quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

RETROSPECTIVA PESSOAL 2009

Lolinha desastrada corta a deliciosa torta de frango da mãe no natal.

Minhas retrospectivas pessoais são sempre parecidas: o meu balanço do ano é bom. Todos os anos são bons. Eu adoro viver, adoro estar viva, considero um privilégio. Não
me lembro de um só ano nos meus 42 anos de vida que eu possa dizer: esse foi um ano ruim. Provavelmente o pior foi 1993, quando meu amado pai morreu. Mas mesmo aquele ano gerou mudanças importantes, como sair de SP após 16 anos e vir pra Joinville, onde comprei minha casinha.
Ok, mas vou tentar me concentrar em 2009. Teve o blog, que novamente me tomou um tempão, e foi super gratificante, repetindo a experiência de 2008 (quando comecei o blog). Posts todos os dias, muitos e bons comentários, aumento no número de visitas, e, no final de novembro, a chance de ganhar algum dinheiro com isso. Ou seja, só coisas positivas. Continuei também no jornal, pelo 12o ano seguido. Sem novidades ― isso é bom. E eles querem que eu siga escrevendo mesmo morando em Fortaleza, o que me deixa muito contente.
Em junho defendi a minha tese de doutorado em Literatura em Língua Inglesa. Isso, lógico, foi fundamental. Mas foi também previsível. Foi o que me dispus a fazer quando entrei no programa de doutorado da UFSC, em agosto de 2005. Se eu não tivesse terminado o doutorado, aí sim estaria em apuros, porque teria que devolver todo o dinheiro das bolsas investido em mim. Portanto, não concluir o doutorado não era (nem nunca foi) uma opção. Aliás, não acredito que alguém entre conscientemente num mestrado ou doutorado já pensando “Não vou terminar”. Muitos desistem no meio do caminho, porque é duro e solitário, mas nunca é premeditado. Enfim, foi um alívio acabar de escrever a tese e receber o título. A defesa em si foi decepcionante, mas ficou no passado.
Houve o desperdício de fazer alguns meses do curso de Letras a distância. Desperdício de tempo e, principalmente, de dinheiro. Foram 1,212 reais jogados fora. Olhando pra trás parece ter sido uma grande besteira, mas todos os meus amigos recomendaram que eu fizesse o curso. Estávamos em março, e eu acompanhava os editais de concursos que apareciam nas federais. 90% pediam graduação na mesma área do doutorado (no caso, Letras). Eu não podia adivinhar nunca que em junho surgiriam três editais (pra Curitiba, Maringá e Fortaleza), e nenhum pediria diploma em Letras.
Assim que defendi a tese de doutorado, comecei a me preparar pro concurso da UFC. E aí todas vocês acompanharam o sofrimento e o resultado bárbaro. É muito bom passar no primeiro concurso que a gente faz na vida. E fez bem pro meu eguinho (machucado pela nota 8,78 recebida na defesa do doutorado) passar logo em primeiro. Sem falar que eu me redimi um pouquinho pra mim mesma, porque não costumo ser boa aluna. Eu quase sempre tiro as melhores notas (tirei A em todas as minhas matérias do mestrado e doutorado), mas isso não faz de mim uma boa aluna, porque sou enrolona. Boa aluna, pra mim, é quem é disciplinada, quem não deixa tudo pra última hora, quem faz as coisas com capricho. Essa certamente não fui eu nem no mestrado nem no doutorado. E o maridão me conhece. Portanto, quando apareceu o concurso da UFC, que indicava que eu teria uns dois meses pra preparar 15 pontos, ele tinha dúvidas se eu iria conseguir. Eu não tinha muita dúvida porque fazer um concurso em outro estado é caro (uns 1,700 reais), e não gosto de jogar dinheiro fora. Como eu havia me inscrito (duas vezes, já que a UFC não aceitou minha inscrição da primeira vez, porque eu ainda não havia defendido a tese), teria que ir preparada. E eu me preparei bem, estudei bastante, o que foi uma surpresa agradável pra mim, isso de saber que yes I can.
