segunda-feira, 21 de maio de 2018

AS UNIVERSITÁRIAS CHILENAS COMEÇARAM UMA REVOLUÇÃO

O Chile está em marcha, devido a mobilizações feministas lideradas por universitárias em todo o país. 
Quem me contou foi um casal que mora em Blumenau: "Esse é um momento histórico para as mulheres chilenas, com impactos positivos para a sociedade, pois abriu um canal para o diálogo que antes não existia. Foi com a Alessandra, minha companheira e autora desse texto, que descobri o feminismo. Ela acompanha teu blog faz anos e foi através dela que conheci teu trabalho. Queremos te agradecer por todos os teus posts que inspiram a muitas mulheres (e homens) a lutar por uma sociedade menos machista e mais consciente. Te adoramos!"
Ahhh! Acompanhe o belo post de Ale Boos (doutora em Paleontologia e professora em Gaspar) e Mario Quiñones (designer com mestrado em animação, e chileno). E vamos seguir o exemplo das nossas vizinhas!
“Moça! O quê você faz com esse decote? Você veio para uma prova oral ou gostaria de ser ordenhada?” 
“Devemos exigir ainda mais das mulheres feias, porque as lindas mesmo sendo burras, encontram marido… Ao contrário, uma mulher feia e burra não tem quem aguente!”
“Moça, me faça um favor: pegue os 4 milhões de pesos (20 mil reais) que custam o seu curso e vá para o shopping!”
“Quando um homem olha uma mulher e sente vontade de estuprá-la, não é mais que uma desordem nas suas inclinações naturais”.
Esses são alguns exemplos de frases misóginas escutadas por estudantes universitárias chilenas todos os dias e ditas pelos seus professores em sala de aula. As frases foram reunidas em uma carta assinada por 127 alunas da Faculdade de Direito da Universidad Católica na capital Santiago. O número de alunas apoiando a carta segue crescendo. 
Apesar de ser um país não muito distante do Brasil, sabemos pouco sobre o Chile. Talvez algumas e alguns de nós se lembrem dele pelos bons vinhos, pelo futebol, pelo deserto do Atacama e como “o país mais desenvolvido da América do Sul”. 
Mas o Chile, assim como outros países do nosso continente, possui problemas como a desigualdade social, o genocídio dos povos indígenas, a corrupção e claro, o machismo. Nesse último quesito, somente ano passado foi aprovada uma lei que permite às chilenas direito ao aborto seguro nos casos de estupro, risco de morte da mãe ou quando o embrião/ feto possua alguma má formação congênita ou genética letal. Sim, antes disso, o Chile fazia parte da “seleta” lista de nações em que o aborto é proibido em qualquer situação! 
Aprovada e colocada em vigor a lei, havia a sensação de se caminhar rumo à conquista de mais direitos para as mulheres, maior respeito e igualdade entre os gêneros. Mas nas últimas semanas vieram à tona vários casos de machismo no ambiente universitário e as chilenas se uniram, foram às ruas, ocuparam suas faculdades e conseguiram uma grande vitória: um projeto de lei específico contra o assédio sexual no mundo acadêmico!
Tudo começou na Universidad Austral (em Valdivia, no sul do Chile) no dia 17 de abril, onde as estudantes ocuparam a Faculdade de Filosofia e Humanidades em protesto às denúncias de abuso sexual e violência de gênero dentro da instituição. Logo depois, no dia 27 de abril, foi a vez de ocupar a Faculdade de Direito da Universidad de Chile (a universidade pública mais antiga e de maior prestígio do país). 
Nessa universidade, o professor de Direito administrativo e ex-presidente do Tribunal Constitucional (equivalente ao STF do Brasil), Carlos Carmona, foi denunciado por assédio moral e sexual por sua ex-assistente e estudante do quinto ano, Sofía Brito. Ela resolveu levar a público a sua história em um programa de rádio feminista apresentado pela comediante e atriz Natalia Valdebenito. Segundo Sofía: “a importância que esse professor tem no mundo do Direito e da política faz com que seja muito difícil que acreditem em uma simples estudante”. Os trechos a seguir também foram retirados dessa entrevista:  
“A primeira vez que eu me senti incomodada por Carmona, falei pra ele que havia limites corporais, mas ele começou a manipular a situação dizendo que não podia trabalhar comigo se era eu quem colocava os limites, que ele precisava me conhecer em todas as esferas da minha vida”. Após a denúncia, “muita gente começou a me questionar e a situação ficou conhecida dentro da universidade”. A jovem falou que muitas vezes pensou em abandonar o curso depois da denúncia, pois era a primeira vez que tinha problemas com um professor, mesmo tendo previamente trabalhado com muitos outros. 
