terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

GUEST POST: CAROL, UM FILME MARCANTE

Recentemente, num convite para você participar do bolão do Oscar, eu disse que achei Carol ótimo, mas que não havia entendido o hype, e pedi para quem ama o filme para que escrevesse sobre ele. 
Helen Pinho se prontificou (aqui, o trailer legendado):
Fui ver o filme e amei, então preenchi todos os requisitos da Lola (rsrsrs) para escrever sobre ele. Nunca fiz isso, gente, é importante frisar, mas vamos lá.
Carol se passa em Nova York na década de 50 e conta a história do romance entre Carol Aird (Cate Blanchett) e Therese Belivet (Rooney Mara). É um romance, um filme feminista e uma história com protagonistas lésbicas.
Apesar da sinopse parecer “somente mais um filme sobre homossexualidade”, não deixe se enganar: é mais. Primeiro que deveria ser considerado um ótimo romance para qualquer um (se a sua homofobia não interferir). É um filme protagonizado por mulheres, personagens bem construídas, com várias facetas, tipo gente de verdade, e que não está ali apenas para embelezar a tela (então curta, se o teu machismo permitir). Para finalizar, é lésbico -- e sabemos do silenciamento das irmãs lésbicas tanto no movimento LGBT como, infelizmente, também no feminismo.
As protagonistas são brancas, lindas, magras e mesmo com o pequeno desvio que a idade de Cate Blanchett já pode causar em nossa sociedade obcecada pela juventude, elas estão sim dentro do “padrão de beleza”; portanto, esse é um ponto que pode ser problematizado. Falta representatividade, sobra atitude. É importante ressaltar que elas não são bibelôs e não estão ali para provocar prazer em marmanjo que tem fetiche por lésbicas.
Tenho tendência a gostar dos detalhes, talvez por isso também o meu amor por Carol (o filme, mas poderia ser pela personagem). O romance tem um tempo diferente, compassado, com silêncios, com cores. 
Nesse texto a autora diz que a paleta de cores parece ser uma personagem. Não vejo definição melhor, e diria que a trilha sonora não fica longe dessa definição. Em vários momentos é ela que sussurra a paixão pelo ar.
Uma das minhas sequências favoritas é quando Carol e Therese estão no carro, indo para a casa de Carol pela primeira vez. A conversa entre elas está em segundo plano, a trilha sonora é que domina a cena. É como se estivéssemos na cabeça de Therese, inebriada por essa repentina e surpreendente paixão.
Claro que nem tudo são cores lindas e trilhas sonoras, há o conflito, Therese é comprometida e não se identifica como lésbica, mas qual é o espaço real para esses questionamentos? A heterossexualidade normatizada e a homofobia eram, e ainda são, a receita perfeita para sexualidade compulsória.
Já Carol está em processo de divórcio e é mãe de uma pequena menina. Os embates entre ela e o ex-marido são importantíssimos, já que mostram uma mulher que não segue o comportamento esperado pela sociedade, não só por se relacionar com mulheres, mas por não ter uma postura subalterna e submissa. Ela se impõe e se responsabiliza por suas decisões. 
Essa auto responsabilização é outro ponto importante: mesmo quando Carol poderia colocar a culpa em uma amiga ou uma amante, e gerar aquela cena de “mulheres se odeiam”, ela toma a responsabilidade por seu casamento para si, suas decisões, seus erros e acertos, e isso é um ensinamento para a vida de todxs nós.
Nesse ponto o filme me trouxe também um paralelo com As Sufragistas: homens usando os filhos para tentar controlar a vida das mulheres. Fica claro que esse comportamento não tem absolutamente nenhuma relação com o bem estar das crianças, como no caso de Sufragistas, em que o pai (spoiler!) impede a mãe de cuidar do filho para colocá-lo para adoção. Apesar de serem filmes de época, ficamos pensando se as mudanças das últimas décadas foram significativas mesmo. Será que os homens deixaram de usar a paternidade como meio de controle?
Voltando às flores, Cate Blanchett foi merecidamente ovacionada por sua atuação, mas fiquei apaixonada pela atuação de Rooney. Amei a personagem e o seu crescimento no filme, uma coadjuvante com ares de protagonista, que não briga por brilho, apenas divide a tela de igual pra igual. É um belo filme.

15 comentários:

Anônimo disse...

Filme bom, porém Brockeback PISA

Vitor Ferreira disse...

Só um adendo, Therese É a protagonista. Ela que é a "heroína" da história, que passa pela metamorfose. Carol é a antagonista.

lola aronovich disse...

