Mas é importante que vc deixe de enxergar apenas o seu lado pessoal. Por exemplo, a MINHA vida não é difícil. Eu não acho. Minhas experiências de abuso sexual por parte dos homens são mais sustos que qualquer outra coisa. Tive sorte que não foram traumáticas. Eu tenho um ótimo marido. Não sou tão ambiciosa assim de querer realmente ter uma carreira, competindo com homens (e mulheres), então nunca me senti muito explorada por ganhar menos (por ser mulher). E as pressões sociais de que eu tenho que ser magra e jovem pra sempre, que eu tenho que ter filhos, eu mais ou menos tiro de letra. Quer dizer, elas me incomodam, mas eu lido com elas, assim como lidava com as barreiras impostas à minha sexualidade na juventude. Mas não é sobre a minha vida, e nem a sua, que estou falando. Somos privilegiadas. É bom aceitar que somos. Mas há milhões de mulheres que têm uma vida muito, muito pior que a nossa, e muitas das dificulades que elas têm na vida são apenas por serem mulheres.
E eu não disse em nenhum momento que a vida dos homens é fácil. É só que é menos difícil. Concordo plenamente que há desvantagens em ser homem - falo disso no post, não? Por isso, pra derrubar essas idiotices que se o homem não quiser transar com determinada moça, ele só pode ser gay, é que o feminismo é benéfico pros homens também. Mas não concordo que se nós mulheres ganhamos salário baixo ou andamos de ônibus (e isso é uma coisa que tenho percebido, como a enorme maioria das pessoas que andam de ônibus são mulheres, notou? Alguém tem uma estatística?) “estamos trabalhando no que gostamos”. É só que a sociedade ESPERA que mulheres tenham empregos que se ganhe muito menos (pense se o salário dos professores de escola primária seriam tão baixos se 95% desses professores não fossem mulheres). Ou seja, já se trata a mulher como uma incompetente de qualquer jeito. Não precisa fazer nada, só nascer mulher.
Mas não acho que o que escrevi seja uma polarização entre homens e mulheres. Esse modelo de sociedade que temos é ruim pra ambos os sexos, pior pras mulheres, mas ruim pros homens também. Pra mudá-lo, precisamos dos homens. E “acusar” alguém de privilégio não é bem uma acusação. É uma constatação.

Anônimo disse...

Tina, eh logico que tem direito a dizer nao. Mas tem um preco (ter sua masculinidade questionada ou ser sacaneado pelos amigos, o que pode ser uma coisa seria na adolescencia). Assim como a gente tem direito de transar com quem quiser. E isso tem um preco (ser chamada de vagabunda, etc).

lola aronovich disse...

Helena, eu já tive algumas discussões com pessoas inteligentes que acharam o cúmulo eu apontar nosso privilégio como habitantes da classe média. As pessoas têm muita dificuldade em lidar com aceitação de privilégio, sim. Seria bom refletir porquê.


Bananas, muito obrigada, um elogio assim faz o meu dia! Agora que já comentou, comente sempre!

lola aronovich disse...

Chris, mas eu não disse que está fácil pra eles... Please, querida, leia o que respondi pra Barbara.


Tina, nisso eu concordo com a Barbara. Não é que o homem não tenha direito a dizer não, é só que a pressão social pra ele diga assim pra qualquer mulher que piscar pra ele é muito grande. E como ser chamado de gay pra um homem hétero aparentemente continua sendo um grande insulto... Mas não dá pra comparar essa pressão social pros homens - que é totalmente péssima, repito - com todas as histórias de horror envolvendo sexo que nós mulheres narramos, né?

Anônimo disse...

Lola, estou pensando aqui na sua resposta. Vc esta certa. Acho que nao gostei do "tom" do post. Achei ele meio raivoso. E acho que eh esse "tom" raivoso que espanta muita gente do feminismo.

Veja bem, eu nao disse que vc esta sendo raivosa, falei que me soou raivoso! (para os meus ouvidos, mas para outras pessoas nao soou).

Ate porque vc colocou bem claro que ser homem nao eh assim tao facil, e que eles poderiam se beneficiar de uma igualdade maior entre os sexos (por que eles nao percebem isso?)

Eu tenho MUITO cuidado para nunca soar como uma vitima nem atacar o outro lado. Odeio ser atacada pelos meus privilegios (como se eu tivesse culpa de nascer branca e te ter estudado em escola particular!) e nao quero atacar os outros pelos deles (lembrando que eu ja entendi que vc nao estava atacando ninguem).

Enfim, essa eh uma longa conversa. E sim, concordo que nossa vida eh bem melhor que a de muitas mulheres por ai. Mas o que a gente faz com uma mulher que depois de sofrer tudo o que vc mencionou aih, trata o filho como um reizinho e cria mais um machistinha enquanto manda a filha lavar os pratos e arrumar a casa (como eu canso de ver)?

PS: contei as "historias de horror" discutidas aqui pro meu marido. Ele sempre soube dessas coisas, mas ficou de queixo caido com os exemplos...

Dai disse...

Lola, para mim esse é o post do ano. Deveria ser publicado em livro, pixado nas paredes, distribuído em circulares, estampado em murais de empresas e escolas. incrível como as pessoas se encalacram em seus valores burgueses e não entendem às vezes que o estigma sobre os outros parte, também, da negação delas de que tem privilégios. nada de tom raivoso. é apenas o que acontece quando se balança uma estrutura que parece sólida e nem de longe é. pode soar agudo demais para quem não está preparado para ouvir. mas vc tem coragem de dizer. parabéns, viu. abraços.

Anônimo disse...

Clap! Clap! Clap!

Sou super a favor desse texto se tornar um viral e se espalhar pela net.

S. disse...

Acho legal botar na pauta o nosso privilegio. Se voce for olhar a populacao mundial realmente, a maior parte nao vai ter uma casa como as nossas, acesso a educacao, saude, comida, transporte... quem dira' ter computador com conexao a internet pra trocar ideias com gente do mundo todo. Somos privilegiados mesmo.

Acho que a palavra privilegio ganhou a conotacao de algo que voce tem mas nao merece. Nao e'o caso. A gente continua tendo todo o direito de reclamar dos impostos, dos salarios baixos e da coisa toda. So' seria melhor que nao fosse privilegio ter uma vida de classe media e sim a norma.

Anônimo disse...

Ah, em tempo! Em um dos links que vc passou, Lola, caí num site muito legal chamado Feminism 101. Dá uma olhada.

http://finallyfeminism101.blogspot.com/

Eu adoraria ter tempo para montar uma versão parecida em português.

Anônimo disse...

