segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

VAMOS TORNAR GROSSERIAS NA RUA INACEITÁVEIS

Aposente o nariz de palhaço e seja feliz.

O post “De quem é o abuso de autoridade?”, publicado no final de dezembro, sobre a policial militar no RS que prendeu um sujeito que lhe disse grosserias na rua, rendeu excelentes comentários. E faz uns dias que venho querendo colocar alguns deles aqui, porque não é todo mundo que lê caixa de comentários, e também porque assim eles ficam mais registrados (o sistema de buscas do blogspot não permite localizar palavras-chave em comentários, apenas em posts).
E pra quem ainda não entendeu: a questão não é a cantada. Não tô pregando o fim da paquera ou qualquer coisa do tipo. É o lugar e a forma. Uma mulher, quando sai à rua, pode ter vários objetivos, assim como quando um homem sai à rua. Pode sair pra pegar filho no colégio, pra comprar alguma coisa, pra ir de um lugar a outro. Geralmente esses objetivos não incluem “ouvir grosserias de estranho”. Agora, quando uma mulher vai a um bar, a uma festa, de repente, mesmo a uma livraria, ela pode sim ter outros objetivos e estar mais receptiva a falar com desconhecidos. E, provavelmente, se um estranho chegar pra uma mulher, não vai usar as mesmas táticas de uma grosseria na rua. Até porque, insisto, o objetivo do cara é diferente – ele não quer se mostrar no poder, como é o caso da cantada de rua, mas seduzir, conquistar. Se ele chegar junto de uma mulher num bar ou numa livraria e lançar um “Quero chupar sua menstruação de colherzinha!”, chances são que, ahn, ele não será bem sucedido (a menos que a intenção do cara seja causar mal-estar, repúdio, asco, e ser visto com um grande L de Loser na testa). Mas um aviso pros homens: ainda que seja completamente diferente dizer uma grosseria na rua e se aproximar de uma estranha num bar, saiba que o segundo comportamento não é tão maravilhoso assim. Isso porque tem uma regra que prega que “mulher sozinha é mulher disponível”. E imagino que você consiga pensar por que uma regra dessas seja péssima pras mulheres, não? Não? Ok, então: pode ser que a mulher queira ficar sozinha. Pode ser que ela esteja esperando alguém que ainda não chegou. Pode ser que ela tenha dispensado cinco bêbados antes de você. Pode ser simplesmente que sim, ela adoraria conhecer alguém, mas infelizmente esse alguém não é você.
Um leitor, o Amer (e outros antes), quis saber o que faria uma mulher se fosse abordada numa livraria, por exemplo. A pergunta do Amer: “Se eu fosse até uma de vocês em uma livraria e dissesse 'Com licença, mas você tem os olhos mais lindos que já ví. Aceitaria tomar um café comigo?', quantas aceitariam o convite e quantas considerariam isso assédio?”.
Não dá pra responder algo assim como se fosse uma ciência exata. Depende de cada mulher. Depende do dia. De repente num dia ela tá muito bem humorada e receptiva a elogios, e em outro ela só tá numa livraria pra comprar um livro (difícil de acreditar, eu sei). A moça na livraria pode ter namorado ou marido. Só porque ela está sozinha naquele momento não quer dizer que quer ser paquerada. E talvez puxar papo sobre livros, numa livraria, rendesse mais que chegar falando dos olhos. É como a Lauren respondeu: “Quanto ao limite da cantada, acho q um bom exercício é pensar se vc realmente tem alguma chance com o que vc pretende fazer. Ex: elogiar os olhos da moça e convidá-la pra um café, ela poderá aceitar? Com certeza. Fazer barulho de chupada com os dentes quando ela passar do seu lado vai fazer ela ficar com tesão ou nojo? E por aí vai. Garanto que não é difícil. :)”.
Mas é típico comportamento masculino (e de outros grupos privilegiados) querer transformar uma reclamação legítima ― mulheres odeiam ouvir grosseria na rua ― numa sessão de “Dicas para paqueras bem sucedidas”. It's not about you, man. Ou melhor, até é sobre você: o que você pode fazer pra ajudar a parar esse comportamento?
Posicionamento errado pra resolver o problema: fingir que o problema somos nós, as mulheres reclamonas. Como exemplo, o comentário do leitor Jbmartins: “O pior que teremos que andar de bico calado e sem assoviar, espero que minha esposa me perdou as cantadas que lhes dei e prometo que não farei mais, desde que esqueça” (tudo sic).