Mas imaginem, o concurso eu passei no final de agosto. Perguntem o que fiz de lá pra cá. Basicamente nada além de escrever pro blog e pro jornal. Dá a impressão de um tempão jogado fora. Eu devia ter tentado publicar uns papers (essencial pro meu currículo), escrito artigos acadêmicos, lido mais. Ou até descansado. Não relaxei, fiquei ansiosa esperando a posse (nem a nomeação saiu ainda!).
Financeiramente este segundo semestre foi um desastre também. Bom, só não foi um desastre completo porque eu estava preparada. Sabia que minha bolsa acabaria em junho, e que haveria um hiato entre o fim do doutorado e o início de um novo emprego. Tudo dentro do previsto. Mas, infelizmente, acreditei demais no entusiasmo do departamento de inglês da UFC, que previa que a contratação acontecesse já em novembro. E, por isso, perdi os poucos alunos particulares que tinha, que pensaram que eu me mudaria logo pro Ceará. Também por isso gastei dinheiro fazendo alguns exames médicos em setembro (que terei que refazer, pagando de novo).
Digamos que 2009 foi um ano de finalizações. Terminei o doutorado (e, no fundo, seis anos de vida acadêmica quase ininterrupta, salvo um semestre em 2005), e estou me despedindo de Joinville, que tão bem me acolheu durante 16 anos. 2010 será cheio de desafios: nova cidade, novo emprego, nova casa, uma mudança incrível (e um tantinho assustadora, às vezes. Eu só quero que março chegue logo, porque aí parte das dificuldades teram passado). Mas tudo isso foi planejado. Lembro quando, antes do início do doutorado, eu me sentei com o maridão e previmos o que iria acontecer: que em 2007 passaríamos um ano no exterior por causa do sanduíche (a gente pensava que seria na Inglaterra; acabou sendo em Detroit ― ainda bem, já que voltamos com dinheiro no bolso), e que, em 2009, quando terminasse o doutorado, faria concursos pra qualquer universidade federal em qualquer lugar do país (a gente sempre falava em Acre e Rondônia). Nosso sonho era mesmo morar numa capital nordestina (de preferência, Natal ou Fortaleza; depois o pessoal nos convenceu que o quente mesmo é João Pessoa), mas eu imaginava que, com meu currículo de recém-doutora, não conseguiria passar de cara num concurso concorrido. Os planos eram que a gente morasse uns dois ou três anos num fim do mundo (desculpe, pessoal do Acre e Rondônia, mas os concursos não eram nem pras capitais, e sim pro interior), e, depois que meu currículo melhorasse um pouco, aí sim eu tentaria passar num concurso numa capital nordestina. Estou queimando uma etapa.
Vamos ver o que vai acontecer em 2010. Meu maior desafio será administrar o tempo, pra que eu possa me dedicar bem ao trabalho e à publicação de artigos e ainda assim continuar com o bloguinho (com menos posts). No final do ano que vem eu escrevo uma outra retrospectiva chata pra dizer que 2010 foi muito bom, mas também, qual ano não é? E um ótimo 2010 pra vocês também!