Lola este post, conforme disse "D."
talvez seja mesmo, o post do ano.
Agora, lembrei de duas coisas:
a)se não me engano no "Auto da Compadecida", de Suassuna, o deus é negro. O Ariano Suassuna é tudibom, né?
b)este post excelente foi publicado neste 8 de dezembro, que é dia da Imaculada Conceição, se não me engano. Tenho muita fé em Nossa Senhora pois ela sempre me protegeu e gosto de rezar Ave-marias. Fatima.

canis sine dentibus disse...

meu primeiro comentário aqui!
Minha namorada lê teu blog diariamente e eu acabo por lê-lo também. Sempre gosto do que você escreve, tem bom humor e um ponto de vista muito bem consistente, sem os relativismos que sempre vejo nas opiniões escritas por aí a fora, onde tudo pode ser aceitável. Talvez por você ser abertamente de esquerda (como se isso fosse algo a ser escondido!)não só na autodenominação, mas nas suas reflexões, porque se dizer de esquerda é muito fácil, ser mesmo é outra coisa. Que bom que alguém que pensa como você é muito lida aqui, ainda há salvação para todos!

Anônimo disse...

Muito bom Lola!

Concordo com o comentário da Fátima a respeito de Jesus, mas ao mesmo tempo concordo com você quando lembra o patriarcalismo das religiões (que para mim, são algo bem diferente de espiritualidade). Se a religião foi criada pelos homens, o que poderíamos esperar? Ninguém puxa o próprio tapete ou abre mão de privilégios adquiridos...

E bem lembrado, hoje a vida não é fácil pra ninguém, mas é mais difícil para algumas pessoas.

Abração!

lola aronovich disse...

Barbara, que bom que vc refletiu e constatou que, mais uma vez, eu estava coberta de razão. Brincadeirinha! Eu sei como é isso de “tom”. Às vezes o tom que a gente impor ao texto não é bem o que sai. Parece que a gente perde o controle! Claro que pra alguns meu tom vai parecer mais agressivo que pros outros. Eu acho que eu sempre sou muito irônica, e é extremamente difícil pra mim deixar de ser. E muitas vezes ironia é agressiva, e pode passar um tom raivoso. Mas, sei lá, eu acho que tom raivoso mesmo eu adoto na resposta ao João. Neste post do privilégio eu sou até bem comedida, dentro do meu possível, que não é muito, eu sei.
Mas isso que vc fala dos privilégios é bem o que acontece. Ninguém está culpando vc ou os homens pelos privilégios que têm. Não é uma questão de culpa, então não é necessário ficar na defensiva. É só uma questão de aceitar que sim, temos privilégios. A gente deve se lmbrar sempre disso. O que acontece, e este é um assunto pra um outro post, é quando os homens esquecem os privilégios que têm e perguntam: “Ah, mas o que aconteceria se, no caso do beijoqueiro, uma mulher tivesse querido beijar um homem? Como vcs que estão reclamando da sentença do juiz reagiriam?”. Esse é o tipo de pergunta que mostra que a pessoa não tem a menor idéia da sociedade que habita e dos privilégios que tem.
O que a gente faz com uma mulher que sofre e depois cria o filho pra reproduzir o mesmo ambiente machista? Não sei. Educa? Fala com ela? Mostra um outro lado? Lembre-se que todos nós somos produtos de uma sociedade machista. Muita gente jamais parou pra pensar que um outro mundo é possível e desejável.
Que bom que vc falou das histórias de horror com o seu marido. Acho importante falar sobre isso com os homens tb, pra que todo mundo pare de pensar que esse tipo de coisa só acontece com “as outras”, com mulheres hiper distantes da nossa realidade...

lola aronovich disse...

D, que é isso, post do ano, assim vc me deixa encabulada. Não, eu só quis contribuir com uma discussão. Acho que o conceito de “male privilege” já vem sendo discutido há um tempo por algumas feministas americanas (se bem que eu nunca li nada; conheço muito pouca teoria). Mas, pelo que vi, há pouco no Brasil sobre o assunto. Este blog é leigo, não é especializado em feminismo, eu sou bastante leiga no assunto, mas é bom introduzir idéias menos conhecidas. Esse post é só isso, uma introdução. Se vcs procurarem “male privilege” vão encontrar muito mais, e listas muito mais completas que a minha. Acho que EU teria economizado um tempão se tivesse procurado. Mas preferi fazer assim, refletindo, tirando da minha cabecinha mesmo, tudo relacionado com outros posts meus, e fui anotando tudo que aparecia. Só isso. Seria ótimo a gente fazer uma lista de privilégios brancos (no contexto brasileiro), de privilégios héteros, e até, por que não?, de desvantagens de ser homem (o que é totalmente diferente de privilégio feminino).


Débora, obrigada pelas palmas. Não é tudo isso não (veja a resposta pra D), mas se vc quiser enviar este texto (com o nome do blog, claro) pros seus amigos via email, pra mim tá ótimo.

lola aronovich disse...

Cereja, pois é, é exatamente isso. Muitas vezes a gente só olha o próprio umbigo e se esquece de ver o contexto. Não estamos só neste mundo. Tem muito mais gente. Hoje mesmo saiu uma notícia dizendo que brasileiro com acesso à internet é 20%. Se a gente concorda qué uma maravilha ter internet, então devemos nos considerar privilegiados, não? E realmente, não tem a ver associar privilégio com merecimento. Inclusive, odeio esse conceito de merecimento. Porque toda vez que vc acha que alguém mereceu isso, vc tá dizendo que muita gente MERECE ser miserável. Eu não concordo.


Marj, é muito bom esse Feminism 101. Seria ótimo ter uma versão em português, sim. Seria o que, Feminismo Básico, B-a-b do Feminismo?

lola aronovich disse...

Fátima, há várias igrejas negras, nos EUA (e são negras mesmo, porque a segregação segue firme por lá) que retratam Jesus e Deus como negro. Eu acho bom. Pra associá-los com mulheres é mais difícil, né? Mas tem feminista que, toda vez que fala de Deus, usa “ela”. É bem complicado, porque a linguagem que usamos faz parte da estratégia da dominação.


Canis, que bom que vc e sua namorada me lêem, fico muito feliz mesmo! É, eu me sinto bem de esquerda, e isso influi tudo o que eu escrevo. Certamente quem eu sou seria diferente se eu fosse de direita. Uma outra pessoa, mesmo. Eu acho difícil, por exemplo, ser de direita e ser feminista. Mas muitas mulheres conseguem! Eu é que não conseguiria. Comente sempre (e deixe de onda e diga logo onde mora, vai).

lola aronovich disse...