A situação mais grave de assédio aconteceu bem no meio das tramitações para a aprovação da lei do aborto durante o ano passado. Naquele momento, Sofía preferiu calar-se para não comprometer a decisão judicial final do ex-presidente do Tribunal Constitucional, que era seu chefe e seu abusador. Após as denúncias formais dela à universidade, Carmona foi apenas afastado por três meses das suas atividades na instituição. 
O que aconteceu com Sofía foi a gota da água... Na opinião das estudantes, a punição recebida pelo professor foi muito branda e demonstrou como as políticas institucionais para combater o assédio sexual nas universidades são falhas. O episódio gerou uma catarse coletiva nas estudantes universitárias em nível nacional, que começaram a reconhecer o forte machismo dentro da sala de aula, o que gerou a carta que comentamos no início do texto, além dos protestos e ocupações. 
No nível administrativo, a desigualdade de gênero é ainda mais evidente no ambiente acadêmico. Recentemente circulou uma foto do Conselho de Reitores das Universidades Chilenas (CRUCH) e das máximas autoridades das 27 universidades públicas e particulares: nenhuma era mulher. 
São esses contrastes e injustiças de gênero que levaram a aumentar para 15 o número de universidades e para mais de 30 faculdades em greve ou ocupação até agora, por tempo indefinido. Inclusive, alunas do emblemático colégio feminino “Liceo Carmela Carvajal”  -- porque no Chile ainda existem escolas separadas para meninas e meninos 
"Nos tiraram tanto que nos tiraram
o medo", protestam chilenas
-- invadiram e ocuparam o Instituto Nacional (colégio masculino de maior destaque, equivalente a um instituto federal) para protestar contra o machismo e a violência de gênero depois de uma denúncia de assédio sexual contra uma assistente dentro do instituto.
Além disso, alunos desse mesmo colégio criaram um moletom de turma com os dizeres: “Quem dera ser bissetriz para te dividir em duas partes, e altura para passar pelo teu ORTOcentro" (orto em espanhol é cu em português).
Na última quarta-feira, 16 de maio, aconteceu a maior manifestação dos movimentos feministas já feita no país. Mais de 150 mil estudantes marcharam pela Alameda (principal avenida de Santiago), desde a Praça Itália até o Palácio do Governo. “A particularidade que essas mobilizações têm é que colocam no centro das prioridades demandas historicamente tratadas como secundárias, como é a educação não sexista, e a partir daí estamos insistindo junto ao movimento de estudantes para que entendam que a transformação radical do modelo de educação não vai acontecer se não incorporarem essas perspectivas (de gênero), que são também parte de uma luta maior. A gente fala de uma ruptura cultural” disse Emilia Schneider, porta-voz da ocupação da Faculdade de Direito da Universidad de Chile. 
Algumas das demandas mais concretas do movimento são a capacitação dos professores, alunos e funcionários em temas como feminismo e igualdade de gênero, além de modificações nos programas de ensino para incluir uma maior quantidade de mulheres no corpo docente e de autoras nas bibliografias exigidas pelas universidades.
O feminismo chegou para abrir mentes e desconstruir uma sociedade criada e dominada pelo machismo e patriarcado. É hora de mudar paradigmas, de lutar ainda mais contra o conservadorismo, de censurar os homens que gostam de censurar, como o ex-candidato à presidência do Chile Tomás Jocelyn Holt, que se declara “liberal” e no Twitter fez comparações entre os seios das manifestantes chilenas e os da mulher do famoso quadro da revolução francesa de Delacroix: “o tamanho da revolução se mede pelo tamanho dos seios das suas musas”. 
Holt é mais um exemplo do trabalho gigante que significa mudar o sistema, mas ao menos nas duas últimas semanas, o feminismo é tema de conversa obrigatório na sociedade chilena, nos meios de comunicação impressos e nos diferentes programas de TV. 
Chegou a hora de falar, de denunciar e de mobilizar as instituições de ensino superior para que finalmente lutem pela igualdade de direitos, por uma maior justiça e por tolerância zero ao machismo e à violência de gênero. Por um presente e futuro melhores para as mulheres chilenas e de todo o mundo!