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

NOS TEMPOS DO JOHN TRAVOLTA

Revi Grease, Nos Tempos da Brilhantina. Tenho o musical em dvd. Aliás, se tem um gênero que vale a pena colecionar é musical, porque a gente (ok: eu) não se cansa de assistir. Tenho vários: Cabaret, Cantando na Chuva, A Noviça Rebelde, Amor Sublime Amor, Núpcias Reais (aquele em que o Fred Astaire dança no teto), Os Embalos de Sábado à Noite, South Park, Chicago, e o indiano Bride and Prejudice. Outro dia a gente gravou três que eu amo, Hair, A Pequena Loja dos Horrores, e Across the Universe. Mas não é a mesma coisa. Meu aparelho de dvd tá fazendo corpo mole pra ler downloads. E por que não tenho Sweeney Todd, que certamente é um dos musicais mais marcantes dos últimos anos?Mas falando em Grease, de 1978: é um clássico. Indiscutivelmente, o John Travolta é um ícone. Eu nunca o achei bonito, mas ele tinha (tem ainda) presença, carisma, e um jeitão de não se levar muito a sério, além de ser um dançarino excepcional. E dá pra notar que o Tarantino viu Grease várias vezes antes de compor o personagem do John em Pulp Fiction. Tem até uma parte em que as meninas passam pra Sandy (Olivia Newton-John) uma garrafa pra ela beber pelo gargalo e, diante da sua hesitação, dizem “Pode tomar. Não temos sapinho”. É a mesma fala que a Uma Thurman diz pro John em Pulp Fiction, quando ela passa seu milk-shake de 5 dólares pra ele tomá-lo com canudinho. Só que aí ele responde: “Talvez eu tenha [sapinho]”. Acho que fazendo um esforço, a gente pode interpretar todo aquele encontro do John com a Uma (num bar que imita os anos 50, ainda por cima) como uma releitura de Grease. Quem eu mais gosto de Grease depois do John é a Stockard Channing, que faz a líder das Pink Ladies. Adoro a cena em que ela canta “Look at me, I'm Sandra Dee”, parodiando a Sandy feita pela Olivia.Tadinha, nada contra a Olivia, mas seu personagem é um zero à esquerda, puro água com açúcar. Pelo menos ela se transforma sozinha no final (ao contrário da transformação forçada de Clube dos Cinco, em que a Molly Ringwald “ajeita” cabelo, rosto e vestuário da Ally Sheedy para que ela possa ser aceita pelo Emilio Estevez, o que nega todo o espírito do filme). E a transformação da Sandy é mais que física, é de atitude. Ela parte do princípio que é superficial e que deve ter mais substância que a sua aparência revela, e daí passa a usar couro justo e cabelo encaracolado. Mas talvez a partir daí ela pare de ficar toda feliz pelo John dar-lhe seu anel, pois isso representaria que ele “a respeita”. Ela se cansa de ser a Sandra Dee dos pobres.Pra ser franca, Grease é uma tragédia nos intervalos dos números musicais. Diálogos sofríveis, atuações exageradas, e toda uma galera que tem que ter 18 anos e não aparenta ter um dia menos do que 35. Mas “Summer Nights” (minha cena favorita de todo o filme é quando os garotos dançam passinho por passinho na arquibancada), “Grease Lightning” e o concurso de dança da escola valem qualquer sacrifício.Minha cena preferida de Grease. Qual é a sua?

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

COMPRAR OU ALUGAR UM IMÓVEL?

