segunda-feira, 26 de abril de 2010

OLHA QUEM MANDA AQUI

Suzanne Eggins, em sua Introdução à Linguística Sistêmico-Funcional, nos lembra que, quando começamos uma conversa, qualquer coisa, mesmo que seja um “oi”, estamos esperando uma atitude da outra pessoa. Que a pessoa nos ignore também é uma resposta! Toda vez que alguém inicia uma interação, ela põe a outra pessoa na posição de se a pessoa quer ou não interagir. Ou seja, quando alguém determina o seu papel, determina também o da outra pessoa. Ao ler isso, só pude pensar nas cantadas de rua.
Por exemplo, quando um cara grosseirão fala alguma besteira pra uma mulher na rua, qual a reação que ele espera? Duvido que um carinha que grite “Você é a nora que minha mãe pediu a Deus” espere que a moça se vire e diga “Que legal! Você também é o genro que minha mãe pediu. Me leva pra conhecer a sua mãe!”. Será que ele espera que a moça diga: “Ok, meu telefone é tal, me liga”? Em geral ele não espera nem um “Obrigada”, e muito menos um “Vai pentear macaco” (minhas gírias decididamente são do século passado). Ele espera que a mulher permaneça calada, quiçá fique encabulada, quiçá enrubesça, e siga andando. Se a mulher para e fala alguma coisa, ela está saindo do seu papel de submissão, de objeto pra ser visto, admirado e avaliado ― e quem avalia está na posição de poder, sempre. O cara fica perdido, não sabe bem como seguir com a interação que iniciou. Às vezes responde com violência, mas quase sempre finge que não é com ele.
Os linguistas acreditam que o maior indicador de poder é quem fica sendo a pessoa que fala, e por quanto tempo. E quem começa. Note que, no caso do idiota que fala gracinha pra uma mulher na rua, o poder é todo dele. Ele que inicia, ele que fala. Talvez por isso que um carinha fique tão furioso quando uma mulher o manda passear: ela está tirando seu poder, deixando de ser um objeto pra se tornar um ser com autonomia de decisão.
Por coincidência, bem quando escrevia este texto, recebi um email de uma leitora de 21 anos de Jundiaí, SP, que reproduzo com sua autorização: “Eu estava indo trabalhar, descendo a rua de casa, e passaram dois moleques de no máximo 18 anos, e começaram a fazer psiu. Eu ignorei, e o cara começou a berrar do outro lado da rua: 'não vai olhar não, gostosa? Vamos lá em casa...' Me subiu o sangue... e olha que sou bem tranquila. Mostrei apenas o dedo do meio pra ele, e ele com a maior indignação do mundo começou a me xingar de horrores,de p*ta pra baixo... Tipo assim, ele acha que é um direito dele invadir verbalmente uma pessoa que está passando na rua, e ficou claro que o motivo da raiva dele foi o fato de uma mulher ter se manifestado contra a falta de educação dele. Sabe aquela coisa de se esperar que a mulher aguente todo tipo de violência e desrespeito quietinha, porque se não for pra eu virar e falar: 'Uau gatão! Isso era tudo que eu queria ouvir, vamos lá na sua casa, já que eu estava na vitrine mesmo!', deveria ficar quieta e engolir. Será mesmo que esses trogloditas acham que alguma mulher se sente lisonjeada com essas cantadinhas na rua? Eles não percebem que isso é INVASÃO?”.
Perceba como funciona o que a leitora descreve, que no fundo é a busca pelo poder: o “moleque” inicia a interação, e exige uma reposta. Não permite ser ignorado. Como a resposta não é a que ele gostaria, ele reage com agressividade. Assim, tenta se manter no poder.
Mas, respondendo à pergunta da leitora, acho que os homens percebem sim que isso é uma invasão. São treinados pra dizer coisas pra mulheres na rua e “avaliar o material”. Mulheres são treinadas pra baixar os olhos, não responder, e ter medo (obviamente não estou falando de paquera).
Sabe um comercial de bronzeador que eu odeio? Mostra um menininho olhando fixo pra uma garotinha que passa na praia rebolando, enquanto o guri ao lado dela põe seu braço nas suas costas, em posição de posse. E a locução é “Viu? Criança aprende rápido!”. Sem dúvida que aprende. A menina aprende a rebolar, o menino aprende a secar, o outro aprende que mulher sozinha é de ninguém, ou de todos, e portanto precisa ser de um homem só. Quantas vezes já vimos comerciais e filmes onde o menino aprende (geralmente através do pai) a cantar uma estranha na rua, e isso é visto como algo totalmente positivo? Quase nunca temos o ponto de vista da menina, ou a aprendizagem que ela recebe sobre como lidar com a cantada. Ah, e é tão ingênuo quem pensa que meninas de dez anos só recebem cantadas de meninos de dez anos...
Acontece que este é um claro processo de dominação, de manter o status quo. Menina aprende desde cedo que o mundo é uma selva, que é um perigo sair na rua, e que ela deve se ater ao ambiente doméstico, ou no mínimo descolar um macho para protegê-la... de outros machos. A gente vive sob o risco iminente de um estupro. A grosseria na rua (que, inclusive, muitas vezes envolve passar a mão) faz parte desse terrorismo. É um jeito do homem lembrar quem manda, quem fala e quem cala, quem avalia e quem é avaliada.
Ao nos mantermos caladas, deixamos que eles perpetuem esse poder.

85 comentários:

=draupadi= disse...

nossa, absolutamente em TODAS as vezes em que eu reajo, acabo ficando nervosa, tremendo, com uma sensação péssima... porque a reação do cara sempre se dá no sentido de fazer com que EU me sinta culpada por tudo o que aconteceu. Ou eles gritam, dizendo que não aconteceu nada, me mandam calar a boca, ou então resmungam que eu sou uma puta e afins, etc.. Da última vez, eu estava passando em frente a um hospital e havia 3 homens. Um deles, qdo eu passei, resmungou 'ô delícia', aí eu parei, olhei pra trás e perguntei ' - Você está falando comigo?' Ele olhou para o lado como se não fosse com ele... Daí qdo eu virei as costas, ele NOVAMENTE falou "delícia"... Aí o sangue ferveu, eu virei pra trás novamente e insisti pra que ele falasse olhando na minha cara.. xinguei ele de velho escroto e atrevido, e aí ele começou a conversar com algum ser imaginário dentro do hospital, como se alguém o tivesse chamado. Nossa, eu fiquei muito nervosa.
Perceba que, de fato, ele se recusou o tempo todo à interação. Insistiu no exercício do poder "vou falar delícia quantas vezes eu quiser", e, depois, quis continuar com o poder da voz, mas direcionando a fala ao ser imaginário, e não a mim.
Enfim. Um leão por dia... e só por hoje.

Anônimo disse...

Uma vez, eu estava andando na rua, totalmente alheia à realidade, e veio um cara por trás e tascou a mão na minha bunda. Virei pra trás e o "filho da puta" veio a jato. Percebi que o cara seguia por dentro de uma praça, cabisbaixo. Nada disse. Achei estranho, mas fiquei com um misto de sensações, medo, raiva, indignação.

Mas achei muito interessante este post, o fato de associar um fato comum e rotineiro à linguística. Simplesmente sensacional!

Beijo!

caso.me.esqueçam disse...

lola, infelizmente, eu tenho certeza absoluta que TODAS as mulheres que vao ler esse post tem pelo menos tres historias de cantadas altamente sebosas. eu poderia arriscar que elas tem uma dezena delas, mas vou ficar em "somente" tres historias. o curioso eh que as maes, as irmas e as namoradas desses babacas que cantam no meio da rua ja passaram por situacoes como essas, entende? como sera que eles ficariam se estivessem andando com suas maes e escutassem um cara dizer "eu comeria sua menstruacao de colherzinha" (pois eh, essa aconteceu com uma amiga do meu namorado)?

e você sabe, infelizmente, babaquice eh uma coisa universal. aqui na frança, por exemplo, ja fui abordada pelos arabes varias vezes. e aqui eles sao muito mais agressivos! nao se limitam ao "gostosa" e depois viram a cara fingindo que nao disseram nada. eles fazem questao de se certificar que a agraessao foi pesada.

uma amiga mexicana foi abordada duas vezes na mesma semana por figuras como essas. na primeira, o cara chegou nela, disse que ela tinha um "bom cu" e ficou perguntando pela nacionalidade dela e repetindo isso em voz alta dentro de um supermercado. na segunda vez, um outro cara chegou nela e disse que dava prazer ver o cu dela, que era grande. ela ficou sem entender. ele saiu e, como nao obteve resposta, o sadico voltou e perguntou "voce entendeu o que eu disse? eu disse que voce tinha um rabo grande". e, nossa, o que se faz com um cara desses? se ela chega ao ponto de encarar voce, de repetir, de olhar bem nos seus olhos, certamente ele nao se importaria com um "vai tomar no cu", entende?

as vezes acho uma tragedia nao ter 1,80m e 90kg.

caso.me.esqueçam disse...

*se ELE chega ao ponto de encarar voce...

Anônimo disse...