Oh que dó! Feri os sentimentos dele! Duas leitoras responderam no ato. Deborah: “Coitado de você, homem heterossexual, tolhido no seu sacrossanto direito de assediar as mulheres na rua, né? F*da-se o direito das mulheres de andarem na rua sem serem assediadas, mulher não importa mesmo, no fundo elas gostam...
Lauren: “Ah, claro, a esposa do Jbmartins tava passando na rua, eles nem se conheciam. Aí ele soltou um: 'ô lá em casa, hein! delícia! essa eu chupava todinha!'. Ela foi até ele, deu um beijo na boca, eles se casaram e viveram felizes para sempre”.
Não é assim que as coisas funcionam! E, se você conhece um caso de dois pombinhos que realmente se conheceram dessa forma, através de uma grosseria, por favor, poupe-me. Porque dizer “eu conheço um caso assim!” não vai convencer a humanidade que o planeta é quadrado.
A forma que eu considero correta de lidar com esse problema é simples. É empatizar com as mulheres. É acreditar na gente se a gente diz que não gosta de ouvir besteira na rua. É não ditar regras de como nós deveríamos reagir, mas pensar em como você, homem, deveria agir. O que a Deborah diz: “Meu namorado mudou de postura em relação ao feminismo quando comecei a contar para ele algumas das histórias que já tinha vivido. E olha que nem são das piores, não, são 'só' esse assédio cotidiano que sofremos pelas ruas. A maior parte dos homens não faz ideia de quanto abuso sofremos o tempo todo, e nos acostumamos a engolir sob os mais variados pretextos”.
É isso. Você não faz ideia. Então pare pra pensar. Preste atenção no que suas amigas, namorada, irmã, talvez até sua mãe, têm a lhe dizer a respeito.
O Bruno Stern fez isso: “Eu sempre me lembro do quanto fiquei surpreso quando as meninas da escola (na época não devíamos ter 15 anos) contaram das gracinhas que escutavam dos frequentadores de um bar nas proximidades. Os senhores, todos de cabelos brancos, diziam os maiores absurdos às meninas sozinhas ou em grupo, mas nunca se manifestavam se houvesse um garoto no grupo, tamanha era a covardia”.
E o Rogério fez algo ainda mais difícil ― assumiu a culpa: “Putzz! Li esse post ontem, e fiquei até agora pensando nas m*rdas que eu já fiz por aí. Lola, eu já fiz tudo isso (que vergonha!!). Lembro-me de uma vez em que eu estava voltando de uma festa que acabou lá pelas tantas da madrugada. A rua estava deserta, e eu vi uma mulher andando na minha frente. Não havia mais ninguém na rua, só eu e ela. Ao perceber que o ambiente estava favorável, eu comecei a dizer toda sorte de absurdos a essa mulher, todos os insultos e piadinhas de mau gosto possíveis e imagináveis. E quanto mais a mulher ficava apavorada por não ter a quem recorrer e andava rápido para fugir de mim (ela certamente pensou que seria estuprada se eu conseguisse alcançá-la), mais eu dizia as coisas mais impublicáveis do mundo - e me divertia sadicamente com isso. Alguns metros depois, três amigos dela vinham andando no sentido contrário e, ao ver isso, ela correu e se atirou nos braços deles para escapar daquele terrorismo psicológico que eu estava fazendo com ela. Gravei na mente até o momento em que ela suspirou de alívio. Ao notar que aqueles três cabras eram amigos dela, desta vez quem correu fui eu. Afinal de contas, se ela dissesse a eles o que eu fiz, eles poderiam vir atrás de mim para me dar porrada. Relutei pacas em dar esse depoimento aqui. Foi a forma que eu encontrei de exorcizar os meus fantasmas e me tornar menos machista. Já melhorei bastante (o fato narrado aconteceu há cerca de doze anos; eu tinha 18 na época), mas ainda preciso mudar mais”.
O Rogério, que nem é um comentarista frequente, decidiu refletir. Analisou o seu comportamento (do qual já estava arrependido há anos), notou como sua intenção na época não era seduzir a moça, e sim aterrorizá-la (puro power trip, e depois tem gente que não vê grosseria na rua como um “olha quem manda aqui”), se pôs no lugar dela, se arrependeu do que fez. Enfim, exorcizou seus fantasmas. Exorcize os seus também. E convença seus amigos a fazer o mesmo. É como uma campanha inglesa contra assédio sexual nas ruas diz: não dá pra criminalizar as grosserias, mas dá pra torná-las socialmente inaceitáveis.