Cristine, pois é, eu nem me sinto muito bem pra falar de religiões, já que sou abertamente atéia. Então qualquer coisa que sair da minha boca vai soar como uma crítica feroz. Mas não é. Eu conto sempre que, quando tinha 13 anos, eu era muito, muito católica. Tanto que queria ser freira. De verdade. Foi um ano inteiro, ou quase, que eu rezava todos os dias e arrastava minha família pra igreja aos domingos (“arrastar” é a palavra certa no caso, porque eles não queriam ir. Meu pai só ia porque me amava muito e fazia tudo que eu queria). Mas mesmo neste meu ano ultra-religioso, eu ainda era feminista. E tinha altas discussões com as freiras: por que Deus é Homem, Ele, Pai, Senhor, Salvador? Esse papo de Adão e Eva é pra ser levado a sério mesmo? Tipo, eu vim de uma costela de um homem? Jura? E por que freira não pode rezar missa? Eu já queria logo ser papa. Infelizmente, acho que nenhuma religião tem respostas convincentes pra explicar o imenso machismo de cada uma. O “porque Deus quis assim” me parece muito ditatorial.

Anônimo disse...

Eu acho que uma mãe criada num esquema bem machista vai tratar a filha da mesma forma porque acha que é uma espécie de proteção também. Tipo: as "meninas más" vão levar na cara sempre, então eu vou tratar de fazer com que a minha filhinha esteja sempre na sombra de um bom homem que a proteja - o pai, o irmão, depois o marido. Ela talvez se ache bem protegida pela "sagrada instituição do matrimônio" e queira o mesmo para a filha, sem lembrar do tanto que precisa sacrificar. Ou ela vai ter problemas com esse esquema todo e se dar conta sozinha ou eu acho difícil alguém fazer alguma coisa. Enfim, reconheço que sou privilegiada, branca, classe média, e aqui em casa as coisas são bem divididas (talvez até menos para mim, hehehe). Mas o que ocorre com essas mulheres é que elas acham que ser privilegiada é ser "protegida" por um homem. Mas esse negócio de classe média chorando é bem engraçado mesmo, já vi pessoas querendo dizer que é a classe MENOS privilegiada, que as mais baixas são ajudadas pelo governo e as mais altas, bem, são as mais altas... Como se os pobres por aqui estivessem todos de braços cruzados, aproveitando a vida... Ridícula essa pose de "mártir trabalhador do Brasil"!

Masegui disse...

Lolinha,

Sobre o outro post, que só pude ler agora: como você era fofinha, lindinha, engraçadinha, vixe!

Pro companheiro maridão:

Viu, companheiro, como somos privilegiados? vamos sair pra tomar umas e outras e comemorar?

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gisela Lacerda disse...

Et bien voilà. A gente não pode mudar certas coisas, não, Lola. Infelizmente. Eu já me conformei, apesar de ser uma intensa arietina. ;-)) Explico: Sol em Áries. ;-))))

Olha, eu não tenho plano de saúde desde 2002, quando fui passar um tempo na França sem saber que ficaria por lá. E vivo muito bem, obrigada. Minhas primas por serem médicas ficam insistindo; meu namorado pela idade que tem e por ser hipocondríaco acha muito que eu preciso. Respondo: PAGUE, ORAS. Paguem pra mim. Muito fácil falar.

Isso tudo que você falou sobre o tal "mundo dos homens" é a mais pura verdade; algumas coisas podem e devem ser mudadas. Outras acho difícil demais... Eu gosto de ser mulher às vezes e não gosto noutras. E imagino que os próprios homens odeiem ser homens algumas horas. Acho inútil essa discussão! Ninguém nunca está satisfeito totalmente. Só o mentiroso. ;-)

Gisela Lacerda disse...

Eu tinha um namorado que dizia: "o mundo é um jovem, loiro de 25 anos."

Anônimo disse...

http://images.orkut.com/orkut/albums/ATgAAAA1ke6xHZDc9I8fgF79pVBfTEApiHfJgKQ1XCb6SgSsz9BP1n5vvYAULiLLUzR30m8OD0ILmUvuvyqx9C7QnW96AJtU9VBtf1IqH4L91tGAehPlSV6B3Ex_YQ.jpg

Anônimo disse...

http://s397.photobucket.com/albums/pp51/duelekikasa/?action=view&current=49.jpg
uma tirinha genial.

No mais, Lola, adoro seu blog, recomendo pra todo mundo!

Anônimo disse...

Oi Lola, amei o post, hoje de manhã mesmo pensei no que você sempre escreve porque essa questão da mulher tem estado sempre no meu pensamento, principalmente depois que tive uma menina no ano passado. Conversando com um amigo da faculdade meses atrás, eu disse a ele que pensava que a vida era mais fácil para ele - homem, branco e não pobre - e que para uma uma mulher era muito mais difícil. Se fosse pobre ou negra ou os dois, a vida certamente seria, lamentavelmente, bem difícil...

Eu acho que o pior para as mulheres são as exigências, de certa forma absurdas, mas que estão tão incorporadas às nossa vidas, que nem percebemos mais. Elas representam uma enooooorme desvantagem em relação aos homens. Por exemplo: o tempo e o dinheirão imensos que temos que gastar nos arrumando, porque é socialmente inaceitável que apareçamos em público "ao natural". Homens não tem que lidar com escovas no cabelo, manicures, depilações (das mais diferentes áreas), dietas, escolhas de guarda-roupa +sapatos+acessórios, acordar mais cedo para se maquiar e arrumar o cabelo, porque para eles basta tomar banho e escovar os dentes. Eu sei que tudo isso vai parecer banal para muita gente, especialmente homens (cadê o tal do João?), mas na prática temos que lidar com tudo isso e ainda provar que somos competentes e capazes de dar conta do trabalho a que nos propomos. Mas atenção! Não podemos ser competentes demais, porque mulher muito inteligente e capaz e mal-vista (e tachada de vadia, mal comida, arrogante e ambiciosa, até mesmo por outras mulheres).

E quando nos tornamos mães? Penso que temos o direito de sermos boas mães, mas isso nos é negado: se optamos por ser mãe em período integral, nos acusam de sermos amélias, mas se voltamos logo ao trabalho, somos desnaturadas, então é difícil fazer uma escolha.

Resumindo: aos homens tudo, às mulheres nada, mas vamos fingir que está tudo bem...

Gisela Lacerda disse...