Muitas leitoras queridas, entre elas a Aiaiai, sugeriram que eu alugue uma casa em Fortaleza, ao invés de comprar uma. Bom, em primeiro lugar, talvez eu tenha mesmo que fazer isso, se não conseguir vender minha casinha em Joinville a tempo (até janeiro, mês que vem, ha ha), o que parece bem provável, visto que a imobiliária que contratamos trouxe uma alma pra ver o imóvel em três meses (já mudamos de imobiliária; até agora, nada). E, claro, se não encontrarmos uma casa que nos agrade em Fortaleza, vamos alugar um local e continuar procurando.
Alugar muitas vezes é um bom negócio. Li que, até antes do final da Segunda Guerra, era normal pros americanos de classe média alugarem a casa onde moravam. Só depois de 1945, com a necessidade de se criar uma superpotência econômica, é que foi construído esse mito da casa própria, de que todo mundo deveria possuir seu pedacinho de terra (aliás, prometo que vou encontrar esse artigo fascinante e falar mais sobre ele). Pessoalmente, não acho que alugar seja dinheiro jogado fora, ainda mais se você tiver dinheiro pra comprar o imóvel à vista. Eu li (e recomendo) Casais Inteligentes Enriquecem Juntos, em que Gustavo Cerbasi indica que alugar é quase sempre mais vantajoso que comprar, contrariando aquele sonho da casa própria. Por quê? Porque se você não gosta do imóvel, pode se mudar sem grande dor de cabeça. Se você troca de emprego, pode alugar uma outra casa mais próxima do trabalho. E até financeiramente vale a pena: aplicando os 170 mil que eu gastaria comprando um imóvel, com juros de 0,6%, eu teria um rendimento de R$ 1,020 por mês. Com um valor mais baixo que esse, imagino, poderia alugar uma boa casa no Benfica (para Cerbasi, para que haja vantagem financeira, o valor do aluguel deve ser aproximadamente metade dos juros conseguidos. Ou seja, no meu caso, eu teria que encontrar um aluguel de R$ 510 mensais, o que me parece meio impossível praquela localização).
Após apresentar vários argumentos em favor do aluguel, Cerbasi diz: "A conclusão que quero levar a vocês não é a de que sempre se deve alugar e nunca comprar. Pelo contrário. A decisão de compra será melhor depois de atingida a estabilidade financeira, profissional e familiar ou quando surgirem oportunidades de real investimento e vocês tiverem recursos para aplicar em algo que multiplique seu capital. Mas será um mau negócio quando os recursos poupados forem insuficientes para comprar uma casa e manter o padrão de vida da família" (81). Quer dizer, eu me encaixo mais na situação em que vale a pena comprar.
Mas a minha situação é um pouco diferente. Tem a minha mãe. Eu gostaria de repetir o esquema que temos em Joinville, de morarmos no mesmo terreno, cada uma com a sua própria casa, separada e independente. Todo mundo sabe o quanto é difícil voltar a morar com os pais depois de adulto. Portanto, eu não gostaria disso, e acho que minha mãe tampouco. O esquema que temos aqui é perfeito: os gatos têm duas casas a sua total disposição, minha mãe cuida da nossa casa quando viajamos, e nós da dela, quando ela viaja, e temos como subsidiar boa parte dos custos dela com internet, água, e telefone. Compartilhamos alguns eletrodomésticos, como a máquina de lavar roupa, por exemplo. E o maridão, vulgo “genrinho querido”, ajuda a consertar coisas. Sem falar que, por enquanto, ela está forte e 100% saudável, mas ela é uma pessoa idosa (embora não aparente pelas fotos — eu quero ter a aparência dela quando crescer), e fica insegura em viver completamente sozinha. O plano era que, se eu passasse num concurso no Acre (eu imaginava que faria concurso pra qualquer lugar), ela voltaria a morar em SP. Compraríamos uma quitinete lá pra ela, e alugaríamos um lugar pra gente no Acre. Mas, assim que ela soube do concurso em Fortaleza, não quis nem ouvir falar de morar em outra cidade que não fosse Fortaleza.
Ou seja, se fosse pra alugar um imóvel em Fortaleza, precisaríamos alugar dois, um pra gente, outro pra minha mãe. Comprando uma casa, daria pra fazer as reformas necessárias pra dividir o imóvel em dois, com duas entradas independentes e duas cozinhas.
Também tem um outro lado referente à isenção fiscal. Quando a gente vende um imóvel, precisa pagar pro governo 15% do valor em cima do lucro. Nossa casa de Joinville está avaliada no imposto de renda como valendo apenas R$ 45 mil. Isso porque, pra subir o valor na declaração, é preciso apresentar notas fiscais indicando melhorias, e já faz tempo que melhorias não são feitas por aqui (a última, que eu saiba, foi quando a rua foi asfaltada e fizemos a calçada). O imóvel daqui se valorizou (está à venda por 128 mil) não por causa de reformas recentes, mas por que toda Joinville se valorizou. O preço dos imóveis realmente subiu muito por aqui. Mas isso não é algo que dê pra detalhar na declaração de renda.
Se a gente conseguir, digamos, 115 mil líquidos pela casa, teríamos que pagar 15% em cima desse lucro de 70 mil. Dá R$ 10,500 só de imposto! Um dinheirão. O governo abre mão dessa grana se o proprietário só tiver um imóvel (nosso caso) e comprar um outro imóvel no prazo de seis meses. Logo, se eu não comprar uma casa em Fortaleza até seis meses depois de vender a minha em Joinville, vou ter que pagar 10,500 de imposto. Acho que não compensa. E tem a mudança também. Por mais que uma mudança na mesma cidade não saia caro, tem todo o transtorno de empacotar caixas e mais caixas. Eu prefiro fazer uma mudança só: de Joinville pra casa mais ou menos definitiva em Fortaleza.
E tem os gatos, que já vão sofrer pra se adaptar ao novo lar. Ter dois novos lares em poucos anos seria demais pra eles, tadinhos!
E mais uma coisinha: todo mundo com quem falei em Fortaleza me disse que a cidade deve se valorizar muito até 2014, quando um dos jogos da Copa do Mundo for disputado lá. O pessoal jura que até lá o metrô sai, e o valor dos imóveis deve subir bastante. Uma pessoa, não lembro quem, afirmou que imóvel em Fortaleza só se valoriza. Quando atinge um patamar, não volta atrás. Só sobe.
Imagina que legal comprar uma casa em Fortaleza por 170 mil, morar lá por uns cinco anos, depois vendê-la por uns 220, e comprar uma casinha num lugar menor e possivelmente mais barato, como, sei lá, João Pessoa? Hein? Hein?