216 comentários:

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Andréia Freire disse...

Ué, mas não são OS PRÓPRIOS HOMENS que julgam as mulheres que tomam iniciativa? Não é coisa de mulher vagabunda, atirada, rodada, etc?

Andréia Freire disse...

Daí o cara vem falar que não tem privilégios porque os homens levam tocos. E que se dependesse das meninas haveria uma cortina entre os dois sexos. É pra rir? Meninos quase sempre tem privilégios em relação as irmãs. É comum poderem sair mais, voltar mais tarde, namorar mais cedo, não fazer tarefas domésticas, não ter suas virgindades vigiada pelos pais... Os pais muitas vezes acham lindo que o filho seja comedor, que namore mais de uma moça. Já a filha? Tem que ser pura, se manter virgem e só namorar aos 18 anos. Quem nunca viu isso? Me poupe, né?

Anônimo disse...

Tenho sempre em mente uma espécie de pensamento, que reúne e resume todos os absurdos masculinos: o sujeito, quando quer se sentir mais homem, regride à ancestralidade do macaco. Um paradoxo que inclusive é defendido com preconceitos quando o sentido é oposto: quanto mais civilizado o indivíduo é, mais deconfiam de sua masculinidade.

Subcomandante

Anônimo disse...

eu acho engraçado que um X número de pessoas se acham no direito de dizer o que é certo e o que é errado (sobretudo no campo da conquista). O que vai dar certo e o que vai dar errado. Ridículo! Eu já sou contra os padrões estabelecidos pela sociedade. Agora, padrão estabelecido por uma ANTI-PADRÃO é o fim da picada!! Ah, sem contar com o momento: agora você quer definir o momento de cantar e ser cantado. Faça um favor pro mundo então: Ao sair de casa, use uma faixa na testa com o seguinte dizer: NÃO ACEITO CANTADAS, ou então, CANTADAS OFF, NO TRABALHO, FAVOR NÃO ASSEDIE! ou pior, INDO NA LIVRARIA (?!?!?) CANTADAS - refinadas - LIBERADAS! Ah, seu site é ótimo, para entretenimento!

Eneida Melo disse...

Nossa, fiquei horrorizada com o relato do Rogério. Acho que eu ia levar meses até conseguir falar do assunto.

Tigra disse...

Bom, depois de ler todos os comentários menos o do Zé Discórdia aí, tenho uma dúvida relacionada ao tema.

Acho que toda mulher já passou por uma situação em que foi vítima desse tipo de assédio e a sensação de ter seu corpo desrespeitado, maculado eh difícil de esquecer.

O assédio na rua tem rosto? Tem uma classe ou um tipo que assedia mais? O alvo tem perfil de predileção? Quantos preconceitos culturais estão por trás desse comportamento?

Essa prática pode ser entendida como um deficit cultural [vide o depoimento do rapaz que estudou nos EUA].
Mas pensando em termos daqui mesmo: eu negra, não consigo sair de minissaia na rua, mesmo com o marido, sem ouvir absurdos que não são nem publicáveis aqui. Ainda assim vejo garotas magras e brancas andando de minissaia indo pra um cinema nos Jardins sem ser incomodadas? Porque essa diferença? Será que o estereótipo da escrava-objeto ainda por aí na cabeça dos marmanjos? Ou será que toda a moça afrodescendente tem que viver de fio dental de strass e rebolando porque é o papel dela na sociedade brasileira?

Não quero dizer que mulheres de todos os perfis não sofram assédio de algum tipo, mas percebi que diante de alguns estereótipos a liberdade que os caras se dão, de fazer comentários e irem abaixo da linha do vulgar, é maior.

Enfim, é uma dúvida que quero expor para recolher novas perspectivas e pensar sobre...

Alexandra Peixoto disse...