Putz, Lola, vu ser sincera, prefiro ignorar e fingir que não é comigo, me faço de sonsa mesmo.O ideal seria xingar, revidar, mas meu pai sempre me ensinou a não revidar nem provocação assim, nem xingo no transito( esse nem sempre consigo..srrsrs), pq vc não sabe se a pessoa que está ali é bandido, se tem uma arma na mão, se é um louco e o que pode fazer de vc revidar. mas é só por isso.
Pior que essas abordagens na rua, foi ouvir a PIOR cantada que ja ouvi na vida: eu de vestido soltinho, bonito,comprido, que realçava o corpo, mas sem ser justo nem transparente. Um cara me abordou no shopping, puxou papo, e começou a falar que estava muito bem naquele vestido, e eu, toda feliz, achando que tava rolando uma paquera legal, inteligente,... qdo ele me solta essa " vc fica tão bem nesse vestido que dá vontade de TIRAR ele agora... vamos la no meu carro???: (!!!) nem precisa dizer que mandei o cara passear , né?? kkkkkkk

Fabiane Oiticica disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fabiane Oiticica disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Giovanni Gouveia disse...

Comercialzinho nojentão, também, era o do batom, que um menino (menos de 10 anos) sai da barraca com uma menininha da mesma idade, aí outro menino sai da barraca com umas cinco meninas porque está comendo aquele batom que são vários "agarrados"...

Quanto às cantadas, nunca fui desse expediente, principalmente pela excessiva timidez, mas também por achar uma babaquice sem tamanho.

Fabiane Oiticica disse...

Caríssima Lola,

Sou uma leitora assídua, apesar de nunca ter comentado nenhum dos posts. Mas esse me pegou. Isso pq não admito levar cantada na rua. Sempre que posso, respondo, mando a merda..esse tipo de coisa. E sempre recebi respostas agressivas, incluindo até ameaças de violência física. Mas o que eu não vou aguentar é marmanjo panaca achando que pode falar gracinha e sair ileso, como se fosse o maior orgulho da raça masculina.

Agora tenho sofrido muito com os guardadores de carro da rua onde trabalho. Todo dia de manhã, chego no escritório, deixo minhas coisas e dou uma passadinha na padaria da esquina, pra fazer um lanche, pq não tomo café em casa. Vou com o mp3 e os fones no maior volume, pra não ter que ouvir nada no caminho. Mas é um festival de "Pq vc n fala comigo, gracinha." "Eu queria morder vc" e até a pérola "Ah..ela não veio de saia hoje" (saia no joelho, diga-se de passagem). Até mesmo o porteiro, veja bem, o porteiro do prédio do trabalho se acha no direito de falar gracinhas e depois reclama que eu não dou bom dia a ele. Esses eu ainda não falei nada, não sei..fica próximo do meu trabalho, é um lugar que frequento diariamente, fico com medo mesmo. Uma invasão e uma falta de respeito.

Isso me fez lembrar também uma discussão que tive essa semana no curso de francês (me desculpe desviar um pouco do assunto). Não sei como a conversa chegou em homossexualidade e tive que ouvir um derramamento de comentários babacas...um dos mocinhos do curso falou que um amigo dele bateu em um gay que deu em cima dele no banheiro de um bar. Então eu argumentei : esse mesmo "machão" que dá na cara de algum gay que demonstra interesse nele, se acha no direito de dar cantadas, passar a mão e talvez até agarrar uma mulher a força no meio da rua (falo isso pq moro em Salvador e durante o carnaval aqui, mulher não tem vontade própria).

Enfim...desabafo mesmo..não aguento mais esse tipo de atitude e desprezo qualquer homem que as tenha como conduta.

ps: desculpe pelos comments excluídos...era o mesmo conteúdo com alguns erros.

Marissa Rangel-Biddle disse...

Oi, Lola

belo post. Enviei para amigos meus comecarem bem o dia lendo seu texto. Eu, como todas as mulheres tenho historias de cantandas grotescas para contar.

Eu queria filmar a cara desses imbecis no exato momento em que uma mulher confronta a grosseria deles. Para ver se com uma camera nas fucas deles talvez os constrangessem.

bjks

Ághata disse...

Lola, olha isso aqui:

http://super.abril.com.br/superarquivo/2005/conteudo_125647.shtml

Vê se não dá vontade de chorar??
Na matéria da revista, o cara ainda chama a vênus de willendorf de 'primeira peça pornográfica'!!!!

Mas que merda!!! Não aguento uma coisa dessas!! A gente chama de quê??? Ignorância? Burrice? Revisionismo histórico? Desonestidade intelectual?? Marketing de pornô??
Mas que droga...

Esse povo jura que consegue eleger Playboy a revista artística, ah, vai tomar lá onde o sol não bate!!!

Aline Schmitt disse...

O triste é que até que a gente perceba que esse tipo de assédio não tem nada de pessoal, que se trata de uma demonstração de poder de um sexo sobre outro, quanto tempo a gente gasta se auto-avaliando ou se perguntando qual a intenção por tras disso... Se os caras são capazes de achar mesmo que estão nos agradando com esse comportamento...

O The Hathor Legacy tem uma série de posts sobre o assunto, vale a pena dar uma lida:
http://thehathorlegacy.com/why-if-you-think-harassment-is-flattering-you-are-stupid/

http://thehathorlegacy.com/why-if-you-think-women-should-be-flattered-by-your-harassment-you-are-stupid/

Eu não reajo. No meu caso, acho perda de tempo e de energia. Agora que eu entendo que eu não importo nessa interação e que a agressão não é dirigida a mim, mas ao meu gênero, eu simplesmente ignoro. Porque agredir verbalmente não é do meu feitio e eu nem saberia responder a altura (ou melhor, ofender a altura). Qual seria a resposta para: "Quantas meninas lindas! Se eu não fosse bixa comia toooooodas!" ou "delícia, hein? se não fosse casada te chupava todinha!"

Acho que a única reação que compensaria, e que eu me arrependo de não ter feito, foi quando eu passei por um grupo que esperava na calçada pra entrar no trabalho. Eu não lembro o que ouvi, apaguei da memória, mas eu bem que podia ter reclamado com a gerência deles, e esperado que eles ao menos fossem repreendidos por alguém a quem eles teriam que ouvir.

Aline Schmitt disse...

Mari,
esse video existe! e é um barato:
http://www.youtube.com/watch?v=EHIW9iRMSqY
com uma câmera na mão sim, se torna possivel reverter a relação de poder

Aline Schmitt disse...

Ah... E teve uma vez, eu tinha 15 anos e tava no Japão, peguei o trem bala e tinha um senhor no assento do lado do meu. Ele dormia e a cabeça insistia em cair no meu ombro. Nas duas primeiras vezes eu cutuquei ele de leve... Tipo, custava ele se inclinar pro lado da janela pra dormir?
Então na 3ª vez, eu reclinei meu banco o máximo que eu pude, inclinei o corpo pra frente e puxei a alavanca. O banco veio com tudo! huaiahiua
E a cabeça dele parou de cair pro meu lado...

Rê_Ayla disse...

juro q quando ouço estas coisas "fofas" saídas da boca de algum troglodita eu queria ter 1,90 e ser bem forte, pra dar um soco na cara do indivíduo...

Mariana Zanini disse...

Totalmente de acordo, Lola. E é engraçado como a mulher, quando resolve reagir à cantada, passa rapidamente de "gostosa" a "vadia". Me sinto tão, mas tão mal quanto recebo alguma cantada, que tenho vontade de cuspir na cara do ridículo que se acha no direito de invadir o espaço alheio dessa forma e se dirigir a qualquer mulher com grosseria.

Se a contra-reação dos homens a uma mulher que reage a uma cantada fosse apenas xingar de "vadia" (o que já é bastante), mas a gente sabe que muitas vezes pode não parar por aí... triste, muito triste.

E aqui vai um post bem bacana que tem tudo a ver com o assunto de hoje: http://carambolasazuis.wordpress.com/2009/11/17/cantadas-ofendem/

Beijos,

Mari.

cris comenta tudo disse...

Lola, estou vendo esse post, e relembrando quando comecei a trabalhar de vendedora, ai fui entregar o troco para um cliente e ele pegou na minha mão e me olhou com aquela cara de safado.

fecheia a cara na hora pra ele, ele sumiu por uns tempos, mas dpois q voltou a comprar na loja, mudou totalmente, passou a me respeitar e hj não faz uma gracinha q seja....
vc imagina, q nesse ambiente q eu trabalho, ouço coisas desagradáveis td santo dia, mas tenho sempre a msma atitude: fecho a cara, normalmente funciona.

Mariana disse...

Essa história da leitora me lembrou uma que aconteceu comigo. Um mendigo de Copacabana ficou me cantando e eu levantei o dedo do meio. O cara não só me xingou como atravessou a rua e quase me bateu. Admito que, depois disso, fiquei com trauma e nunca mais respondo, INFELIZMENTE ouço as cantadas calada.

Sim, Lola, vivemos acuadas pelo risco da violência inerente a essas relações de poder. Eu juro que me dá vontade de virar a mão na cara dos engraçadinhos que insistem nessas cantadas uó. Mas fiquei traumatizada e me sinto como se estivesse contribuindo pra manutenção desse poder ao não me manifestar... O que fazer no meu caso? ODEIO aguentar essas coisas calada, é um desserviço.

aiaiai disse...

A maioria dos homens tem esse tipo de atitude e os que não tem são vistos como boiolas pelos outros.

Mas, sempre tem o outro lado. As mulheres também acham bacana. Não estou falando de leitoras da Lola, mas do mundo em geral. Já cansei de ouvir mulheres - de todas as idades e classes - falarem que "cantada de operário de obra" massageia o ego, a autoestima, a vaidade, etc...E, pior, vejo mulheres mães de meninos que estimulam o comportamento de "avaliação" das meninas...
E se eu falo algo contra, sou logo taxada de radical, feminista (como se isso fosse um insulto), intelectualoide, e outros...