8 comentários:

Felipe Roberto Martins disse...

Combina com a música abaixo...:

Ouça https://www.youtube.com/watch?v=8Ikk4UE0Vbk

"Dentro de Cada Um" por Elza Soares
Letra de Pedro Loureiro e Luciano Mello

A mulher de dentro de cada um não quer mais silêncio
A mulher de dentro de mim cansou de pretexto
A mulher de dentro de casa fugiu do seu texto
E vai sair
de dentro de cada um
A mulher vai sair
E vai sair
de dentro de quem for
A mulher é você
de dentro da cara a tapa de quem já levou porrada na vida
de dentro da mala do cara que te esquartejou te encheu de ferida
daquela menina acuada que tanto sofreu e morreu sem guarida
daquele menino magoado que não alcançou a porta da saída
E vai sair
de dentro de cada um
A mulher vai sair
E vai sair
de dentro de quem for
A mulher é você
A mulher de dentro de cada um não quer mais incenso
A mulher de dentro de mim já cansou desse tempo
A mulher de dentro da jaula prendeu seu carrasco
E vai sair
de dentro de cada um
A mulher vai sair
E vai sair
de dentro de quem for
A mulher é você
de dentro do carro do moço que te maltratou e pensou que era fácil
de dentro da ala das loucas vendendo saúde a troco de nada
daquela mocinha suada que vendeu o corpo pra ter outra chance
daquele mocinho matado jogado num canto por ser diferente
E vai sair
de dentro de cada um
A mulher vai sair
E vai sair
de dentro de quem for
A mulher é você
Sou eu
A mulher
Sou eu
Sou eu
A mulher
Sou eu

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Ilu Obá de Mim – Percussões
Rafa Barreto – Guitarras
Zé Nigro – Baixo e Bass Synth
Arranjo de base: Ilu Obá de Mim, Zé Nigro, Rafa Barreto e Kastrup
Arranjo de percussão: Ilu Obá de Min (regência Beth Beli)

Anônimo disse...

O Chile tem muitas qualidades, mas ainda é um país muito conservador, boa sorte para elas.

Anônimo disse...

Eu acho que todos os protestos as mulheres deveriam colocar os seios para fora, como na foto da estátua.

Isso mostra o empoderamento!

lola aronovich disse...

Eu acho que só virjão fica olhando fixo pra seios, como se nunca tivesse visto um (ou dois).

Anônimo disse...

Esses virjões nunca tiveram mãe? Não mamaram nos seios da mãe na primeira infância? Não dá pra entender porque agem feito retardados afixionados, como se nunca tivessem visto antes...

Anônimo disse...

Hahahahah hahahahah!!!! Muito boa kkkkkk!!!! Mandou bem, Lola!!

Anônimo disse...

Vida de incel não é nada fácil!

Anônimo disse...

Sinto muito, mas a última foto das mulheres com roupa de freira parece aquelas fantasias de carnaval ou hallowen para adultos. Sou feminista mas acho que quanto mais essa exposição desnecessária pior fica a nossa imagem. E sou contra todos tipos de peitos para fora, seja rainha de carnaval ou estudante usuária de maconha.