De repente sou só eu,gente, mas eu nunca me senti assim tão oprimida. Sempre fiz o que quis. Hoje passo um corretivo nas olheiras quando saio à noite, ou quando tenho de me arrumar mais, ou mesmo porque detesto minhas olheiras. O primeiro fio branco nasceu e eu tinha 15 anos, mas só pipocou mesmo em 2002 mais ou menos e apenas tinjo quando viajo, quando tem alguma ocasião especial. Não entendo que cobranças são essas sobre as quais vocês tanto se queixam. Se é uma aeromoça, vendedora de loja, modelo, enfim aí são profissões que exigem um certo cuidado com a aparência e foi por isso que não engrenei em nenhuma dessas. Porque sou muito livrezinha e fico meio p. da vida com essas cobranças que nunca (olha, NUNCA!) vêm dos homens e sim de "nós" mulheres. Amigas (tenho em pouco número justamente por isso), família "ai, pinta o cabelo", "ai isso" e "ai aquilo". Homem não tá nem aí, só se forem meus amigos gays, dos quais já tô de saco cheio por sinal por diversos motivos.

Acho que falta mais coragem, sinceramente. Às vezes, essa opressão vem do próprio oprimido que fica criando mil regras e nunca experimentou desafiá-las pra ver qual é. Acho a mulherada muito grilada. Não sei se é porque não tenho mãe e sempre fui muito eu mesma. Sigo conselho quando filtro muito bem. Não saio fazendo tudo que me dizem "pro meu bem".

Anônimo disse...

Lola, que bom que vc entendeu o ue eu quis dizer :)

E meu marido sabe bem que as coisas sao mais dificeis para as mulheres. Ele eh muito pouco machista, as vezes ate demais (ele confunde cavalheirismo com machismo, mas na verdade hoje em dia eu nem tenho mais opiniao formada sobre isso...). Mas enfim, el eh otimo, por isso eu casei com ele, hahaha

Ariadne, gostei da sua teoria da "protecao." Achei que faz sentido. Ate a minha mae, que eh tranquilissima, bem cabeca aberta, e nunca fez questao que as filhas casassem, acha que meu marido devia me tratar como um bibelo (o que ele nao faz, ainda bem!).

Anônimo disse...

Achei o q a Gi falou interessante, isso d q a cobrança vem mais das proprias mulheres q dos homens. Eu n tenho ctz se vem MAIS das mulheres q dos homens, mas algumas coisas são cobradas quase exclusivamente por mulheres. Por ex, maquiagem, roupa da ultima coleção, jóias. N lembro de nenhum amigo meu reparando nesses aspectos, pra eles o q mais importa é a mulher ser bonita de maneira "natural".

Tem algo até engraçado nisso. Os caras q eu conheço (meus amigos e irmão) nem gostam do "exagero" de certas mulheres, cmo usar (muita) bijuteria, uma mochila td rosa cheia de glitter e desenho, unhas tds desenhadas e coloridas. Ou seja, parece q certas cobranças e críticas são só de mulher para mulher.

Anônimo disse...

Interessante essa coisa de que mulher é que cobra mais. Não sei se elas cobram mais, fato é que expressam mais isso. São elas que vão virar pra você e dizer "menina, mas como vc está vestida assim?". Eles só pensam.

Mas tb é fato que essas cobranças que vêm delas só refletem uma "ordem" que, desde pequenas, a gente cresce ouvindo. A gente cresce ouvindo "mulher se importa com detalhes" e, meio que por osmose, acaba se importando mesmo. Se a gente não crescesse ouvindo isso, será que seria assim?

E a maioria dessas coisas que a gente faz por beleza, será que é para as outras mulheres mesmo? Pra quê a gente depila virilha, por exemplo? As outras mulheres não vêem a nossa virilha. A maioria dessas regras de beleza (tipo mulher não pode ter pêlos) só serve para o "male gaze", a aprovação sexual masculina (aliás, outro conceito que eu gostaria de ver a Lola comentar).

Então, essa cobranças das mulheres são meio que uma competição pra ver quem supostamente atrairia mais olhares masculinos -- já que a sociedade determina que beleza é a primeira e mais importante coisa a se julgar numa mulher, porque se ela não for bonita não arranja homem, se nao arranja homem é uma marginal, etc etc etc. Enfim, a mentalidade sex and the city/revista cosmopolitan/bridget jones("tenho carreira, amigos e dinheiro, mas só me sentirei completa quando encontrar o amor").

Mesmo que os homens não reparem em detalhinhos, no conjunto eles julgam, sim, quem é mais "ladylike" (=atraente) e quem não é.

Ju Ribeiro disse...

ai....que grande fardo é ser homem, branco e hétero....

Ju Ribeiro disse...

bárbara,

não acho exagero.

"Se nos, mulheres, ganhamos um salario baixo, temos um carro velhinho ou andamos de onibus, significa que "estamos trabalhando no que gostamos," ou "correndo atras dos nosso sonhos". Um homem na mesma condicao eh um incompetente."

você não entendeu que nós naturalmente somos vistas como incompetentes? discordo muito desse "fardo" de ser homem.

Paula disse...

Fazendo coro ao resto do pessoal, grande post! Li ele de manhã e passei o dia pensando "não sou uma costela". Por que a sociedade judacio-cristã foi construída em cima dessa idéia, de que somos acessórios aos homens.

lola aronovich disse...

Meninas, adoraria responder os ótimos comentários de vcs, mas preciso ir dormir. Amanhã, se der, respondo, mas tá difícil... Preciso entregar um capítulo da tese até quarta de qualquer jeito. Abração, e obrigada pela compreensão! Vão conversando aí por mim, por favor.

Anônimo disse...

Hein marjorie, é assim msm. N se se a maioria, mas tem coisas q são p mulheres. Depilação é para os 2 lados. Tanto mulher quanto homem criticariam uma mulher de saia e perna cabeluda, por exemplo. A depilação na virilha q vc falou tb acho q é pros 2. 1 mulher de biquini sem depilação receberia o msm tratamento de ambos os lados. Será q lésbicas n depilam então, por n serem vistas por homens (excluindo o fator biquini)? Eu n sei, mas acho dificil..

Honestamente, n acho q um homem preferiria 1 mulher usando vestido, salto, maquiagem e joias (visual o mais "feminino" possível) a 1 de calça, regata e tenis. Ele vai escolher a mais bonita/gostosa.

Agora, se for uma punk cheia d piercings e dreads de varias cores a história é diferente. N quero dizer q n escolheria, mas haveria um choque, uma estranheza.. n consego explicar bem isso, mas espero q vc me entenda. Até pq esse visual ainda é visto com discriminação, e por pessoas de ambos os sexos.

Anônimo disse...