Ou seja, as mulheres precisam tomar consciência da verdade encoberta pelo discurso e, é claro, posts como esse da Lola ajudam muito.
valeu lolinha.acho que vou ler esse livro...já é a segunda vez que vc fala dele e acho que é realmente interessante.

Loy disse...

isso que a Mariana falou, "vivemos acuadas pelo risco da violência inerente a essas relações de poder" foi exatamente o que fiquei pensando. Mas também acho que o revide e a não aceitação sob qualquer forma possível pode ser um começo para ir contra essas relações de poder.
SAbe, tenho amigas que se sentem bem com isso, e acham que quando não mexem com elas na rua é que tem algum problema. Ficam se sentindo realizadas quando isso acontece; sentem-se feias quando passam por um monte de homens que as ignoram. Talvez um bom começo seja modificar os machismos e sua força em nossa própria mente - e, neste sentido, Lola, devo agradecer a você: seu blog tem cumprido muito bem esse papel .

Ana disse...

Oi lola! Adorei seu post.
Outro dia mesmo um cara passou a mão em mim e o máximo que consegui fazer foi xingar a mãe dele... e ele riu. Dá vontade de dar uma voadora no cara e depois chutar a boca, passar a cara dele no chapisco e deixá-lo deformado, mas o máximo que consigo fazer é xingar, rs.
Eu confesso que costumo ignorar as cantadas. A moda agora é o cara de desejar "bom dia", "boa tarde" e "boa noite" numa entonação sensual, sabe? Essas eu ignoro pq pelo menos não são ofensivas. Agora se o cara chama de gostosa pra baixo eu falo "olha o respeito". Não xingo o cara, mas fecho a cara e digo "olha o respeito"... o cara fica sem reação! Meninas, tentem isso, geralmente funciona.

Rita Gomes. disse...

Lola, smepre discuto sobre issoo com meu namorado.. ele é gringo e fica impressionado como os homens aqui, mesmo que nada falem ficam "secando" a mulherada.. olhando muito.. ontem dois caras estavam conversando, passaou uma menina, eles olharam tanto, hipnoticamente que ate perderam o rumo da conversa... Eu nao consigo achar uma explicacao.. biologico nao é, senao homens fariam isso em todo mundo e nao mais no brasil. Acho que é mania mesmo, um machismo tao arraigado que eles já nao questionam mais, apenas o fazem.

TODA vez que falam alguma bobagem pra mim eu mostro o dedo, as vezes ouco mais ainda, mas to me fodendo..

E se o bonito fala oi, bom dia ou algo do tipo (geralmente depois que agente passa, ou seja, nas costas, nao na cara), eu me viro e falo "bom dia, tudo bem", funciona, eles ficam sem graca.

E o que nao entra na minha cabeca é o porque eu sofrer esse tipo de assedio, sendo que vivo de jeans nao justo e camiseta, nada sexy.
Tenho dó das meninas que andam mais arrumadas, ou mais sensuais, é uma assedio constate.

Se vc pudesse fazer um post mais longo sobnre isso, sobre a raiz desse problema, seria otimo. Nao a questao deles falarem bobagens, mas sobre olharem pra bunda alheia mesmo que a mulher ou alguem perceba.

Beijos

Anônimo disse...

Rita,
Esse lance de estar de jeans-e-camiseta-nada-sexy infelizmente acaba não servindo muito para que os homens passem cantadas, sabe por que?

Porque nas cabeças machistas, o corpo da mulher é propriedade pública sendo por isso passível de ter sua privacidade invadida de acordo com a vontade da platéia masculina.

Tipo, bastou ser mulher pra levar cantada.

Uma vez aconteceu comigo assim: era inverno e frio pra caramba em Curitiba (ok, isso não é lá tão novidade). Fui à noite numa padaria a 4 quadras do QG (vulgo casa dos pais). Estava com um jaquetão largo, fechado do joelho ao pescoço, cabelos presos, tênis. Pois não te digo que passou um palhaço de bicicleta e falou um monte de obsenidades? Eu baixei a cabeça, pois o imbecil voltou e tentou falar mais umas merdas. Dae eu encarei, mandei ele tomar no CU, catei uma pedra e joguei nele. Ele tomou um susto tão grande que quase caiu da bicicleta. DEve estar correndo até hoje :P

Mas, digo uma coisa: foi PHODA!


Jux

Anônimo disse...

Rita,
Esse lance de estar de jeans-e-camiseta-nada-sexy infelizmente acaba não servindo muito para que os homens não passem cantadas, sabe por que?

Porque nas cabeças machistas, o corpo da mulher é propriedade pública sendo por isso passível de ter sua privacidade invadida de acordo com a vontade da platéia masculina.

Tipo, bastou ser mulher pra levar cantada.

Uma vez aconteceu comigo assim: era inverno e frio pra caramba em Curitiba (ok, isso não é lá tão novidade). Fui à noite numa padaria a 4 quadras do QG (vulgo casa dos pais). Estava com um jaquetão largo, fechado do joelho ao pescoço, cabelos presos, tênis. Pois não te digo que passou um palhaço de bicicleta e falou um monte de obsenidades? Eu baixei a cabeça, pois o imbecil voltou e tentou falar mais umas merdas. Dae eu encarei, mandei ele tomar no CU, catei uma pedra e joguei nele. Ele tomou um susto tão grande que quase caiu da bicicleta. DEve estar correndo até hoje :P

Mas, digo uma coisa: foi PHODA!


Jux

Mariana Costa Zattoni e Silva disse...

Eu estava GRÁ-VI-DA, com uma barriguinha saliente e um camarada que vinha correndo em minha direção (aparentemente com pressa) simplesmente passou a mão na minha bunda!!! Eu até me espantei com minha reação (acho que os hormônios ajudaram)... Tremendo, xinguei ele e falei pra ele voltar se fosse homem! Ele continuou correndo, e só deu uma olhadinha pra trás! Depois me deu uma crise de choro terrível!

Outra coisa que acho ABOMINÁVEL são as campanhas publicitárias de cerveja que exaltam a mentira, o adultério, a infidelidade... É um verdadeiro absurdo o que elas tentam "sutilmente" enfiar na cabeça das pessoas!

PS.: Adoro seu blog!

Bjs!
Mariana

Inês Barreto disse...

Lola,
veio sempre no seu blog, mas hoje tomei coragem de comentar para compartilhar uma cantada - como a maioria aqui. Mas acho que eu fui a única que tomou uma cantada religiosa.

Uma vez estava voltando do trabalho, atravessando uma das ruas principais na cidade onde moro. Um homem, em um carro parado no sinal, disse que eu estava com uma carinha muito brava e que precisava encontrar Jesus na minha vida. Fiquei tão perplexa na hora que eu nem sabia o que responder.

Pode parecer menos ofensiva do que as outras, mas para mim, que não sou cristã e não acho que ser religioso é sinônimo de gente decente, foi uma ofensa. Acho que o palerma intuiu que eu seria a pessoa ideal para ele soltar uma dessa.

Eu já respondi muita cantada grosseira, mas confesso que essa me pegou de surpresa e fui obrigada a ignorar.

Thiago disse...

Ótimo post.
Nunca fui afeito a cantar mulheres, mas reconheço que você levanta um bom motivo de reflexão pros homens.
Compartilhei o texto com amigos. Vale a pena.

Debora Regina M. Diniz disse...

Eu sempre reagi, desde novinha. Minha mãe sempre foi super feminista ensinou a mim e minhas irmãs a não nos acovardarmos. Eu revido, faço a pessoa passar vergonha. Falo em alto e bom tom para todos ouvirem: "Seu boçal, não tem vergonha na cára não?!!!" Geralmente eles saem de fininho, mortos de vergonha. Outros ficam dizendo que eu sou louca. Aliás eu sou daquelas que diante de qualquer abuso ou preconceito boto a boca no trombone, seja comigo ou com um estranho. Cansei de defender gente que eu nem conhecia porque nitidamente ela estava sendo tratada de maneira preconceituosa.

Carina Prates disse...

Adoro quando você faz esse tipo de post, Lola!

Mévia disse...

Uma vez eu estava indo pra faculdade (a PUC de sp, no campus que é travessa da Augusta), tipo 6 da manhã, eu toda de sono e moletom, um cara cruza comigo na calçada e diz algo como "Quero chupar os seus peitinhos!"
Acho que porque sou baixinha não chamo muito a atenção, foi a unica cantada desse nipe que recebi, mas foi automático, virei pra trás e xinguei o cara e toda a ascendência dele, e xinguei alto, no meio da Augusta, todo mundo olhando, hahaha. Ele olhou pra trás com cara meio de surpreso e começou a andar mais rápido!!!
Quando é movimentada a rua não tenho medo de apanhar não, porque acho que as pessoas me defenderiam e também porque sei correr :P Então respondo mesmo!!! Malditos

Lanika disse...

Eu normalmente leio e não comento, mas não podia deixar de compartilhar.

A primeira vez que aconteceu comigo, eu tinha 13 ANOS. Eu ainda tinha cabeça de criança. Estava acompanhando a minha mãe no centro de Niterói (no RJ) e andando do lado dela quando de repente eu senti uma mão beliscando e apertando a minha bunda. Eu tenho 34 anos e até hoje lembro da vergonha, do sentimento de invasão, da violência e da grande pergunta que eu me fiz: "Mas eu sou uma criança, PORQUE esse homem nojento beliscou a minha bunda?????" Eu olhei para trás e era um velho muito nojento. Fiquei com medo.