Faço o meu blog, o Boca no Trombone, há 5 anos, e vc, Lola, foi a primeira a reclamar de um texto reproduzido na íntegra. Se a sua preocupação é que o tráfego do seu blog diminua ou que falte algum comentário essencial, digo-lhe: pra mim o importante mesmo é que a informação circule, horizontal, sem ficar numa competição por números. Me deu um mega bode ver seu comentário, mesmo que no seu próprio texto, excelente, por sinal. Acho que a rede é muito mais que isso, mas enfim... prefiro publicar então de quem não tem esse tipo de preocupação. Nunca deixei de citar a fonte e inclusive faço uma baita propaganda do seu blog sempre. Esse tipo de pedido seu foi pra mim uma estranha surpresa, em 5 anos de blogosfera ativista.

Alexandra Peixoto disse...

Sinceramente, não vou perder meu tempo com esse assunto, medindo o que é fácil ou não fazer. Se vc acha que é facil fazer um blog como o meu, direito seu pensar assim. Da minha parte continuarei a fazê-lo, pois tenho tb leitores fiéis embora não fique preocupada com o tráfego de pessoas no blog. O objetivo é exclusivamente amplificar e compartilhar textos bons. Se vc acha que eu tiro tráfego do seu blog ou impeço as pessoas de comentarem, acho que está com uma idéia bastante equivocada sobre o uso da internet como forma de ampliar e estimular o conhecimento livre. Se acha que eu diminuo os comentários do seu texto, poderia ver que nenhum comentário foi feito aqui. Sempre que que alguém comenta qq texto eu sugiro ir à fonte, ao autor/a pra que sim, o leitor/a possa dar seus pitacos. Acho desnecessário esse tipo de querela, estamos aqui para somar, não para dividir. Da minha parte, a admiração que tinha por vc se foi. Sou leitora do seu blog, embora não fique comentando, pois não tenho tempo. Mas esse tipo de atitude não me interessa e só publico os textos de pessoas que admiro. Eu como não vou mudar uma linha editorial do que publico, então vc pode escolher. Ter meu blog como um compartilhador de conteúdo, o que seria um prazer, visto que admiro sua escrita ou realmente eu nunca mais publicar nada seu, o que seria uma pena. Blogueiros do Brasil inteiro estão nas páginas do meu blog, e como já disse antes, seu pedido inusitado é inédito. Continuarei no meu trabalho de formiga, mesmo vc ou qq pessoa achando que fazer o Boca é tarefa fácil. Antes fosse...

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Anônimo disse...

Esse é o primeiro post que leio no seu blog e é um assunto que me (des)agrada bastante. Até outro dia comentei com uma amiga na academia como alguns homens adoram se exibir e se mostrarem superiores (no caso um "bombado parou em frente ao espelho, do lado dela e dizia em alto e bom tom aos "amigos" 'só faltam 1.500 abdominais.') e cada vez mais me impressiona do que são capazes alguns homens por aí: tratar mulheres como objetos sexuais, que só vieram ao mundo para satisfazer aos homens. Mas, sinceramente, sinto dó desses homens, nunca terão o prazer de ter uma companheira ao seu lado, onde podem viver como se fossem um só, em perfeita harmonia!

Anônimo disse...

Gostei do texto, muito bom. Principalmente da parte: "não dá pra criminalizar as grosserias, mas dá pra torná-las socialmente inaceitáveis."

Anônimo disse...

Caramba! Tentar justificar uma coisa dessas não dá! Talvez eu seja uma exceção no mundo masculino (há outras exceções também, acreditem), mas sempre tive o mais completo nojo ao ver essas grosserias. Quem sabe seja esse o motivo de eu ter conhecido minha esposa no trabalho, e termos começado a namorar simplesmente sendo quem éramos, sem ninguém tentar dominar ninguém... Infelizmente, em nossa sociedade a mulher ainda está abaixo de muitos objetos - quantos homens não fazem as piores baixarias com as mulheres na rua e admiram boquiabertos qualquer carrão que passar? É uma vergonha o que nossa sociedade faz com as mulheres. Espero poder ajudar, ainda que um pouquinho, a mudar essa situação.

Leticia disse...