Ju, nos jah somos automaticamente vistas como incompetentes, por isso podemos cuidar da nossa vida, caso a gente nao queira uma carreira? Entao se a gente quiser correr atras dos sonhos (e nao ficar mostrando simbolos de status por aih), estamos na vantagem. Ja se a gente quiser ter uma carreira, ganhar muito, ter poder e simbolos de status, estamos lascadas.
Para os homens, a mesma coisa se aplica com sinais diferentes. Conheco muito homem que passa a vida toda em empregos horriveis por falta de coragem de largar o carrao, a TV de um milhao de polegadas e todo mundo achar que ele eh um fracasso.

Tudo bem, ser considerada incompetente nao eh bom para auto estima de ninguem, mas sei la. Nao me agride tanto assim saber que eu posso cuidar da minha vida sem me cobrarem tanto.

Um exemplo: lah no Brasil, meu marido passou dez anos com um Gol vermelhinho (ele adorava aquele carro), e tinha amigos que perguntavam "vc ainda tem aquele carro?" com cara de nojo, quando os proprios amigos moravam em apartamentos xexelentos pagos pelos pais, soh para poder desfilar com um carrao pago em 850 vezes. Estavam cobrando dele os simbolos de status.

Nao, nao espero que ninguem concorde que ser homem, branco, hetero e de classe alta eh um fardo horrivel (porque nao eh!)

Soh queria relativizar um pouco a questao. O dia que os homens forem livres para "seguir seus sonhos" e ficar em casa com os filhos enquanto a mulher trabalha (se os dois quiserem, logico), entao nos vamos poder ter uma mega carreira com poder e status (se quisermos).

Deu para entender? Precisamos "implodir" as cobrancas e preconceitos dos dois lados, nao so do nosso.

Ai ai, me empolguei, mas espero que tenha dado para entender. Na Suecia, por exemplo, a solucao que o governo encontrou para tentar diminuir a diferenca entre salarios de homens e mulheres foi dar licenca maternidade para os dois! O casal tem um ano para dividir como quiser. Muita mulher fica seis meses em casa, e depois o marido fica outros seis. Nao eh genial? Isso nao eh uma maneira inteligente de tornar os dois mais iguais?

Anônimo disse...

(caramba, escrevi demais. Juro que vou parar de alugar o seu blog para expor as minhas ideias, Lola. Eu tenho um blog para isso, nao para invadir e lotear o blog dos outros! :)

Anônimo disse...

Lolinha!

Somos privilegiados mesmo.
Lendo teu post, passou pela cabeça que há algumas mulheres que realmente não colaboram com o feminismo.

Sei de uma moça que largou o namorado porque ele não tinha, na época, "estabilidade" financeira. Esse moço é meu amigo, uma pessoa que adoro.
Não era um vagabundo, preguiçoso, nada, apenas estava em um patamar de status diferente do que ela achava ideal. E ela trabalhava,era independente, mas não sentiu-se segura ao lado do rapaz.
Pergunto-me: que amor é esse que desanda quando a profissão do homem não dá "segurança financeira" suficiente?
Hoje ele está ótimo, financeiramente falando, com uma carreira promissora, com tudo que ela gostaria na época.
Eu disse a ele, recentemente, que foi algo bom ela ter terminado com ele, porque hoje ele pode ver que ela não o amava.

beijos

Anônimo disse...

O post é maravilhoso mesmo.
Posso ver o quanto sou privilegiada, pela condição econômica-social-cultural. O simples fato de estar aqui, debatendo em alto nível com pessoas que sabem escrever e tem acesso à internet, é a prova mais simples.
Vejo os pontos onde não sou tão privilegiada em alguns momentos, que é, bem lembrado, o fato de ser mulher, principalmente, como você tem abordado com frequência, pelo fato de estramos mais sujeitas a violência.

Mas fora isso, estou na esfera dos privilegiados, sem dúvida. E a mulher pobre, negra, mais de 40 naos,sem sequer o ensino fundamental básico? O que pode essa mulher contra certos preceitos e preconceitos da sociedade?

Seu post é um belo convite à reflexão, obrigada.

beijos

Anônimo disse...

Barbara, posso me intrometer?

Acho que essa questão que vc tá falando, de cobrarem carro do ano, emprego em multinacional e TV de plasma é algo que não é separado por sexo, não.

Acho que a cobrança do sucesso (aliás, não é bem a cobrança do sucesso em si, mas sim da exibição deste sucesso em bens materiais) é algo inerente à própria sociedade de consumo, logo é algo que afeta todo mundo. Tanto homens quanto mulheres são igualmente cobrados, hoje em dia.

E para as mulheres é ainda pior porque, além dessa cobrança, ainda tem de estar bonita, ser boa mãe, etc etc

Anônimo disse...

Ola Marjorie,

Vc acha mesmo que simbolos de status sao cobrados da mulher? Nao sinto isso nao... Me parece que estar bonita, magra, gostosa, manter a casa em ordem... Isso sim eh cobrado da mulher.

Nao imagino um homem terminando com uma mulher porque ela nao tem "uma situacao estavel", como foi comentado em um comentario anterior.

Mas na verdade, so para concluir, as cobrancas que me atormentam sao as minhas. E eu me cobro tudo. Ser bonita, bem cuidada, ter a casa linda, fazer uma comida super saudavel, ter uma carreira genial, ser super culta, bla bla bla. Nao precisa dizer que nao dah certo, ne?

Sinto sim que a mulher deve ser boa em tudo, enquanto ao homem "basta" ser bom no trabalho (a mulher cuida dos filhos, da casa, de todo o resto). Mas enfim, isso eh super subjetivo. Eh o que eu sinto.

E sei la, estou tentando abstrair essas coisas. Me cobrar menos. De qualquer maneira, voltando ao papo dos privilegios, eu sou uma privilegiada por ter essas cobrancas. Tem gente que sofre violencia, mal consegue colocar comida na mesa. A gente devia ficar feliz por ser cobrada simbolo de status, ne? Significa que o resto a gente ja tem.

lola aronovich disse...

Ai, gente, super rapidinho porque não tenho tempo mesmo! Mas adoraria estar aí participando dessa discussão. Barbara, pode “lotear” os comentários do blog à vontade. Eles estão aqui justamente pra isso, pra que a gente possa refletir, trocar idéias, refutar opiniões, dar exemplos... É por isso que eu acho, modestamente, que o meu blog chegou a um nível tão bom: não necessariamente pelos posts, mas pelo número e principalmente a qualidade dos comentários.
Mas sabe, Barbara, vcs estão falando de símbolos de status, mas no caso da mulher, é ela o próprio símbolo de status! Em algumas esferas, um homem precisa ter um super carrão e uma mulher deslumbrante pra exibir. São as chamadas “trophy wives”, mulheres-troféu. Se o cara for rico, nem pensar em ter uma mulher que não seja divinamente linda. Lembra da polêmica em torno da mulher do Pierce Brosnan? A idéia era justamente essa: como é que pode um cara rico, astro do cinema, famoso internacionalmente, ter uma mulher gorda?! Seria a mesma coisa que dirigir um fusquinha.
Essas diferenças, pra mim, já mostram como a mulher é objetificada. Difícil se considerar privilegiada assim...