A maioria das vezes eu ignoro cantadas, e também nunca entendi como alguém podia enxergar alguma gostosura quando eu estava no auge da depressão, com olheiras, descabelada, de moletom e camiseta largona, chinelos de dedo, indo buscar meu filho na escola e ouvia coisas do tipo "que peitinho maravilhoso" na rua. Acho que até de burca esses homens cantariam a gente...

Teve pelo menos uma vez que eu respondi que foi legal. Eu também era bem novinha, uns 17 ou 18 anos e estava indo para o trabalho do meu pai visitá-lo quando um cara passou por mim e sussurrou perto do meu ouvido "18 centímetros, neném, vai querer?" Na hora me bateu uma presença de espírito rara e eu mandei, engrossando bem a voz e gritei: "Eu sou sapatão, PORRA!" Ele ficou constrangido e saiu se escondendo pelos cantos.

Grávida eu levei váárias cantadas, a maioria incrivelmente nojenta, no estilo "sempre tive tara por grávidas". Ninguém merece.

Carol disse...

Olha, eu já levei cantada suja, já me passaram a mão na rua também. Eu tendia a ficar assustada, xingar, retrucar.

Mas hoje tenho um certo medo sim. Não sei se o indivíduo é louco, se tem arma. Então eu simplesmente faço uma cara de c*. Mas de c* mesmo, alguma coisa como a cara que a Paris Hilton faria se estivesse na 25 de março. Reviro os olhos com tédio e passo a impressão "tá bom que um inútil coo você poderia ficar com uma moça como eu".

No máximo, alguém solta um "metida" ou um "esnobe". Bom, a natureza já me deu um nariz empinado (fisicamente). Quando é necessário, sei usá-lo.

Mas o pior é ver meus amigos fazendo isso. Sempre solto um "como vocês são idiotas, acham que vão conseguir alguma coisa?".

E eles: "claro que não, é só para zoar" (!!!!!)

Minha resposta geralmente é: "vivo cercada por pessoas de 11 anos".

caso.me.esqueçam disse...

tou me perguntando onde estao os homens que leem esse blog pra poder opinar aqui. quando o assunto eh politica, enchem o peito pra vir matracar muitas vezes coisas sem sentido. gostariam que se apresentassem agora e debatessem esse assunto. 31 comentarios e somente um homem ate agora.

Elaine Cris disse...

Incrível como a gente não conhece nenhuma mulher que nunca passou por nada disso. A gente vai ficando tão acostumada a esse tipo de invasão que eles aprendem desde novos com os mais velhos, que começa a achar normal. Eu costumo olhar feio ou ignorar, mas já bati boca na rua com cara que quis me ofender com obscenidades ou se achou no direito de me dizer que não tinha gostado do que viu... Como se a gente estivesse por aí pra ouvir julgamento e aprovação deles...
É incrível como eles acham que vc tem obrigação de gostar ou aceitar calada e envergonhada. Qdo a gente reage é mesmo comum que a agressão verbal piore.

Patrick disse...

Atendendo ao questionamento: nunca tive esse comportamento, e por causa disso passei por diversos constrangimentos na adolescência e na faculdade (de engenharia, ainda por cima), já que minha atitude não era aceitável nos anos 1990. Atualmente faço uma segunda faculdade e a impressão que tenho é que a situação melhorou um pouco, mas não o suficiente.

Serge Renine disse...

Aronovich:

Eu não sou nenhum feminista e portanto confesso que vejo muitas mulheres nas ruas que mereceriam uma salva de palmas, porém, falar coisas desrespeitosas para mulheres na rua é de uma covardia atroz. Tanto que se a mesma mulher estiver com um homem, o mesmo infeliz que a “cantou” fica com medo e não diz nada, Ou seja, é um babaca e medroso!

Unknown disse...

Também sou contra esse tipo de atitude por parte dos homens.

Por outro lado, várias mulheres aqui nos comentários "gostariam de revidar", "ter 1,90 para dar um soco" ou "dar porrada", ou seja, as mesmas atitudes machistas que vemos nos homens.

É parecido com a fábula do "Animal Farm" (Revolução dos Bichos). Dê poder a quem não tem, e em breve o oprimido se torna o opressor.

O correto seria lutar de forma organizada para caracterizar esse tipo de atitude como uma injúria, passível de ação penal.

Koppe disse...

Quando eu era militar, bem no começo, aconteceu um caso interessante. Alguns colegas mexeram com uma guria enquanto esperavam o ônibus, mas não esperavam que ela fosse parente de um oficial. Logo chegou nas mãos do tenente que era nosso comandante uma reclamação do que aconteceu. Ele não levou nem dez minutos pra descobrir os envolvidos (só com palavras), inclusive aqueles que estavam juntos e só riram. Depois instruiu a turma sobre esse tipo de atitude, e se essa instrução tivesse sido escrita poderia tranqüilamente virar um post por aqui. Que eu lembre, nunca mais teve poblemas do tipo com soldados da nossa turma.

Agora a segunda parte: cheguei em casa e contei pra minha mãe, e o que ela disse? "Ora, mas então eles querem que vocês sejam como padres?" Fiquei sem saber o que responder... nunca pensei que a minha mãe, que desde que eu lembro sempre trabalhou e participou do sustento da casa e não é submissa ao meu pai, fosse ter uma opinião dessas sobre esse assunto - achar normal homem dizer grosserias e constranger gurias na rua, e que pro homem não fazer isso ele tem que ser padre. Peraí, não era ela que tinha que me ensinar que isso é errado?

(Isaac, será que as mulheres não têm vontade de responder com agressividade por acharem, consciente ou inconscientemente, que essa é a única linguagem que os homens desse tipo entendem?)

Ca Mendes disse...

Koppe, concordo com vc a respeito da opiniao do Isaac!
Nao so isso. Acredito q nenhum homem faça ideia (e nem nunca ira fazer) do quanto as mulheres se sentem humilhadas e impotentes quando passam por constrangimentos como os relatados aqui.
Vc viu q mesmo as q reagem (e eu nao sou uma delas) sentem-se acuadas e com medo?
Isaac, acho bonito falar em injuria e ação penal quando vemos diariamente mulheres sendo mortas por caras q acham q sao donos das esposas, namoradas, etc.
Queria poder concordar com vc q a violencia nao e o caminho, mas infelizmente ainda nao consigo. Tem um cara, q me assediou aos 14 anos, q eu bateria mto!

Ca Mendes disse...

Ah Lola, nao sei do que gosto mais: dos seus posts ou das discussoes q eles geram nos comentarios!
Texto otimo como sempre.

L. Archilla disse...

A vontade que eu tenho é que exista uma lei que puna esses cretinos (e incluo aqui os que dizem "bom dia" com entonação sexual), com uma multa altíssima, ou cadeia (acho que a cadeia funcionaria melhor, no melhor estilo lei seca, mesmo, já que no caso da multa os filhinhos de papai iam sair ganhando). Maaaaaas, como isso está a anos luz de se concretizar (até porque seria difícil arrumar testemunhas - geralmente os caras agem assim quando estão em bando, e todos seriam cúmplices), a vontade que eu tenho é de arrebentar um por um até cairem todos os dentes da boca. Ah,e vontade não necessariamente quer dizer "eu faria isso se pudesse", ou "um dia ainda vou fazê-lo".

Ághata disse...

"Por outro lado, várias mulheres aqui nos comentários "gostariam de revidar", "ter 1,90 para dar um soco" ou "dar porrada", ou seja, as mesmas atitudes machistas que vemos nos homens.
É parecido com a fábula do "Animal Farm" (Revolução dos Bichos). Dê poder a quem não tem, e em breve o oprimido se torna o opressor.
O correto seria lutar de forma organizada para caracterizar esse tipo de atitude como uma injúria, passível de ação penal."

Primeiro, você diz isso porque não é na sua bunda que metem a mão e não é no seu mamilo que eles beliscam;
Segundo, você não é ninguém pra nos dizer como agir, você não sabe nada do que mulheres sofrem;
Terceiro, isso já é considerado contravenção penal, mas como é que você denuncia algo assim? "Um fulano ali disse isso pra mim"? Custa pensar um pouco antes de dar conselhos imbecis?
Terceiro, revidar uma agressão Não é a mesma coisa que agredir! Fosse assim, legítima defesa seria crime e não é!

PS: Esse comentário aí me pareceu muito mais preocupado com uma inversão de papéis (ridículo) do que com a violência que a gente sofre.

Anônimo disse...

Olá, Lola!
Descobri o seu blog quando uma amiga minha me encaminhou um post que você fez no dia internacional da mulher e desde então praticamente devorei o blog todo (tá bom, nem tanto que é post demais que você tem :).
Então, queria dizer que achei o seu blog de excelente qualidade, parabéns! E aliás, também aproveito para agradecer, que com certeza o que você escreve aqui me ajudou um bocado a entender melhor o preconceito contra as mulheres e me ajuda ainda no meu esforço para aceitar minha parcela de responsabilidade na luta contra esse preconceito. Comecei também um blog hoje e citei você lá no primeiro post como referência de blog feminista em português.
Bom, era isso, abraço!
P.S.: Ah, sim, estou achando ótima essa série lingüística, tomara que continue! :)

Anônimo disse...