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

BÍBLIA PARA MENINAS E PARA MENINOS

No post sobre publicidade infantil nos EUA, eu mencionei de passagem que os experts descobriram que é mais eficaz vender produtos diferentes para meninos e meninas (como batatinha em embalagem rosa pra garotas). A Loy não perdeu a chance e observou:

Ontem eu achei numa coleção de livros uma aberrância relacionada à essa diferenciação de sexos desde tenra idade. Chama-se Biblia para meninos e Biblia para meninas. É para educaçao cristã. Repare por favor nos motivos que diferenciam as capas... para além do óbvio das cores, a capa da Bíblia para meninas traz na capa uma Arcazinha de Noé, que mais parece uma casa. Estática, simétrica, cheia de bichinhos organizadamente dispostos, e uma anjinha em um balanço.
Já a capa da Bíblia para os meninos tem na parte de baixo em destaque uma luneta, um pergaminho e uma concha, e é cercada por cordas, elementos que sugerem movimento e aventura. A arca está sendo construída, o que suponho que queira sugerir que ao homem cabe ser o provedor das estr
uturas da casa. A disposição dos objetos da imagem é toda desordenada, o que sugere que ao homem é dado e possível não ser simétrico (olhaí, eu falando disso de novo), não ser organizado - o que não se espera de uma mulher, pois sua função é ornamental (por isso a capa da Bíblia das meninas é toda ajeitadinha).

Espero que nenhuma comentarista fique com ciúmes, porque eu adoro todas(os) as minhas comentaristas menos os trolls, mas puxa vida, Loy, onde você andou durante toda a minha vida? Sua observação das capas está perfeita.
Nem gosto muito de falar de religião, porque, como não pertenço à nenhuma, não creio que tenha que meter o bedelho. Em compensação, como as religiões se metem na minha vida, pois não permitem que eu viva num Estado verdadeiramente laico, sinto que eu posso me intrometer um pouquinho.
Bom, sinceramente, acho a bíblia um lugar inadequado pra se ensinar tolerância e paz. E pra questões de gênero ela é pior ainda, já que foi escrita por homens com mentalidade de dois mil anos atrás que sentiam-se como se estivessem falando em nome de um deus patriarcal, barbudo, branco, e zangadão. Mas vamos falar só dos dois livrinhos. Há seções no fim de cada história. Na bíblia pra meninos elas se chamam “Tornando-se um homem de Deus” e “A vez da mamãe”. Pelo jeito, ler historinha pra criança é papel exclusivo da mãe. Homem que é homem não se senta com os filhos, é isso?
Na bíblia para meninas, o objetivo é que mãe e filha “compartilhem experiências, emoções e sentimentos, fortalecendo o amor e a cumplicidade entre elas, e estreitando os laços de comunhão com o Pai. O resultado é que, a cada história, mãe e filha vão aprofundando seu relacionamento, enquanto descobrem o plano de Deus para suas vidas”. As mulheres de praticamente todas as religiões sabem muito bem o plano que “Deus” têm pra elas — um dos motivos para que religiosos odeiem feministas, que combatem o plano. Neste post do ano passado, eu falei de um membro da direita cristã americana e seus planos pras mulheres. Uma amostrazinha grátis pra vocês:

A Bíblia, a palavra inspirada de Deus, nos ensina que é a vontade de Deus a mulher se casar, ter filhos, cuidar da casa e não causar problemas. Deus diz que a mulher deve trabalhar em casa. Uma família dá muito trabalho. Crianças precisam ser atendidas e treinadas. Pratos precisam ser lavados. Roupas precisam ser passadas. Refeições precisam ser preparadas. Ser uma mãe em tempo integral exige muito trabalho! [...] Não estou dizendo que é errado uma mulher trabalhar fora de casa SE o seu marido concordar.

Outra das pérolas é que menina até pode praticar algum esporte, desde que não seja muito a sério. Já mulheres adultas, não, pois isso as masculinaliza e toma tempo que elas deveriam estar cuidando do lar. Opa, parece que foi ontem que falamos nisso?
Interessante como, nesses dois livrinhos, só existe a mãe pra cuidar dos filhos. Pai, nessa história, só aquele com letra maiúscula. Aquele que manda.

domingo, 27 de dezembro de 2009

CRIANÇAS E DOAÇÃO DE ÓRGÃOS

Mais diálogos fofinhos entre o maridão e eu. No primeiro, eu devo ter lido alguma coisa em algum lugar (não me perguntem onde) e fui compartilhar minha nova sabedoria com ele.

Eu: “A inocência é uma invenção dos adultos pras crianças. Sabe por quê?”
Ele: “Pros outros adultos não darem um fim nelas?”
Eu: “Não, amor. É pra aplacar a culpa da utopia perdida”.
Ele: “Prefiro a minha explicação”.

-----
Eu, muito resfriada e um tantinho trágica: “Se eu morrer você doa todos os meus órgãos, menos o pulmão, que deve estar em condição deplorável por causa da gripe.”
Ele: “Tá, mas o fígado não vai dar pra doar também não”.
Eu: “Não fala assim do meu fígado! Diz alguma coisa boa sobre ele”.
Ele: “Ah, o seu fígado é super legal”.
Eu: “Eu sei que o meu fígado tá mal, mas deve ter gente com fígado pior que o meu, precisando de um transplante”.
Ele: “Gente viva?!”.

---
Se tiver alguém viva(o) por aí, não deixe de ler os posts do Terceiro Concurso de Blogueiras e votar na enquete ao lado. Aproveite que a internet tá mesmo um deserto esses dias pra ler posts mais antigos...

sábado, 26 de dezembro de 2009

ALGUÉM? ALGUÉM?