Vitor querido, há várias maneiras de se definir quem é o protagonista de uma história. Eu diria que as duas são protagonistas (apesar do nome do filme levar o nome só de uma, Carol). Por isso a dificuldade das premiações em como indicá-las. No Oscar, Cate foi indicada como atriz principal, e Mara, como coadjuvante. No Globo de Ouro, se não me engano, ambas entraram como principais (o que de cara anula as chances de ambas). Acho injusto colocar a Mara como coadjuvante. E também acharia se a Cate fosse vista como coadjuvante!
E pra ser definida como antagonista, bom, aí Carol precisaria de mais "antagonismo" em relação à protagonista. Que não vejo.
Mas enfim, não é sobre isso que quero falar, Vitor. Eu tentei colocar uma enquete sobre o Oscar aqui no blog, e não consegui. Vc sabe se mudou alguma coisa no blogspot, Vitor? Eu faço a enquete e tal, mas na hora de clicar em "salvar", não consigo. Help! Eu gostaria de colocar umas enquetes aqui.

Fernanda disse...

Achei o filme muito bom, em técnica ele é lindo, mas o que se destaca é a atuação de Rooney e Cate. Justamente pela falta de diálogos, o peso que cada olhar e toque entre elas carrega foi extremamente bem feito e convincente. Não tem como não torcer pelo casal e perceber a química entre elas. Mas sim, aos olhos menos atentos ou com menos identificação, o filme "não tem nada demais" (e se a gente for ver quantos romances hetero sonolentos ganharam status de clássico não parece tão destoante assim).

Jac disse...

É um filme bom, mas não é um filme marcante. Ele segue muito o roteiro básico de filmes lésbicos e só foge em alguns detalhes (Carol ter uma ex, Carol abrir mãe da materninadade presencial).

Vitor Ferreira disse...

Lola, para estrutura de roteiro (3 atos, 2 plot-points, "jornada do herói", arco da personagem, etc.) Rooney é a protagonista, o ponto de vista da história e a que sofre a transformação, e a Cate, a antagonista - normalmente a segunda personagem mais importante da história. Mas ambas são principais. Das indicadas, nem Rooney e nem Alicia Vikander são coadjuvantes.

Não sei sobre a enquete, nunca fiz antes. Vou tentar no meu blog pra te dizer.

Anônimo disse...

A maior dificuldade que a Academia teve, no tocante às indicadas ao prêmio de melhor atriz principal, foi com a Rooney Mara e Alicia Vikander. Um site de apostas e críticos especializados chegou a afirmar que Rooney seria encaixada na categoria principal justamente por esse forte protagonismo, mas o Oscar acabou seguindo o Screen Actors Guild e a indicando na categoria coadjuvante. No caso da Cate Blanchett, não houve dúvida. Acho que, tendo em vista o status que ela tem, inclusive recém premiada, nem cogitaram trocá-la de principal pra coadjuvante e deixar a Rooney como principal.

Sobre a Alicia, em Garota Dinamarquesa ela é a principal, assim como em Ex Machina. Mas, assim como a Rooney, também a encaixaram na categoria coadjuvante. A dúvida foi quanto ao filme pelo qual ela seria indicada, se Danish Girl ou Ex Machina. Uns dizem que ela merecia mais por Ex Machina. Até chegaram a cogita-la nas duas categorias: principal com Ex Machina e coadjuvante com Danish.

Anônimo disse...

Droga gente, eu quero ver mimimi.
Vcs pararam.

Vitor Ferreira disse...

Lola, tentei no meu blog e tambem nao consegui. Acho que deve estar com algum problema no blogger. O jeito é aguardar e ver se eles resolvem.

As colocações dos papéis nas categorias normalmente depende da campanha de marketing. A única premiação que ignora isso é o Globo de Ouro. Eles mesmos escolhem em qual categoria indicar. As campanhas levam em consideração qual categoria o papel tem mais chance de ganhar o prêmio, ou ao menos uma indicação. Alicia e Rooney perigavam nem ser indicadas na categoria principal, enquanto na de coadjuvante, são as duas favoritas. Isso já aconteceu diversas vezes, tanto de atores serem indicados em categorias diferentes pelo mesmo papel, quanto serem só indicados na categoria errada, como Jennifer Connelly, Leonardo DiCaprio, Julianne Moore, etc.

No meu ponto de vista, Alicia está melhor em Ex-Machina, mas como roteirista de formação, a classifico como coadjuvante lá. O principal é o loiro cientista. Ela poderia ter tido as duas indicações, pelas categorias corretas. Não seria injusto.

Anônimo disse...

"e sabemos do silenciamento das irmãs lésbicas tanto no movimento LGBT como, infelizmente, também no feminismo."

Cite exemplos desse silenciamento no movimento LGBT e no feminismo.

Anônimo disse...

"A vida é curta, tudo é permitido, não existem regras."


Anônimo disse...

Só eu que não entendo esse hype todo por causa de Ex-machina? Gente dizendo que é um dos melhores filmes do ano mas eu assisti e juro que não vi nada demais ali, e olha que adoro ficção científica

Anônimo disse...

/\ Troll querendo views pro canal "hue liberal". Se eu fosse deletava Lola. Incrível como tem retardados na UFS

Anônimo disse...

O amor entre duas mulheres e a forma mais emponderadora e revolucionária para nós na sociedade machista.

Anônimo disse...

Esse filme é tão marcante que a caixa de comentários bombou