Isaac, as mulheres falarem que têm vontade de revidar é completamente diferente das atitudes machistas criticadas por dois motivos simples:

1 - Como já falou a L. Archilla, ter vontade (ou dizer que tem vontade) de fazer uma coisa e fazê-la são duas coisas bem diferentes (e a crítica é às cantadas dos homens, não a terem vontade de dar as cantadas)

2 - Como disse a Ágatha, mesmo que as mulheres revidassem, estariam se defendendo da violência (essa sim, gratuita) dos homens sobre as mulheres. Porque essas cantadas, mesmo que os homens não fiquem agressivos depois, são um ato de dominação e, portanto, violentas.

Adwilhans disse...

Acho que, de tudo o que já foi dito, fica claro que o problema não são as cantadas em si, mas sim o tom agressivo ou desrespeitoso - afinal, a paquera, como salientado em alguns comentários, é natural e pode ser interessante. Inadmissível é a invasão física (toque) ou moral (palavras agressivas, obscenas ou desrespeitosas). Exemplificando, não via nada de mal, quando eu era solteiro, em dizer a uma garota "oi, tudo bem?" e puxar uma conversa se houvesse reciprocidade. Agora, bolinar é uma atitude ridícula, em especial pelo fato de que, agindo assim, o cara jamais vai ter sucesso no objetivo primordial de qualquer contato com o objeto de desejo: a interação, da qual, aliás, tais "troglos" fogem, como amplamente denunciado aqui...

Adwilhans disse...

O que mais me chamou a atenção nos comentários é a revolta geral das mulheres comentaristas com esse tipo de atitude. Curiosamente, embora já tenha presenciado cantadas bem estranhas, nunca vi uma mulher reagir. Creio que um homem não partiria para a agressão em ambientes públicos pois correria o sério risco de ser contido e/ou agredido por outros homens; já num espaço mais deserto, reagir não é uma boa ideia, assim como reagir a quase todo tipo de violência é arriscado (estou aqui fazendo uma comparação com um assalto, por exemplo, no qual a reação tende a gerar comportamentos imprevisíveis do agressor). Bem, espero que nossa sociedade possa evoluir no sentido do respeito às individualidades, afinal, espero que minha filhinha não tenha que passar pelo que tantas de vcs já passaram...

Unknown disse...

Revidar uma manifestação verbal de cunho sexual com violência física não é nem um pouco comparável à legítima defesa.

A defesa só é legítima se forem caracterizados instrumentos proporcionais à agressão sofrida.

Mantenho a opinião (reforçada pela L.Archilla) que instituir uma punição adequada é o primeiro passo para resolver o problema.

PS: Vou ignorar comentários agressivos e ataques ad hominem por motivos óbvios.

Adriana Riess Karnal disse...

Lola,
adoro qdo vc fala de linguística...seus exemplos são super didáticos...

Unknown disse...

Também já recebi várias cantadas grotescas, mas vou falar de algo diferente: semana passada, recebi uma "cantada de rua" decente!

Um rapaz de 18~20 anos passou por mim e, na minha frente, perguntou: "Sabia que você está muito bonita com essa roupa?", respondi "Obrigada" e cada um seguiu o seu caminho.

O que achei interessante:
Ele falou na minha frente, não nas minhas costas.
Fez uma pergunta, não uma "acusação".
Falou "bonita" e não "gostosa".
Não insistiu, seguiu o seu caminho.

Única cantada que já recebi que me senti lisonjeada.

Rê_Ayla disse...

Isaac e demais q apareçam:

-já passaram a mão na sua bunda?
-já pegaram no seu cabelo pra cheirar?
-já te puxaram pelo braço?
-já te xingaram de tudo q é nome pq vc reagiu a uma cantada de baixo calão?
-já quiseram te bater pq vc reagiu a uma grosseria destas?
-já ficaram te "encostando" demais no metrô?
...

...acho q sua resposta pra isso tudo é não né. Quando vc tiver q passar por isso tudo quase diariamente, tb vai querer dar um soco em cada troglodita destes que te desrespeitarem.

caso.me.esqueçam disse...

isaac, você acha que dar um soco na cara de um homem que enfia a mão na sua bunda é uma atitude machista? sério? e que o certo seria "lutar de forma organizada para caracterizar esse tipo de atitude como uma injúria, passível de ação penal". tipo como? dah um exemplo? mas assim, um exemplo pratico. nao quero teorias.

você eh uma mulher e ta prestes a pegar seu onibus quando um cara diz "vou te chupar todinha, sua putinha gostosa". o que se faz nessas horas? vai numa delegacia e espera que o moço esteja parado esperando ser questionado pela policia? ah, ja sei. escutar uma coisa dessas não é lah assim tão grave, não é? afinal, "Revidar uma manifestação verbal de cunho sexual com violência física não é nem um pouco comparável à legítima defesa". mas alguma coisa me diz que se um cara recebesse um soco na cara cada vez que humilhasse um mulher no meio da rua, essas violencias verbais e fisicas levariam 24h pra acabar.

nao eh uma questao de ter o poder pra se tornar opressor. nao queremos ter 80kg pra sair batendo a torto e a direito. soh queremos nos defender. sera que isso eh tao mal assim? quando eu disse que sentia falta de ter 1,90m e 80kg, foi porque eu tenho certeza absoluta que se eu tivesse esse tamanho, provavelmente nenhum mala mexeria comigo dizendo grosserias. porque são todos uns covardes: fazem justamente esse tipo de coisa porque esperam que fiquemos caladas.

se sua irma de 13 anos chegasse em casa aos prantos depois de ter recebido uma mao bem enfiada na bunda dela, queria ver se você iria pensar em "lutar de forma organizada para caracterizar esse tipo de atitude como uma injúria, passível de ação penal".

caso.me.esqueçam disse...

mais uma coisa, isaac: "PS: Vou ignorar comentários agressivos"

pois é, é chato demais quando as pessoas agridem a gente, nao eh? sorte sua que voce pode ignorar.

Aline Schmitt disse...

Mais alguém viu a notícia sobre o dono de uma locadora em Canoas-RS que instalou uma câmera no banheiro do estabelecimento pra filmar as funcionárias?

http://forum.jogos.uol.com.br/Esse-manja-das-putarias-+locadora-+canoas-rs_t_812198

Eu vi no jornal matinal da Record, hj e ontem. Duas das funcionárias são menores de idade e uma é adulta.

Bom, no jornal se fala em punir o responsável por filmar as adolescentes. Por filmar funcionária adulta, só se as gravações tiverem sido postas na internet (foram mostradas na TV, nao basta, não?)!

Então, se vc é adulta, td bem o chefe te filmar nua. Sem empatia pra vc!

Será mesmo q isso não se enquadra nem em assédio sexual ou moral?

O corpo da mulher adulta não pertence a ela. Será que a gente vai ter que começar a pegar roupas consignadas pra provar em casa e não correr o risco de ter a privacidade invadida nos provadores?

Ah... e o forum do link... é um antro de NiceGuys misóginos, nojo

Anônimo disse...

@Isaac:
Em princípio, concordo com tua opinião quando diz que "A defesa só é legítima se forem caracterizados instrumentos proporcionais à agressão sofrida."
Beleza, mas se você tá dizendo isso, suponho que concordou comigo que nesse contexto que estamos discutindo, a mulher revidar é diferente da primeira agressão do homem? Porque a diferença entre eles não é por um ser forte demais ou de menos, é por serem conceitos diferentes - um é ataque, é uma ação não provocada, o outro é defesa, é reação.
Aí ok, pra defesa ser legítima tem que ser proporcional, só que quem vai determinar isso? É muito difícil dizer exatamente que intensidade da defesa é que a classifica como legítima, e eu nem me dou o direito de participar dessa discussão, sabe por quê?
Porque eu não tenho a menor idéia de como é sofrer esse tipo de ataque. Eu nunca passei por nada disso que a Liana mencionou logo aqui em cima, nem nunca vou ter de passar, então como é que eu poderia chegar aqui e dizer pra outras pessoas que sofrem esse tipo de ataque com freqüência qual é a intensidade da defesa que seria legítima e apropriada? Eu não tenho como entender verdadeiramente a intensidade da agressão, e assim fica fácil demais dizer coisas do tipo "essa defesa tá violenta demais, não pode, agüenta calada aí".

Adrina disse...

Eu nunca havia comentado no blog, mas não posso deixar de me manifestar.
Um dia, há uns 7 ou 8 anos, eu estava indo trabalhar no sábado de manhã, a pé, um cara veio de bicicleta e passou a mão na minha bunda. Fugiu, como todo covarde. Eu não tive reação, minha garganta travou e nem gritar eu consegui. A única coisa que fiz foi ligar pro meu namorado (hoje marido) e chorar.
Uns dias depois, na mesma rua, havia uma construção e por vários dias eu ouvi coisas absurdas. Comentei com o R. no final de semana e, na segunda-feira, ele fez questão de me buscar em casa para ir para o trabalho, a pé (era pertinho, uns 300 metros); passamos em frente à obra e eu olhei para o engraçadinho e falei, só com os lábios: "Mexe agora". Depois disso, fiquei com medo e simplesmente parei de passar naquela rua. Daa um volta de quase 1 km pra evitar o local.
Ontem, eu escutava um programa de humor no rádio aqui em BH e uma ouvinte ligou para conversar e passou a ser estupidametne cantada pelos locutores. A moça disse que estava triste por ter terminado um namoro longo e um dos babacas falou: "Fulano, volta logo pra moça antes que a torcida do Atlético e a do Cruzeiro peguem a Fulana".
Eu não sei se é pior levar um apertão na bunda ou escutar esse tipo de coisa, o rádio, ao vivo.
Que nojo.