Anônimo disse...

Ok, ok, Lola, rest my case. Matou a pau. Sobre a mulher ser objeto, eu faco um esforco tao grande para esquecer isso, que as vezes esqueco de verdade! (eh que no meu mundo eu me cerco de gente que nao pensa assim, entao esqueco mesmo como sao as coisas "no mundo real")

Eh que me deixa tao triste pensar que os homens acham isso - e as mulheres se prestam a esse papel!!! Que eu fico meio sem reacao...

Mas o que a gente pode fazer? Alem de chamar atencao para isso e nao se prestar a esse papel? Aceito sugestoes.

Suzana Elvas disse...

Correndo, só para constar:

A foto dos leões foi tirada por um repórter fotográfico do Globo, Jorge William. O leão, do Zoológico de Niterói, fugira da jaula e passara a noite fora. Recapturado, foi posto de volta na jaula e tomou sonoro esporro de sua senhôura por ter passado a noite na gandaia. :o)
Bjs

Gisela Lacerda disse...

Não sei cozinhar, odeio por sinal, tive um pai mestre cuca, não gosto de trabalhar "só pra ganhar dinheiro", só depilei "lá nas áreas" uma vez na vida já com 28 anos, mesma coisa sobrancelha, e hoje em dia aos 33 anos faço marrumeno e faço o que quero. Se tivesse $$$$, viveria em spas, faria mil outras coisas também, mas me dedicaria muito à beleza. Fiz dança 5 anos, já fiz yoga, etc. Também não tenho tendência a engordar, não faço a mínima questão de "ser algo pra homens" somente se estes homens merecerem. Se não casar, não casou, tant pis. ! ;-)))

Oscar Wilde dizia: "só o tolo não julga pelas aparências", mas isso foi em Dorian Gray (livro maravilhoso) e uma editora de moda pegou pra transformar em "culto à beleza". Adoro folhear uma "Caros Amigos" e uma "Claudia". O negócio é ser múltiplo. Essa escravização vem das próprias mães. Mesmo com mulheres histéricas na minha família,sempre fiz o que quis e nunca deixei de ter uma legião de homens atrás de mim. Modéstia muito à parte. hihihi

ps: adoro lavar a louça e amo decoração. ;-))) Mamãe, será que não vou casar?! Olhem minhas rugas de preocupação...

iaeeee disse...

beber até cair sem ser incomodado deveria ser um direito sagrado!
odeio estrupador. E o pior que quando a gente vê o pesoal falando que uma menina foi violada numa festa, dá pra perceber qe a maioria não demonstra nenhuma empatia com a dor da menina, tipo como se ela merecesse. Isso é uma droga.

Ana disse...

Vc acabou de me dizer que eu sou um homem....:-P

Anônimo disse...

Lola, você não gosta de "Dogma"? Mesmo Deus sendo uma mulher? Ah, e dá a entender que Cristo era negro.

lola aronovich disse...

Respondendo os comentários que não respondi bem rapidinho...

Ariadne, é verdade, muitas mulheres aceitam facilmente o seu papel de serem protegidas por homens. Mas é ser protegidas por homens dos outros homens! Fica uma situação um tanto ridícula. Melhor aprender a gente mesmo a se proteger, né?
E quanto à classe média, isso de que é a classe mais sofredora (porque pobre sofre, mas tá acostumado, diz um argumento; outro diz que pobre simplesmente não sofre, porque o governo dá esmola) eu ouço sempre. Não dá pra levar a sério. Mas se classe média sofre tanto, quer trocar de lugar com um pobre? Garanto que ele aceita no ato!


Mario Sergio, não pensa em outra coisa além de bebida... (e em corromper o meu marido!).

lola aronovich disse...

Gi, eu também não tenho plano de saúde. E quando conto isso pros meus amigos de classe média (e ainda mais, aos ricos), eles ficam horrorizados, e contam de como o primo do amigo da tia teve um acidente terrível e precisou ser internado e, por não ter plano de saúde, precisou pagar meio milhão de reais ou algo assim. Eu gostaria de ter plano de saúde, mas acho caro, acho o setor totalmente desregulamentado (com as empresas podendo fazer o que querem, aumentando preços quando querem, negando atendimento), e penso que é meu direito como cidadã ter saúde pública de qualidade.


Obrigada pela tirinha, Anônimo. É incrível como a gente ouve esse argumento de “eles não mentiriam na televisão”, não é?

lola aronovich disse...

Michele, que bom que vc gostou. É verdade: temos que seguir um monte de exigências, e nem pensamos nela. Só obedecemos. Essa é a melhor forma de dominação, decerto: incorporar uma ordem a nossa vida que a gente siga automaticamente, sem pensar. E, se alguém indagar pra gente porque fazemos isso, a gente responde: “Ah, porque EU quero. É minha preferência pessoal usar batom/viver fazendo dieta/colocar creminhos/fazer cirurgia plástica/alisar o cabelo/clarear a pele/gastar todo o meu salário em roupas/usar salto alto. Eu faço porque gosto!”. Ih, isso dá um post... Pois é, não é fácil. Não dá pra ser competente demais, não dá pra ser boa mãe... E temos que aceitar tudo sem reclamar, não se esqueça. Porque reclamar é coisa de mal-comida!


Pois é, Gi, mas vc já parou pra pensar por que vc odeia suas olheiras (eu tb odeio as minhas), mas por que os homens não odeiam as suas? Ou, se odeiam, não precisam pôr corretivo? O melhor jeito de opressão é justamente este: quando vc nem sente. É verdade que muitas dessas cobranças vêm de nós mulheres, porque somos todas parte de um mesmo sistema. Mulheres “vigiam” as outras em nome de um sistema. Eu experimento desafiar as regras o tempo todo. Não tenho filhos aos 41 anos, o que já é visto como uma anomalia. Não uso maquiagem. Não uso salto alto. Guio minhas roupas pelo conforto. Não faço (mais) dieta. Não uso nem corretivo nas olheiras. Posso ignorar tranquilamente as cobranças externas (mas e se eu precisasse conquistar um marido, poderia?), mas EU estou sempre me cobrando. Eu conheço essas estratégias de dominação e mesmo assim não consigo me desvencilhar delas.

lola aronovich disse...