Ai, gente, meu bloguinho foi tão abandonado ontem e anteontem que fiquei na dúvida sobre postar algo hoje. Não lembro como foi no natal passado, mas pelo jeito ninguém se aproxima de um computador durante essa data. Só sei que fazia alguns meses que o blog não recebia menos de mil visitas num dia, e sabem quantas visitas ele registrou no dia 24 e 25? 780 e 720, respectivamente. Menos da metade do mesmo dia da semana passada! Isso me fez pensar se tem alguém lendo o bloguinho. E pensar no “Alguém? Alguém?” me fez lembrar do Matthew Broderick como professor naquele filme que tanto amo, Eleição. Ele quer saber se alguém sabe a resposta pra alguma questão histórica, e pergunta “Anyone? Anyone?”. A Tracy Flick (certamente uma personagem feminina das mais marcantes) da Reese Witherspoon levanta sua mão lá pro alto, e o professor a ignora.
Mas na realidade o “Anyone? Anyone?” esteve presente antes, em Curtindo a Vida Adoidado. Lembram? O pobre professor da foto é usado pra justificar uma carreira bem-sucedida de gazetagens.
Como não consigo fazer um post curtinho, vou aproveitar pra falar de uns itens que não falei antes. Por exemplo, eu não dediquei uma só linha ao diretor, roteirista e produtor John Hughes, morto de ataque cardíaco em junho. Curtindo é dele, assim como Clube dos Cinco, A Garota de Rosa Shocking, e outros clássicos teens da década de 80 que marcaram a minha adolescência.
E por falar em clássicos teens, fiquei bem triste com a morte (semana passada) de uma das estrelas de um grande filme, As Patricinhas de Beverly Hills. Tô falando da Brittany Murphy, tadinha. Ainda não se sabe o que causou a morte de uma moça tão jovem (32 anos). Espero que não tenha sido uma parada cardíaca causada por anorexia. Gosto muito da Brittany em Clueless (ela é a menina desastrada que a Alicia Silverstone tenta transformar). E acho que ela está bem como a namorada do Eminem em 8 Mile – Rua das Ilusões, e como a garota traumatizada tratada pelo Michael Douglas em Refém do Silêncio. Já como a jovem esposa de Recém Casados... Bom, ninguém sai ileso daquela bomba.
Outra notícia do showbiz (nunca pensei que usaria essa palavra) que me entristeceu foi o divórcio da Susan Sarandon e do Tim Robbins. Eles estavam juntos havia 23 anos. Formavam um casal politizado e ativista, e ainda por cima havia o bônus da Susan ser doze anos mais velha que o Tim. Opa! Agora vi que corre o boato que ela trocou o Tim por um jogador de ping pong de 31 anos. Bom, se tantos homens têm casos com moças com idade pra ser suas netas, por que a Susan não poderia? Mas o Tim não é de se jogar fora por qualquer mocinho. Por coincidência, eu ando louca pra rever Sorte no Amor, aquele filme onde os dois se conheceram.
Ok, o post já tá mais do que grande pra um blog fantasma. (Pensem na musiquinha do Marlboro e naquelas bolas de feno sendo levadas pelo vento). Anyone? Anyone?

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

HO HO HO, FELIZ NATAL, DIZ HOLLYWOOD

Sei o que vc tá pensando: o que essa imagem tem a ver com o natal?