Anônimo disse...

Felizmente, nunca ninguém passou a mão e mim. Em compensação, já ouvi mta grosseiria.

Não falo dos 'bom dia' (que muitas vezes são até educados; dá pra ver a diferença em relação aqueles que só faltam de comer com os olhos), dos 'moça bonita' e elogios que na verdade não são grosseiros. Um bom dia educado merece uma resposta educada; um elogio educado, merece um obrigada.

Agora devo dizer que é mesmo horrível ouvir qualquer coisa de gostosa pra baixo. Eu ouço desde os dez, por aí. O pior é não conseguir reagir, não consegui nem atingir, nem fazer o imbecil passar vergonha.

E quando a gnte tá acompanhada, aí eles pegam leve. Mas não é só porque são covardes não, é pq na cabeça deles, agora eu tenho dono. É tão horrível, é um mal gosto incrível.

Raiza disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Raiza disse...

Quando comecei a ler o post me deu taquicardia,dor de cabeça e vontade de chorar.Porque isso acontece todo dia.E eu não sei como fazer parar.Das poucas vezes em que reagi (mostrei o dedo) os babacas ficaram gozando com a minha cara.Fora o medo de uma reação violenta da parte deles.Quero reagir,mas tenho medo.Escrevi sobre isso no meu blog:http://garrafaaomar.zip.net/arch2010-03-14_2010-03-20.html#2010_03-16_23_25_38-124625543-0
Tem também um post muito bom da Cely Bandolero:http://whothehelliscely.wordpress.com/2009/07/29/assedio-e-abuso-verbal-nas-ruas-bons-motivos-para-resistir/
Escreva mais sobre isso Lola,é muito importante pra todas nós.
Por último duas coisas:Acho que devíamos parar de chamar essas agressões de cantadas.Isso é assédio.ponto.
Segunda coisa:Falaram que quando não é de baixo calão não tem problema.Eu acho que o problema é o homem achar que tem o direito de avaliar o corpo da mulher.Se ela diz "Moça bonita" ou "Gostosa",no fundo é a mesma coisa.Na cantada a pessoa se dirige educadamente e espera resposta.Qualquer coisa contrária a isso é agressão.

Lynne disse...

Ola Lola, tudo bom?

Acompanho seu blog desde o ano passado, apesar de nao deixar mtos comments.

Como vc é bem ligada no feminismo, apesar de nao ter mto a ver com seu post, gostaria de te mostrar esse video:

http://www.youtube.com/watch?v=zJZ2rX-Kyaw&feature=player_embedded

Há atualmente uma briga mto grande entre feministas e o pessoal que fez o video. O que vc acha, que ele incita ou nao a violencia à mulher? Vc acha q humor tem limite?

Abraços!

Lynne disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gisela Lacerda disse...

Gostei do "mulher sozinha é de todos ou de ninguém ou tem que ter um só". Infelizmente, é a vida. Sou do tipo que vou no fundo do pote, do poço, enxergo a verdade, sem perder a pureza: uma parte dela, um certo pudor são bons para o erotismo. Eu sempre solteira (entra e sai de namorado) e "in Rio", enfim.. acostumei-me com olhares preconceituosos, não importando o país e o continente. Complicado. E França, Brasil, Alemanha, Itália, tuuuuuudo igual. Nem se iludam quanto a alguma suposta liberalidade. Tudo mentirinha, conversa pra boi dormir. Tão retrógrados e machistas quanto os brazucas. Não que eu não queira casar um dia, mas sei como é a vida de solteira, desacompanhada.

Depois de muito sofrer, aprendi a me impor. Nasci ariana! ;-))) Acho que aquela frase da Katherine Hepburn tem tudo a ver comigo: "engraçado, antes das feministas, eu não sabia que era do sexo frágil". Obvimente ela não se referia à luta e trocentos objetivos conquistados. Acho que essa frase da atriz hollywoodiana (década de 50, 60) contém muita subjetividade.

Mulher sozinha, arrumada normalmente, simples no vestir (não precisa estar emperequetada), jovem, lendo jornal, livros e revistas, tomando cafés, abrindo a carteira para pagar a sua própria conta, etc, etc enquanto que ao lado há velhinhas, senhoras em companhia de outras senhoras, grupos de homens, casais... É SEMPRE DIFÍCIL, muito difícil. Mas acho que é preciso forçar o mundo a aceitar duplicidades, ambiguidades, multiplicidades porque a vida é assim. O ser humano é assim, ou deveria ser! Por que uma "Cacau e seu bumbum achocolatado" não podem sentar pra tomar um café e ler Freud? Evidentemente, um ambiente de trabalho requer mais discrição, mas podemos ser livres. Podemos ser tudo que quisermos.

Adwilhans disse...

Uma coisa ainda martela a minha cabeça: a noção, alardeada nos comentários, de que "revide" é um ato de "defesa". De se notar que, caso um homem reagisse violentamente a uma cantada (leia-se assédio, como precisamente apontado pela Raiza) recebida de outro homem, seria prontamente taxado de homofóbico; entretanto, uma mulher que reagisse violentamente a um ato do mesmo tipo estaria se defendendo. É assim mesmo? Acho que não. Vivemos em uma sociedade na qual o monopólio da violência pertence ao Estado, somente sendo autorizada aos cidadãos, individualmente, em caso de legítima defesa, e "defesa" não se confunde com "revide", este um ato claro de agressão fundado no desejo de vingança. Vontade de esmurrar um idiota é algo razoável, concretizar tal desejo não o é.

Adwilhans disse...

Vou aproveitar para fazer uma comparação que, a princípio, pode parecer grotesca. Eu sou um homem obeso, atualmente na meia-idade. Sou obeso desde tenra infância e, desde que me conheço por gente, sofro ataques gratuitos, seja de conhecidos ou desconhecidos, com o nítido objetivo de me ofender ou humilhar. Apelidos, piadas toscas, comparações, a lista é realmente extensa. Em algumas oportunidades fiquei com tanta raiva que poderia ter agredido alguém (meu porte e força física, apesar da obesidade, poderiam até induzir a tal atitude), mas eu sempre retruquei de forma *aparentemente* bem humorada, apontando defeitos no ofensor. Não sei se agi da melhor forma (talvez, o ideal seja o "olha o respeito!" da Ana), mas tenho a convicção de que reações violentas não são, nem de longe, uma solução - embora possam dar essa impressão. O problema está longe de ter uma solução, mas discuti-lo já é um começo.

Gisela Lacerda disse...

Tá vendo, todo mundo sofre preconceito nessa vida. Eu tive um namorado (uau, mais outro? É o mesmo. da outra história houhou) que dizia: "o mundo é um jovem de 25 anos loiro de olhos azuis", mas de repente, esse aí também vai sofrer justamente por tal condição, porque, mal ou bem, e apesar de nunca poder servir de justificativa, tudo vira o contrário: o opressor passa a ser o oprimido e em todo oprimido a um desejo de ser opressor e vice-versa. E assim na política: vide nosso agradável PT. ;-)))

No entanto, acho insuportável quando alguém (como foi o caso desse que ganhou o "reality show mais famoso") vem justificar sua ignorância, racismo e/ou preconceito acusando as vítimas e minorias de sempre falando algo como "sofri heterofobia". Ora, isso não existe. Que disparate! O que há é uma reação contra uma ação! E isso é física - para quem gosta de exemplos bem delimitados. ;-)))

Não dá pra aceitar, por exemplo, aquele povo que adora se apoiar no "ah, os negros também são racistas".

Todo ser humano tem algum preconceito, porque a vida é assim, mas para se viver em sociedade há de se recalcar ou melhor, exorcizar, como dizia uma professora minha: "olho todos os dias no espelho e repito para mim mesma: sou racista e preconceituosa". Só assim lava!

Na TVE (Tv Educativa, canal 2 para os cariocas), exibiam um comercial entrevistando as pessoas na rua: "onde você guarda o seu racismo"? Porque é exatamente isso. Uma caixinha de surpresas. E graças a Deus existem pessoas como o Elio Gaspari (escreve no Globo todos os domingos) para escrever sobre isso e o assunto cotas. Não vou entrar na questão! Ui! ;-0 Abraços a todos!

ps: para bradar mais ainda, é como o que ocorreu recentemente na cidade onde nasci, cresci e atualmente vivo; quer dizer que a culpa é do pobre que não tem onde morar e vai morar na favela na zona sul pra ficar próximo do trabalho? Então, é que nem o racismo, o preconceito, o machismo exacerbado: é querer ver de cima, nunca ver a raíz.

Anônimo disse...

@Adwilhans:
É assim mesmo, são duas situações completamente diferentes uma mulher reagir ao assédio de um homem e um homem reagir ao assédio de um homem. Porque eu, sendo homem, se sou assediado por um homem, isso é um caso isolado. Isso não é algo sistemático, que ocorre com freqüência (como é com as mulheres), não é socialmente aceito (como é com as mulheres) e praticamente nunca representa uma ameaça real ou percebida de estupro (como muitas vezes representa para as mulheres).
Quanto à comparação que você fez com ataques sofridos por ser obeso, isso é algo sistemático? Imagino que sim. É socialmente aceito? É sim. Representa muitas vezes uma ameaça de estupro? Acho que não, né? Então continua sendo uma situação fundamentalmente diferente (embora mais comparável que o assédio sofrido por um homem).
Eu não disse (ou se disse falei asneira) que as mulheres devem reagir com violência ao assédio, eu por mim sou pela não-violência radical, acho que violência não tem lugar sob nenhuma circunstância e ponto final. Mas eu tenho o privilégio de não ser alvo de violência sistemática e socialmente aceita, será que eu ainda pensaria assim se não tivesse esse privilégio? Pode até ser que pensasse, mas não ponho minha mão no fogo por isso...
Então também não digo que as mulheres não têm o direito de reagir violentamente ao assédio, e nem me considero capaz de julgar uma mulher que eventualmente reaja com violência.