Babsiix, concordo que muitas das cobranças vêm mais de mulheres que de homens. Usar sutiã, por exemplo. Em geral, já ouvi críticas por eu não usar sutião quando era jovem mais de mulheres que de homens. Mas de homens tb. Mas não podemos nos esquecer que, por mais que não tenhamos os mesmos direitos, nós mulheres somos parte do sistema. Portanto, se somos contra alguma coisa do sistema - e acho que tem muita coisa pra ser contra - devemos ser contra O SISTEMA, não contra as pessoas. Mulheres também são preconceituosas e machistas, sem dúvida. A gente tem que ser contra o machismo, não necessariamente contra homens e mulheres machistas.


Marj, pois é, exatamente: a gente cresce pra perpetuar o sistema. Não apenas nos habituamos a fazer tudinho que o sistema manda, mas ainda policiamos as outras! Êta sistema eficiente, hein? Tá, algum dia eu falo do male gaze. Não sei muito sobre o assunto. Apenas o que a Laura Mulvey escreveu. Mas as cobranças das mulheres servem sim de competição. E essa competição interessa muito ao sistema. Dividir é bom. E gente, pelamordedeus! Os homens julgam as mulheres o tempo todo! E o julgamento segue direitinho o padrão de beleza imposto.

lola aronovich disse...

Ju R, “fardo” é a palavra que tava tentando me lembrar quando escrevi nos comentários de um outro post sobre “white man's burden”. É isso, o fardo do homem branco.


Paula, que bom que vc gostou do post e ainda pensou nele. Pois é, que negócio é esse de costela?! Eu não sou costela de ninguém!

lola aronovich disse...

Babsiix, bom, quanto mais distante do padrão exigido, maiores as chances de discriminação. Tenho amigas lésbicas que me disseram que elas aceitam melhor uma gordinha, por exemplo, que um homem hétero aceita. Agora, quanto a ser uma punk cheia de piercings, por mais que ela será discriminada pelo padrão dominante, ela também fará parte de um grupo. Será elogiada pelo seu estilo (que inclui consumismo). Gorda não faz parte de grupo nenhum. Não é um estilo. Ela não será elogiada nunca, em nenhum grupo.


Cris, conheço bastante mulher, principalmente mulher mais velha, independente, que não quer saber de um homem que não esteja no mínimo no mesmo patamar socio-econômico que ela. Isso é ruim, eu acho. Eu já fui cupido profissional, e ouvia várias que diziam “Se ele não tiver carro, nem me apresente!”. Mas essas mulheres estavam em quantidade bem menor à dos homens que diziam “Se não tiver 25 anos pra baixo / se não for magra / se não for loira etc nem me apresenta”.
E reconhecer o próprio privilégio já é um grande passo, a meu ver.

lola aronovich disse...

Barbara, não sei o que dá pra fazer, fora continuar lutando pra mudar o sistema. A gente vê que homens “trophy-husbands” não existem. O próprio termo não existe! E não existe porque, primeiro, existem pouquíssimas mulheres ricas no mundo que podem pagar pra ter um marido lindo, e segundo, porque a gente não avalia o marido da outra pela beleza, necessariamente, mas por uma série de qualidades, e terceiro, porque não há tantos homens que se sujeitem a isso. Então é necessário uma grande chacoalhada no sistema mesmo, pra que mais mulheres também possam ser bem-sucedidas, e sejam avaliadas por outras características que não passem pela sua aparência. E por um sistema em que exibir mulheres como troféus seja visto como uma enorme estupidez, ao invés de um símbolo de status.


Su, ADORO essa foto da leoa dando esporro no leão. Mas como assim, ele passou a noite na gandaia? Praonde que ele foi?

lola aronovich disse...

Gi, o que vc quer dizer com “não faço a mínima questão de 'ser algo pra homens' somente se esses homens merecerem”?! Como assim, “merecer”?


Iaeee, é uma droga mesmo. As pessoas ficam acusando a vítima, não os estupradores! Não faz sentido nenhum pra mim.

lola aronovich disse...

Ana, por quê? Não entendi.


Marcos, acho Dogma muito chato, sem graça, pretensioso. Mesmo Deus sendo uma mulher...

M. Ulisses Adirt disse...

Nossa... só li este artigo agora... Fiquei babando. Lindo, lola.

Lisa disse...

Cheguei aqui através da polêmica do Nassif, não conhecia o blog e nem estava tão informada na questão das blogueiras feministas. Adorei o texto, na verdade os textos, gostei de vários.

Parabéns.

Thiago beleza disse...

É foda Lola... Incrível como alguma spessoas entendam privilégios como uma ofensa terrível... Vc sabe bem o quiprocó por causa do fechamento do Belas Artes em Sampa. Ao falar dos privilégios que tinham os que reclamam pelo seu fim, fui tachado de tudo. Foi uma boa experiência pra entender o emputecimento das feministas no caso de quem esperava docilidade com o caso das Feminazi. Enfim, acho lamentável que alguém de esquerda ainda pense assim, mas, é a vida, né? vamo tocar a luta que tem mto muro pra ser derrubado ainda

Magali Pedro disse...

Contribuo com mais uma: é ser tratado pelo sobrenome em entrevistas e reportagens (quando se trata de profissionais), enquanto as mulheres são tratadas só pelo primeiro nome (as exceções são raras). Brilhante texto.

Rodrigo Souza disse...

É ter toda uma ciência feita por homens para legitimar o seu comportamento e o seu domínio como "natural" e "instintivo".

Mediante o bom uso do método científico, acho pouco provável que outra conclusão (salvo em cadeiras muito sujeitas a subjetividades) venha a ser desenvolvida mesmo com todo um corpo de pesquisa feminino. É algo para se averiguar se pesquisadoras mulheres tendem ou não a concluir pesquisas comportamentais de cunho biológico de forma a "legitimar" a sexualidade masculina.

E mesmo a existência dessa "legitimação" por parte da ciência, não vai ser nada além de uma explicação biológica com traços antropológicos para um determinado comportamento. Para tal argumento se tornar uma desculpa para se continuar agindo de certa maneira é algo que está fora da esfera da ciência e dentro da esfera da ética, da moral, do caráter.

Anônimo disse...

Saudações Lola,

é a primeira vez que a visito nesse rico espaço e por estar aberto para comentários, vou escrevendo sem pedir licença [risos].