Pra mim esse é um assunto de suma importância! Isso incomoda as mulheres desde antes da puberdade. Já passei um perrengue feio por causa disso. Uma vez, eu tinha uns 12 anos e passou um caminhão, e o motorista fez aquele barulho de chupada pra mim. Eu que sempre fui mto atrevida, mandei ele ir se fuder. Ele parou o caminhão e disse: eu vou me fuder é com vc. Eu saí desesperada e entrei em uma padaria. Graças a Deus, a dona da padaria tinha visto tudo e o nojentão nem se animou a continuar atrás de mim. Pura sorte...

Uma coisa q eu queria dizer para os homens que estão se fazendo de "confusos" e querendo dicas de como "abordar as mulheres na rua" (já mostrando q eles nem pensam em abandonar esse hábito desrespeitoso), é q eles façam um exercício de imaginação. Imaginem um homem de 2,20 de altura, 150 Kg, halterofilista, (ou seja claramente superior a vc em força física) passando a mão na sua bunda e dizendo "Q delícia, comeria esse seu cuzinho fácil". Isso em um local isolado e ermo. Como vcs se sentiriam? Com a auto estima lá em cima, afinal de contas, seu corpo é desejado, considerado uma delícia... Ou vcs se sentiriam intimidados, indefesos, em risco, humilhados? Pensem nisso.

Robson Fernando de Souza disse...

Melhor pergunta do que a de Alessando R.C., impossível:

Sou homem e gostaria de saber porque as mulheres não me cantam na rua.

Também tenho esse questionamento. Por que a coisa da cantada, da paquera, é unilateral? Por que apenas homens se investem na conquista delas, raramente o contrário?

E eu vou dizer: até recentemente tive o costume de tentar conhecer mulheres em ônibus. Perguntar alguma coisa plausível e, se ela fosse bem receptiva, animada, perguntasse algo de volta, construir mutuamente a conversa. Mas nada de grosserias, cantadas, insinuações ou algo mais desse tipo, porque as respeito de verdade.

Mas só deu certo, resultando numa quase-paquera, uma única vez.

Descendo mais o nível, dois anos atrás tive uma fase de elogiador. Alguma moça gatinha do meu lado, lá na UFPE, eu já ia elogiando sua beleza, sem malícia. Agradeciam timidamente e só. Depois aprendi (por bem, felizmente) que chegar e elogiar a beleza não é uma forma boa de conseguir a atenção positiva delas.

Em relação à questão do ônibus, não me considero hoje arrependido, porque nunca fui grosseiro, cantador, galanteador nessas ocasiões. Mas, por ser tão pouco eficaz, acabei não me investindo mais nisso.

Lola, se você tiver objeções a eu ter sido um conversador de ônibus, diga, diga mesmo.

Abi Agnes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Abi Agnes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fabiana Lopes disse...

Lola
é o segundo texto seu que leio e o segundo que gosto muito.

Seria muito bom se os homens que chegam até aqui (o que já é alguma coisa...) saíssem da defensiva e exercitassem a empatia, como você já recomendou.

Houve uma época em que eu andava muito sozinha, fosse para ir a faculdade (à noite), fosse para ir ao trabalho, ao mercado, ou a padaria. Eu não tinha carro, então andava muito a pé. Lembro que era tanto homem me assediando na rua, das piores formas que se pode imaginar, que comecei a ficar DEPRIMIDA e a não querer mais sair de casa. E eu nem podia me dar a esse luxo, por uma questão de sobrevivência.

Então, a minha vávula de escape foi o "surto". Eu pensei comigo, 'não quero saber, posso levar um tiro na testa, posso ser espancada, posso morrer, mas eu não posso mais com isso passivamente'. Eu não aguentava mais, tinha chegado ao meu limite, me sentia degradada, sem nenhuma dignidade. Então, a todo cara que passava perto de mim e soltava alguma, eu respondia a altura. Se um me dizia que eu era gostosa, eu respondia que a mãe dele era mais, eu mandava tomar no cu, mandava ir se foder. Eu sabia que eu corria risco com isso, e talvez nem valesse a pena. Mas porque eu sou mulher, eu tenho que levar desaforo pra casa? Eu tenho que abaixar a cabeça? Eu tenho que gostar? Não, eu não tenho. Pra algumas pessoas, a dignidade é mais importante que a própria vida. Eu sou uma dessas pessoas. Eu prefiro morrer do que viver sem dignidade. E, por ela, sempre estarei disposta a correr todo e qualquer risco.

Parabéns pelo blog! Força!

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