Gisela Lacerda disse...

Eu tenho medo, mas bem que já tive vontade de virar uma velhinha dessas com guarda-chuva. Infelizmente, (ou seria felizmente?) a melhor coisa continua sendo esbravejar por escrito ou de maneira a humilhar o agressor, mas sem violência física.

Exemplo: vagões para mulheres. Eu já vi e aprovo. Aqui no Rio é assim. E eu sou do tipo pessimista em certas situações da vida e não tenh a mínima ilusão de que algumas coisas vão mudar. P. de macho é sempre p. de macho em vagão de trem lotado de pessoas pobres cujo único prazer na vida é fazer filho e alguns outros q não vêm ao caso.

Dizer que o cara que faz isso é tarado é dizer que 70% ou mais dos caras são tarados, e eu acho que é isso mesmo! ahahahah

Vivo na realidade. Especialmente a carioca! Bisous tout le monde!

Gisela Lacerda disse...

A propósito: sofri isso umas 5 vezes quando era adolescente e logo quando comecei a ir apenas ao colégio de buzum e na zona sul, a zona considerada a mais rica do Rio de Janeiro. 11 anos de idade, eu não tinha mais a minha mãe, meu pai tinha carro, não podia me levar, o ônibus da escola chegava atrasado, me esqueceu 2 vezes e era caro. Voilà; foi a solução. Meu pai uma vez teve q ir ao ponto comigo só pra encarar o cara. Mas meu pai não tinha car de mau. ;-0

A simplicidade da vida na cidade guarda bizarrices e taradices terríveis. Devemos enxergá-las e encará-las de frente. Só divã mesmo ou sendo muito macha. ;-))

Adwilhans disse...

@primeirocego: concordo quando vc faz a diferenciação pelo prisma da sistematicidade ou da aceitação, mas ainda assim entendo que a reação violenta não é nem pode ser o caminho. Ok, vc também é contra, e nisso também convergimos; mas aqui nos comentários a violência foi defendida e, inclusive, apologizada como se constituísse algum tipo de defesa. Nesse sentido e com esse foco é que redigi meus comentários anteriores...

Patrick disse...

Interessante seu ponto de vista sobre cantadas, Adwilhans, porque a norma entre os homens - não é o meu caso - é que a mulher tem que "gostar" da cantada, por mais abjeta que seja. Se você já esteve do outro lado e se sentiu ofendido, talvez agora possa compreender melhor como se sentem as mulheres.

Anônimo disse...

@Adwilhans:
Beleza, concordamos em várias coisas, mas deixa eu dizer de novo uma posição minha que não sei se ficou clara:
Eu sou sim contra a violência, mas sou ainda mais contra eu, sendo homem, dizer às mulheres que elas não podem reagir de forma violenta, porque:
1 - Eu não sofro esse tipo de agressão (o assédio mencionado) e portanto não posso entendê-lo totalmente.
2 - Eu não tenho uma solução genial para propor, que acabaria com essa agressão.
3 - Mesmo que eu tenha idéias brilhantes de como se deve reagir, se a reação que eu propus falhar ou não for suficiente, nunca serei eu a pagar o pato.

Gisela Lacerda disse...

O papo está "de macho-clube do Bolinha", e eu fui levemente ignorada, mas eu vou responder novamente, pois sou Mafalda-Luluzinha. ;-))

Já vi mulher gritando, fazendo escarcéu e ainda dizendo: "se gozar vai ter que pagar!". Concordei plenamente. Não foi violento. Foi uma resposta à altura de alguém corajoso expondo o principal agressor (ou seja, quem ataca) à ira e à chacota públicas. Ma-ra-vi-lho-so. Vingança plena. Só que eu era nova, criança e adolescente. A pessoa fica atônita e sem saber o que fazer. Cheguei na escola chorando e depois contei ao meu pai. Isso com 11. Depois.. ui..

No mais: eu já sabia que minha vida seria isso dali daquele momento pra a frente e Deus apenas estava me preparando para a "selva sem analista-porque-é-caro". E é isso. A gente apenas pode se prevenir. Se defender com o ônibus andando? Se bobear o motorista e o trocador ainda vão pegar uma câmera e filmar! E o mundo é isso aí; podre. Mas, por favor, não deixemos de viver, prrrrise! No melhor estilo "dama do lotação", com a diferença de que não há o mínimo CONSENTIMENTO da mulher. Havendo, pode muito. Que venha Nelsinho Rodrigues completar!
;-)) Boa noite.

Adwilhans disse...

@primeirocego, ainda que eu não tenha uma ideia genial para resolver o problema, insisto que não se deve autorizar ninguém, em hipótese alguma, a fazer justiça com as próprias mãos. Independentemente de tudo o que já se disse neste espaço, perder essa regra básica da sobrevivência em sociedade de vista, por mais injusta a situação à qual muitas (ou todas as) mulheres são submetidas não pode se constituir em licença para lançar mão da violência! Ao aceitar isso como premissa, como raciocínio "a priori", como decorrência direta do abuso anteriormente praticado, e todo o sistema de monopólio da força pelo Estado se esfacela. Veja bem, não estou fazendo apologia do agressor nem minimizando o efeito da agressão, mas apenas apontando que as "soluções" violentas e individuais nada resolvem. A questão há de buscar soluções coletivas - polícia, comunidades, educação. Agredir o agressor por vingança, sem a caracterização da legítima defesa, acaba por desembocar na prática de crime pela inicialmente ofendida, o que por certo não é algo defensável como "solução", a meu ver. Mas respeito sua opinião.

Aline Schmitt disse...

@Adwilhans

você não tem uma ideia de como resolver o problema. ok, nem precisa mesmo. Você não está no "front". Basta não agir dessa maneira, repreender algum amigo que faça na tua frente ou te conte que faz e educar teus filhos pra que não façam.

Nesse post tem relatos diversos das situações que nós enfrentamos e das nossas reações. Ainda que as agressões sejam sempre parecidas, as reações variam bastante. Talvez porque ninguém na face da terra tenha uma ideia de como resolver o problema.

Porém, por mais diferentes que as reações sejam, eu não vi nenhuma mulher aqui recriminar a reação de outra. Se não existe uma resposta certa, qualquer resposta é válida.

Ninguém afirmou ter respondido um agressor com agressão física. Ninguém aqui pediu permissão pra isso (assim como nenhum dos nossos agressores pediu licença antes de agredir).

Ainda assim, algumas manifestaram apenas a vontade de responder com agressão física, porque às vezes parece que essa é a única maneira de resolver o problema. É o revide físico que eles temem quando deixam de passar "cantada" nas mulheres acompanhadas por homens. Infelizmente, é através das lutinhas que os meninos aprendem a respeitar uns aos outros. E é o único recurso que nós não usamos.

Meg disse...

Lola, preciso de ajuda. Ontem eu tive um trabalhão tentando explicar pra um dos meus alunos de inglês por que piadinhas sexistas do tipo

"Eu tava lá vendo um filme e o cara foi estuprar a guria, mas foi uma cena simples, tipo, o cara levantou a saia da guria e começou a makin' luuuv"

(Sim, eu ouvi isso em sala de aula, numa aula particular. Naquela hora de verdade eu tive medo do cara me agarrar ali mesmo. Quase chorei na hora.)

Eu fiquei tão puta da cara e transtornada, mas não consegui explicar direito, acho. Eu disse como esse tipo de piada perpetua um comportamento, e como tem q lembrar que em muito lugar estupro não é crime e/ou é considerado algo normal. Ele disse q isso não existe. Eu dei exemplos de casos que eu ouvi ou li sobre Fortaleza ou no Norte do Brasil, mas ele não acreditou igual.

Socorro, Lola. O que eu digo pra um troll desses?

Gisela Lacerda disse...

Adwilliams, como disse antes, não concordo mesmo com atos violentos, linchamentos, coisas do tipo e até dei sugestões amigáveis de atos de defesa em situações onde o homem não se controla e deseja praticar o "sir ONAN" em pleno coletivo. Mas convenhamos que não há estado que dê jeito nessas horas. Isso é da ordem do cotidiano. Falar na palavra "estado" nessas horas é dizer que que uma pessoa tem de chamar o dono do tal restaurante por causa da barata no meu prato de comida. Não tem sentido! ;-) A gente reclama com o gerente ou até onde pode: veículos de comunicação e "atravessadores", como o pessoal de marketing e suas respostas mirabolantes para problemas aparentemente bem simples de seem resolvidos. Dois coelhos com uma cajadada só. Nua e crua, assim como o "cafard-coucaratcha" do prato.

Barbárie é sempre barbárie e não há diferenças ou "graus de". Spike Lee diz: "violência contra violência", mas existem soluções, digamos, ríspidas e duras sem apelar para força física (sem bem que os nossos amigos e seus pirulitos geralmente não pensam nisso! Bah!) e ninguém vai ter nem tempo de "acionar o Sergio Cabral e o Paes" (no caso do Rio) ou essas ONGS ricas e hipócritas que, por sina chovem por aqui, cheias desses estrangeiros com quem já lidei inúmeras vezes; sou professora de português para estrangeiros e de francês e já morei com esses chatos que não entendem bulhufas de Brasil e tudo para salvar a mulher que pega trem todos os dias, passando horas dentro desses vagões fétidos.