Particularmente conheço mais gente que odeia o natal (porque a data traz pressões para sermos felizes) do que gente que adora o natal. Natal, pra mim, nunca teve o menor cunho religioso, e o cunho consumista terminou quando eu virei adulta (acho que só tem graça dar presentes se tem criança envolvida). Eu já achei o período um tanto deprê, mas hoje até gosto, porque é como se fosse um passe livre pra comer coisas muito gostosas, e sem culpa. Bom, se o natal é delicioso, não posso dizer o mesmo sobre filmes de natal. Esses quase sempre são detestáveis, sem graça, piegas, e veículos pra atores de terceira, como o Tim Allen. Mas existem filmes bons com cenas passadas no natal. Vou falar de alguns que me lembro:
- A Guerra dos Rose (1989) – lembro porque revi esta ótima comédia de humor negro outro dia, só isso (vou escrever mais sobre ela). Na cena natalina, Kathleen Turner e Michael Douglas já estão brigados, e um curto-circuito faz com que a árvore de natal pegue fogo e quase incendeie a casa toda. A culpa é do marido, que não admite a culpa, lógico. Típico.
- Truman Show (1998) – amo este filme, e gosto da montagem das pessoas que aproveitam pra aparecer ou pra tentar avisar o Truman (Jim Carrey, na melhor atuação de sua carreira, até agora) que sua vida não passa de um reality show. Uma dessas pessoas é um sujeito que sai de um pacote gigante de natal gritando pra um Truman menino: “você está na TV!”.
- O Estranho Mundo de Jack (1993) – esta bela animação com stop-motion (ou seja, cada quadro é fotografado) do Tim Burton une duas festas tradicionais pros americanos, halloween e natal. É uma gracinha ver um menino abrir seu presente e encontrar uma cabeça decapitada dentro. O filme é bem profético também, porque pouco depois uma turma cristã mais fundamentalista iria declarar guerra ao dia das bruxas e a qualquer celebração de feitiçaria, tipo Harry Potter.
- O Diário de Bridget Jones (2001) ― é só uma ceninha rápida de festa de natal em que Bridget observa o suéter ridículo do seu futuro amor. Mas qualquer momento que representa o dia em que a gente conhece o Colin Firth torna-se inesquecível. Melhor que isso, só quando Colin e Hugh Grant brigam pela gente, ao som de “Está Chovendo Homem”.
- Harry e Sally, Feitos um para o Outro (1989) ― na real, de espírito natalino nesta que deve ser a melhor comédia romântica de todos os tempos, só lembro da Meg Ryan e do Billy Crystal escolhendo um pinheirinho juntos. Hoje isso seria considerado ecologicamente incorreto (cortar uma futura árvore grandona pra me servir durante poucas semanas? Tô fora!).
- Simplesmente Amor (2003) ― como diz o título, várias histórias de amor que acontecem durante as festas. Nem lembro das cenas natalinas, mas querido papai noel, quero um Hugh Grant só pra mim de presente de natal.
- A Felicidade Não se Compra (1946) – James Stewart faz um candidato a anjo que, na véspera do natal, impede o suicídio de um empresário. Não sou a maior fã do mundo de Frank Capra, pois considero seus filmes pra lá de datados, mas muita gente ama de paixão a ingenuidade e falta de cinismo de toda a sua obra. Impossível encontrar um espírito natalino mais legítimo.
- Natal Sangrento (1984) ― só pra quebrar o encanto; não é um bom filme nem a pau. Um menino vê seus pais serem mortos por um cara vestido de Papai Noel. Como todos os serial killers de filmes de terror, ele fica traumatizado e cresce pra se tornar um grande matador de gente. Vestido, claro, de Papai Noel. Meio como se fosse o Jason de barba branca.
- Náufrago (2000) ― um dos mais assustadores desastres aéreos já visto nas telas acontece exatamente quando? Na noite de natal. Ok, talvez a gente se lembre mais de Náufrago na categoria “acidentes aéreos horríveis” que “natal”. O melhor acidente aéreo ainda é o de Vivos, sobre o time de hockey uruguaio nos Andes que precisa recorrer a canibalismo pra sobreviver. Graças ao bom velhinho, não tem nada a ver com natal.
- Prenda-me se For Capaz (2002) ― cada vez que revejo essa fantasia, mais eu gosto. E fico totalmente apaixonada pelo Leonardo Di Caprio. Tem uma cena ótima em que gato (Tom Hanks) e rato (Leo) conversam por telefone sobre a solidão no natal, já que ambos são criaturas sós.
E, como estou falando de cinema, o melhor presente de natal neste final de ano é mesmo ver Avatar, um filme que, além de ser um espetáculo visual (eu quero vê-lo em 3D!), é feminista, anti-imperialista, e ecologista. Cheio de ótimas mensagens pra gente se inspirar a fazer um mundo melhor. Eu também poderia ir ver Sempre ao seu Lado, sobre Richard Gere e seu cachorro. Porém, passei mal e quase inundei o cinema só de ver o trailer (veja aqui), e vou ter que pular o filme. Ordens médicas.

Por favor, votem no terceiro concurso de blogueiras. Falta só uma semana!