Sobre os "privilégios" de ser homem eu diria que podemos considerar um trade-off na verdade. Como você bem mencionou, não é só de privilégios e vantagens que vivem os seres do universo masculino. Estou considerando, em geral, que o que significa desvantagem para os homens, por outro lado, significa vantagem para as mulheres, de maneira complementar. Assim, se nos livrarmos das emoções e raciocinarmos um pouco, podemos encontrar várias vantagens em ser mulher.

Acrescento ainda um ponto específico cujo arrisco mencionar como uma vantagem adimensional que as mulheres possuem sobre os homens: a maternidade. Esse é um privilégio natural que a mulher deve/deveria reconhecer. Este fenômeno, como um todo, homem nenhum irá vivenciar.

Bom, sem me alongar, pergunto: e se fosse o contrário? Se os aspectos e valores considerados como vantagem para os homens pertencessem às mulheres? Quem seriam os satisfeitos e os insatisfeitos?

Para finalizar, parabenizo-a pelas discussões e pelo conteúdo do blog.

Jonatas disse...

Desenterrando mais um post seu de muito tempo atrás (você sequer lê isso?)

Enfim, achei engraçado uma colocação sua falando dos "privilégios de ser homem"

- "É ser escutado porque pode ter algo interessante a dizer, não por ser atraente."

Esse é um exemplo um tanto inverossímil. Você falou sobre a importância de reconhecer privilégios de seu grupo. Reconheça esse. Mulheres ganham muito em detrimento da beleza. É claro que há dois lados da moeda devido ao que a sociedade considera "Beleza feminina" (puxa, é tão difícil falar desse assunto sem soar machista!), mas tomando que uma mulher é vista como bela, ela vai ser melhor tratada, tendo vários dos privilégios que você atribuiu ao grupo "homem branco". Tomamos um exemplo, uma reunião de negócios, você tenta expressar uma opinião mas não é ouvido. A sua colega atraente fala a sua mesma opinião, é ouvida, relevada e faz sucesso, sendo promovida, enquanto você que era tão capaz que ela continua na mesma. Dizer que ser atraente é uma desvantagem é reclamar de barriga cheia. Vai contra tudo o que você disse anteriormente sobre o "privilégio".

- "É não ser considerado “disponível” apenas por estar sozinho."

Já ouvi esse tipo de "argumento" sobre privilégios masculinos e nunca entendi. Como isso é um privilégio? Porque mulheres acham isso uma desvantagem? O que sequer significa essa frase?

"É não te disserem o tempo todo que, pra você ser um homem completo, você precisa ter filhos."

Quanto a essa frase, vou emitir uma opinião completamente subjetiva: Ter filhos te torna um ser humano mais completo, independentemente do do teu sexo ou orientação sexual. Não estou falando foder e dar a luz e largar um bebê por aí. Estou falando em criar um ser humano que será capaz de fazer a sociedade melhor. Respeito àqueles que tiveram por opção não procriar, mas
respeito muito mais uma pessoa quando conheço suas crias e vejo que são crianças ou adultos bons. Ou seja, para mim, para que alguém seja um ser humano completo, essa pessoa deve criar e educar seus filhos para que também se tornem seres humanos completos.

Anônimo disse...

Apesar de tudo isso que foi escrito,acho que existem mais desvantagens que vantagens em ser homem.

A mulher,desde criança,pode brincar de carrinho,de bola e de pipa,já o menino não pode brincar de roda,nem de boneca,nem de casinha sem ser duramente reprimido por causa disso.

A homem é pressionado a expressar sua sexualidade desde a mais tenra idade,quando seu corpo não está sequer preparado para o sexo,já a menina não é pressionada assim. Ou seja,a menina pode viver sua infância sem precisar mostrar que é fêmea e gosta de macho.

Uma mulher beijar o rosto de outra,é normal. Um homem beijar o rosto de outro,é "boiolagem".

Se duas mulheres andam de mãos dadas,são duas boas amigas. Se dois homens andam de mãos dadas,são dois gays.

Se uma mulher diz NÃO a um homem que a paquera,é normal. Se um homem diz NÃO a uma mulher que o paquera,ele é um gay.

Uma mulher pode falar grosso e até ser considerada símbolo sexual (Malu Mader). Um homem quando fala fino é sempre um "boiolinha ridículo".

Personagens femininos andróginos, como Jane Calamidade e Patty Pimentinha,são admiradas e respeitadas. Personagens masculinos andróginos são sempre motivo de riso e desprezo (Gaiola das Loucas,Capitão Gay...).

A mulher pode usar calça e saia,o homem só pode usar calça.

A mulher pode usar maquiagem,o homem não.

Quando festejamos um casamento,o que mais ansiosamente aguardamos é a entrada na noiva,e não do noivo. Quando entra a noiva,todos se levantam,as cabeças e olhos a procuram.

O homem fica careca,a mulher não.

A mulher vive mais e se aposenta mais cedo,o homem vive menos e se aposenta mais tarde.

A menina é criada com menos rigidez que os meninos. Ninguém diz a uma menina que ela tem ser forte e saber brigar,para não apanhar na escola ou na rua.
Os meninos aprendem desde cedo que o mundo é uma "selva".

Numa guerra,só os homens tem que ser corajosos e arriscar suas vidas pelas mulheres e pelas crianças.As mulheres não são obrigadas a ser corajosas,nem a arriscar suas vidas.

Acho que só isso que listei acima é o suficiente para qualquer um perceber que não existem grandes vantagens em ter nascido homem.









Felipe Lobo disse...

Não sei quais homens são privilegiados, só se forem os banqueiros, donos de multinacionais e altos políticos. Eu preferiria ser uma mulher na Alemanha do que um homem no Afeganistão e duvido que alguém aqui questione isso. Se fala que o homem ao andar a noite precisa se preocupar 'só' em ser assaltado, vale lembrar que homens são alvos da violência policial e não raro executados ou mortos por traficantes aos ser confundidos com outro indivíduo; o que quase nunca acontece com mulheres.

E como os homens são mais educados e civilizados atualmente, também estão mais vaidosos e se depilam, barbeiam, penteiam, se vestem melhor, até porque as mulheres reparam nisso.

Homens não são amigos de homens e nem mulheres são amigas de mulheres. Essa estória de 'camaradagem' entre homens é uma farsa, amizade masculina é muito rara, só são amigos quando as coisas estão boas, já entre as mulheres parece ser mais comum no momento que mais precisam. Eu por exemplo só tenho amigas.

As mulheres também são atraentes depois dos 40 ou 50 anos.

Mas tem coisas do machismo que são perpetuadas pelas próprias mulheres, como a ditadura da moda e beleza. Pois os homens hétero estão pouco se lixando.