O problema todo me parece com a velha história do político francês que foi entrevistado uma vez. Indagaram-no se ele sabia o preço da baguette e do pain complet, ou de um pain au chocolat. Resposta absurda, algo como 2 reais para o pão francês. Todos riram à beça. Mesma coisa na vida. A prática, a vida na rua não tem a ver com a maioria desses discursos e textos de blog. É isso que vejo. Me dá urticária!

Bjs a todos!

Anônimo disse...

@Meg:

Desculpa meter o bedelho, mas como você fez um pedido num comentário público achei que não fazia mal responder.
Tem um blog excelente que eu sempre leio de uma estadunidense que tem um ótimo post sobre piadinhas de estupro. dá uma olhada lá, pode ser útil para colher argumentos anti-troll:
http://fugitivus.wordpress.com/2009/06/24/a-woman-walks-into-a-rape-uh-bar/

Natalia Vaz disse...

Já aconteceu de me elogiarem na rua e eu parar e agradecer. A pessoa ficou estupefata e ainda repetiu "nossa, vc responde".

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Bom, meninas, em alguns momentos do texto percebi que já fui um babaca algumas vezes(maioria delas na adolescencia) não que isso seja desculpa, mas enfim. O problema é que hoje em dia eu canto sim mulheres na rua, mas é diferente. Eu uso um "boa noite", um "olá".. E sabe o que eu ganho? "..." Eu espero DE VERDADE que alguma delas de "Boa noite", ou "Olá". Eu, particurlamente, não "canto" uma mulher na rua apenas para me auto-afirmar ou coisa do tipo. Penso que posso sim conseguir uma amiga ou quem sabe até uma namorada.

Juliana Souza disse...

Belo post!

Seria um pouco repetitiva, pois muitas meninas já falaram ótimas coisas que contribuíram bastante para a discussão.

Eu recebo cantanda nojenta desde os 11, pasmem 11 anos! Corpinho se desenvolvendo e cabeça totalmente de criança ainda, imaginem o nojo incompreensível que isso me gerou. Isso dá até tema para discussão em terapia gente, e como dá.

Aprendi a "revidar" com o tempo. Não são todos os comentários fétidos que respondo, mas digamos que a maioria. Geralmente rola um "PALHAÇO!!", em alto e bom som para todos ouvirem, além daquela cara de nojo e brava, claro.
Quanto ao medo que rola, afinal um homem geralmente tem mais força que a mulher, meninas conselho, andem sempre com um desodorante spray na bolsa ao alcance das mãos, quando o lugar for meio barra pesada. E invstam num curso de defesa pessoal. É claro que não estou dizendo pra sairem dando porrada em tudo que é nojentão por aí, óbvio. Mas, vai que precisa um dia?!

Bruno Coutinho disse...

Comentário:

Sou médico, tenho 34 anos e já levei cantadas também. Várias cantadas grotescas, diga-se de passagem.

É claro que o texto aqui é dirigido para mulheres, mas vou contar as cantadas que eu lembro bem:

1) Cantadas de Gays: Mesmo eu sendo heterossexual, já levei cantadas de gays no trabalho; no banheiro masculino um cara já ficou olhando p/meu pênis enquanto eu estava urinando; uma vez andando em direção ao meu carro um gay parou do meu lado e ficou me seguindo gritando cantadas obscenas no caminho inteiro até eu entrar no meu carro.

2) Já passaram a mão na minha bunda: Eu tinha 15 anos e estava num show público, na praia, e de repente veio um dedo bem no meio do meu cu. Quando virei pra trás um bando de negão me encarando e, obviamuente eu cai fora puto da vida

3) Cantadas de mulheres: Já levei cantadas de mulheres, muitas vezes grotescas também, principalmente quando estavam em grupo. Já levei cantadas de colegas de trabalho: a mais notória foi uma que vivia com gracinhas, insinuando sacanagens, uma vez sentou no meu colo sem mais nem menos me encarando nos olhos e, quando eu fui cortá-la, ficou insinuando que eu era viado.

4) Cantadas de homens em minha namorada, mesmo eu estando presente.

O que todas estas histórias têm em comum com a de vocês é que a falta de respeito e de educação é universal. Revidar com violência é perigoso porque quem faz esse tipo de coisa ou é maluco ou antissocial (e gente desse tipo já é perigosa por natureza). Quanto menos civilizado for o local onde vc mora isso vai acontecer com mais frequência, pois depende de conceitos como civilidade/moral e ética, educação doméstica.

Ou seja, não acho que a bandeira desta causa seja puramente feminista. A opinião mais correta é a de Suzanne Eggins, do início do texto. É um exercício de poder e quem o faz quer testar a reação da outra pessoa. Mas concordo que as mulheres são mais vítimas por sua fragilidade sexual. Tanto é um exercício de poder que vcs podem notar, as cantadas em geral partem de pessoas em situação mais favorável como homens em grupo, homem contra mulher, pessoas que passam dentro do carro ou em locais que possam fugir ou se esconder.

abraços

Larissa disse...

Eu já fui AGARRADA (mesmo, de o cara não querer soltar) duas vezes na rua.

Na primeira vez eu estava sozinha e havia várias pessoas (homens) na rua, que apenas ficaram olhando 'extasiados'. Foi meio complicado sair e ficaram me olhando e falando 'ui, nervosinha' e não sei o que mais. como se eu realmente tivesse que deixá-lo me agarrar!

A outra vez eu estava com uns amigos e o cara acabou me soltando logo em seguida.

E quanto as cantadas na rua é meio complicado, se você reaja eles te xingam ou até vem pra cima ):

Nathalia ॐ disse...

Desde os 9, 10 anos ouço essas cantadas nojentas... qdo era novinha morria de medo, pois era apenas uma criança e acho que eles gostam ainda mais de mexer, sabem o qto são frágeis e não entendem o pq daquilo. Depois passei a ser agressiva, a responder, mas percebi que isso acaba gerando uma atitude mais agressiva por parte dos caras, o que me deixou com medo de apanhar na rua, sofrer algum tipo de violência...
Eu confesso também que costumo ficar quieta, no máximo, fechar a cara e encarar o homem mas sem falar nada. E ainda, me acostumei a andar ouvindo mp3, assim esse tipo de coisa passa despercebida por mim...
Mas eu acredito sim que devemos mudar isso, pois lendo vários depoimentos vejo o qto as cantadas de rua traumatizam as mulheres, mesmo as menos invasivas (como no meu caso), mas ainda acho que precisamos de algo que cale a boca dos caras sem usar tanta agressividade... Claro que uma boa educação (já que eu tmb já passei por essas situações em que o "pai" fica ensinando o filho "chama ela de gostosa, filhão!" ¬¬) já ajudaria, e limpar a mídia que incentiva esse tipo de comportamento. Mas infelizmente sei que estamos longe disto...

Leio Lola Leio disse...

Faz mais ou menos 8 anos que saí da casa da minha família e morei com várias pessoas, em repúblicas mistas ou só com mulheres. Hoje sou casada, mas, nesse meio tempo, notei como o tratamento é diferente quando tem "um homem na casa". Quando morava só com mulheres, elas em geral eram mais novas que eu e menos experientes em ter que resolver assuntos domésticos sozinha (aqui eu elenco, por exemplo, tratar burocracias na imobiliária ou receber um encanador em casa). Lembro que eu tomava a frente nessas situações e assumia uma postura tipicamente tida como masculina (o que soava até caricato e engraçado quando relembro), mas era a forma que eu achava que obteria respeito.
Teve uma vez que precisava resolver um problema da internet e tv e eu já era casada, mas recebi os técnicos em casa sozinha e etc. Um deles estava bem irritado, me tratou com bastante falta de educação e fez um rombo na minha parede. O desdobramento da situação foi terrível, registrei reclamação em todos os meios possíveis e me chocou como o mesmo técnico tratou completamente diferente o meu marido quando teve oportunidade de falar com ele.
Hoje, eu acabo deixando alguns assuntos pro meu marido resolver. Não me sinto incompetente para resolvê-los, muitas vezes ele segue minhas orientações para falar com o proprietário da casa e tal (um senhor bemmm machista, eu acho covarde da minha parte, mas me coloco nessa situação para evitar a fadiga. Dentro de casa somos paritários, mas meu marido também sente isso que disse, que o tratamento é diferente, que mulher sozinha é menos considerada do que quando acompanhada, que as pessoas em geral se dirigem a ele e não a mim quando vamos juntos resolver alguma coisa. Enfim, o mundo não é majoritariamente machista.

Anônimo disse...

Boa tarde Lola, interajo pela primeira vez aqui no blog. Cheguei a ele através de amigas femiistas que, de tanto falarem, me convenceram que eu deveria ler mais sobre o assunto.

Acho que sempre tive a ideia feminista incrustada em mim, apenas não enxergava o problema tão amplo desse jeito que expões.

Mas as vezes (sempre) tenho dúvida de até que ponto é válido me posicionar. Em relação a esse post particular. Num caso do troglodita como falasses (ou nem tanto, as vezes o engomadinho é ainda mais perverso) passar A cantada nojenta na rua realmente é válido eu mostrar o dedo do meio, me insurgir, reclamar e ainda arriscar de me machucar (fisica e psicologicamente) ou simplesmente respiro fundo, ignoro e continuo andando? O que fazer????